sábado, setembro 02, 2006

Válvula de escape

Ontem eu troquei uma idéia com o Fábio e ele me dizia como às vezes dá vontade de fugir desse mundo corporativo filho da puta que se alimenta do sangue de bilhões de miseráveis.

Depois meu pai falou que não vai votar, não por protesto, mas por saber que o buraco é mais embaixo.

Em seguida, eu me lembrei daquela história que o Marx dizia: o capitalismo carrega consigo o germe da sua própria destruição.

Parece que o Marx não tinha como prever o alcance da perversão do capitalismo, que se aperfeiçoou e passou a se alimentar daquilo que, anteriormente, poderia destruí-lo.

O capitalismo não combate mais as resistências. Ele aprendeu a transformá-las em mercadoria para colocá-las à venda numa vitrine de shopping center. Em suma, ele suborna os adversários, mais ou menos como já ocorria, continua e vai continuar ocorrendo pra sempre lá no Congresso Nacional, aconteça o que acontecer.

Foucault, ao perceber que não dá pra sair desse esquema de dominação que ele chamou de dispositivo, que nos cerca o tempo todo, disse que nós precisamos, ao menos, tentar viver com um pé fora.

Eu estou tentando viver com a minha mão gauche pra fora do mundo. Esta é a minha janela. Espero que todos procurem manter alguma fresta aberta.

sexta-feira, setembro 01, 2006

Para perguntas imbecis...

Ontem eu saí correndo de casa pra encontrar a Vivi no cinema. Fazia tempo que nós queríamos ver o Pai e filho, do Sokúrov. Quando eu cheguei perto da estação Clínicas, em frente ao Instituto da Criança, vi uma cena engraçada. Uma mulher que passava de carro, parou no meio da rua e, ao ver um sujeito todo encapotado apoiado numa placa de proibido estacionar, com uma ressalva bem legível: "Somente ambulâncias", deu marcha à ré e perguntou:

- Pode deixar o carro aqui, moço?

Eu gostei da resposta. Ele disse:

- Até ser multado.

Cada um que tire as suas próprias conclusões, mas eu ri ao me lembrar daquelas "respostas cretinas para perguntas imbecis" que tinham na revista Mad.

Veneza revisitada

Segue abaixo uma preciosa dica de leitura, por Viviane Pepice que, por acaso, também vem a ser a mulher da minha vida:

Sou aquele tipo de pessoa que faz listas até para ir ao supermercado. E sinto um prazer inconfessável em ir “ticando” as tarefas já cumpridas das minhas inesgotáveis listas. E, o fato de desrespeitá-las, ocasionalmente, não é um motivo para deixar de fazê-las. Muito pelo contrário: faço pequenos atalhos e desvios e anexos das minhas próprias listas. Novas listas dentro de listas, embutidas em velhas listas. É quase metalingüístico.

Recentemente, um pouco incomodada com certas lacunas literárias em minha formação, resolvi fazer uma lista dos próximos vinte e um livros que pretendia ler. O que havia em comum entre aqueles vinte e um títulos era o fato de terem sido escritos por grandes escritores dos quais eu não havia lido nada, ou quase nada. Somente assim para unirmos James Joyce, Flaubert, Tolstoi e Faulkner em cinqüenta centímetros quadrados sem muitas baixas, mortos ou feridos.

Depois de “Avalovara”, de Osman Lins e “Dom Quixote”, de Cervantes, o terceiro título da lista era “As cidades invisíveis”, de Italo Calvino. E eis aqui, já no terceiro parágrafo deste ensaio despretensioso, o verdadeiro assunto sobre o qual quero falar.

“As cidades invisíveis” é um livro mais conhecido do que propriamente lido, entre literatos e simpatizantes. Eu já tinha ouvido centenas de referências a este livro, que por outras centenas de vezes passou pelas minhas mãos em livrarias, bibliotecas e afins, sem que ao menos soubesse o seu assunto. Achava que falava sobre cidades. Sobre cidades invisíveis. Quando soube que o livro continha as descrições das cidades, relatadas por Marco Polo ao grande imperador dos tártaros Kublai Khan, confesso que fiquei ainda menos interessada. Puro preconceito.

Fui arrebatada por Calvino e li “As cidades invisíveis” em três dias. Para descobrir que o livro não fala sobre cidades. As cidades são apenas a senha para que se possa penetrar no sutil universo construído por Calvino. O livro fala sobre o homem e sua interminável viagem. O homem que avança com a cabeça voltada para trás, porque aquilo que procura está sempre diante de si e, ainda que se trate de um passado, é um passado que muda na medida em que se avança. Sim, o passado do viajante muda de acordo com o itinerário realizado. Viajamos para reviver nosso passado e reencontrar nosso futuro.

Das cinqüenta e cinco cidades descritas minuciosamente por Marco Polo, resta uma que este jamais menciona. Veneza, a cidade onde nasceu, suas origens. Porém, é inegável que Veneza está implícita na descrição de todas as demais cidades. Só não é mencionada porque as margens da memória, uma vez fixadas com palavras, cancelam-se. E Marco Polo receava perder Veneza.

Assim, Marco Polo avançava para não perder o ponto de partida, para não se perder de si mesmo, de quem se era há algum tempo atrás. E sua viagem, portanto, era uma viagem através da memória. As cidades de Calvino são um pretexto para se falar sobre os homens que nelas habitam e sobre os homens que as visitam. E sobre quão longe tais homens são capazes de ir para se desfazer de uma carga de nostalgia...

No mais, eu e minha lista literária vamos indo muito bem. Já finalizamos o terceiro título com apenas três desvios imprevistos. Se continuarmos nesta toada, iremos emplacar quarenta e dois! E agora, peço licença, pois Guimarães Rosa está me aguardando em meu quarto e parece estar com bastante pressa.

Viviane Pepice

quinta-feira, agosto 31, 2006

Estrangeiro


Pois é, meus caros. Meu grande amigo Thiago Iacocca, além de ser um escritor ducaralho, ainda dá seus tapinhas no photoshop. É, tem gente que joga em qualquer posição, que nem o meu outro grande amigo Xiletol. Se você puser o cara na defesa, no meio, no ataque e até no gol, ele faz miséria. É um filho da puta.

Esses dois são dois filhos das putas, com todo respeito à Valquíria e à dona Odete. Eis que o Thiago pegou uma foto de quando nós fomos pra Maceió, muitos fios de cabelo atrás (como vocês podem ver na foto) e fez esse logo pro meu singelo blog, inspirado no Estrangeiro, mais especificamente naquela passagem que ele tá na praia.

Aliás, quem não leu O Estrangeiro, vá se foder, antes que eu me esqueça. Corra ler esse puta livro do Camus, antes que alguma desgraça aconteça na sua vida e você acabe morrendo sem conhecer essa maravilha.

Pois é, aquela viagem a Maceió deixou saudades. Fomos para um encontro de estudantes de comunicação e ficamos na maior vida de burguês. Alugamos um carro, ficamos num hotelzinho bacana e só dávamos as caras na UFAL para curtir as festas.

Valeu pela homenagem, Thiago. Valeu mesmo. E ao meu amigo Butantã, que é o único que visita o meu blog diariamente, eu aconselho: visite o site Sem Ponto Final. Eu finalmente consegui enfiá-lo na minha lista de links. Como eu já disse anteriormente, sou péssimo no lide com máquinas a ponto de não saber trocar a hora do meu celular.

Analfabetismo digital

Eu sei que é muito feio, mas eu sou obrigado a dizer uma coisa. Vocês já andaram lendo os blogs que existem por aí? É de arrepiar os cabelos das partes mais íntimas de qualquer cidadão honesto. É feio falar mal dos outros, eu sei, minha mãe me deu educação. E quem tem telhado de vidro..., sim, aquela velha história. Mas eu não resisto.

Podem me chamar de ingênuo. É verdade o que a Vivi diz: não sou muito afeito a orcútis, outlúkis e nem a blogs. Sou, por assim dizer, um analfabeto cibernético, em todos os sentidos. É, porque, essa palavra é muito antiga. Platão já a utilizava para denominar a arte de governar os homens (provavelmente ele copiou isso de algum sofista distraído). Atualmente, a cibernética está mais ligada à arte de governar máquinas. Pois é. Sou um piloto completamente desgovernado.

O fato é que eu não estou acostumado a altas navegações na Internet. Eu entrava pra ler notícias, ver umas baixarias, essas coisas. Agora que eu inventei essa de escrever merdas aqui, comecei a procurar outros blogs, assim, por curiosidade.

Desculpem, mas eu não gostei muito do que vi. Pra falar a verdade, eu não entendi nada do que li. Eu até entendo quando as pessoas justificam aquela linguagem cifrada dos bate-papos, dizendo que é preciso ser rápido na comunicação. Então as pessoas dizem: vamu tc? Realmente, é muito complexo e demorado escrever: vamos teclar? Vamos teclar, em si, já me parece uma expressão suficientemente estranha, enfim...

Acontece que essa linguagem se repete nos blogs. Por quê?
Pelo menos quando eu estou escrevendo essas merdas que meia-dúzia lê, estou calmo e tranqüilo, sem pressa diante da tela do computador. Não preciso me comunicar (se é que se pode chamar essa linguagem cifrada de comunicação) com rapidez.

Calma, minha gente. Eu não sou nenhum parnasiano que pede altos respeitos ao vernáculo, como qualquer um pode atestar neste espaço. Mas tudo tem limite. Eu ouço muitos políticos falarem de inclusão digital, de ampliar o acesso à Internet, o que eu concordo. No entanto, que não se deixe de lado o bom e velho trabalho de alfabetização.

Todos comigo: "vovó viu a uva"; "Ivo viu a uva da vovó"; "Vamos teclar?" De novo: "Vamos teclar?" Eu teclo, tu teclas, ele tecla; nós teclamos, vós teclais, eles teclam.

Reflexões de um ser tautológico

Muitas vezes eu olho para a tela do computador como se estivesse diante de um espelho. Olho para aquele monte de letrinhas que não sei de onde copiei e penso que eu preciso fazer a barba.

Quando eu comecei a escrever minhas primeiras histórias, eu ainda pensava que eram minhas, e me esforçava para que nada parecesse cópia. Eu queria ser original.

Um dia meu pai anunciou: os sofistas já falaram sobre tudo, já refletiram sobre tudo, já tiveram todas as idéias possíveis. Eu ri, porque não podia aceitar tamanho golpe no meu ego de escritor - veja você, escritor!

Escrevinhadeiro com ego de escritor, de pensador, da merda que for.

Depois daquele dia eu comecei a ler e a reler as coisas que eu escrevia. E percebi que, durante o tempo todo, eu sempre falava a mesma coisa. Eu falava sobre a sensação de olhar para uma página, ou para uma tela, e parecer que eu estava diante de um espelho.

Agora eu olho para essas palavras e me pergunto: quantos autores, neste exato instante, eu estou plagiando? Sem contar que eu estou plagiando a mim mesmo. Neste exato instante, eu estou diante de um espelho, pensando que preciso fazer a barba e que logo um advogado vai bater à minha porta para exigir "os direitos autorais do meu cliente, o Fulano de Tal".

E eu vou olhar bem nos olhos do advogado e dizer: seu cliente sou eu, sua besta! Eu sou Fulano de Tal.

Por que acontece essa tremenda promiscuidade intelectual? Eu tenho uma teoria, que não é minha, mas da qual eu muito me orgulho:

Talvez porque todos queiram dizer e ninguém queira ouvir. Não ouvimos, portanto, dizemos o que já foi dito e redito e redito.

Talvez por isso eu sofra de insônia. Se assim for, diria a poliana moça, eu devo ficar feliz porque, acordado, não terei meus sonhos invadidos por nenhum político em campanha.

Amém.

quarta-feira, agosto 30, 2006

Interferência onírica

Época de campanha eleitoral é foda. Na noite passada, o Serra veio pedir votos dentro do meu sonho. Ele chegou, pegou crianças no colo, abraçou pessoas, jogou futebol com uns meninos, comeu caldo de mocotó com buchada de bode e foi embora.

Fiquei puto, porque eu já consultei alguns amigos advogados e todos foram unânimes: não há como denunciar o candidato tucano ao TRE por essa interferência onírica.

Agora eu só espero que essa moda não pegue, porque o estado de São Paulo tem uma porrada de candidatos a governador. É impressionante o que as pessoas não fazem por uns segundinhos de fama.

Acho que na próxima campanha eu vou me candidatar também, pelo PÔ - o Partido da Oposição. Depois eu publico as minhas propostas neste espaço. Mas vou logo avisando: não estou disposto a comer caldo de mocotó, buchada de bode e essas coisas que os políticos fazem para parecer que são do povo.

Insônia

É quase tarde o suficiente:
Se eu fosse músico, seria o momento de compor alguma coisa.
Se eu fosse poeta, seria o momento de exortar as musas do Olimpo
Ou as putas da Vila Olímpia.
Para um aspirante a escritor, é hora de ler um poema do Bukowski
No qual ele dá a fórmula:
Coma mulheres bonitas, beba mais e mais cerveja, aposte, escute Brahms e Bach;
Seja sedentário, durma até tarde...
Merda nenhuma neste mundo vale mais do que 50 mangos.
Merda nenhuma neste mundo vale mais do que 50 mangos.
Nem em 1977 e nem hoje.
E nem nunca.
"um gostinho de morte cedo não é necessariamente
uma coisa ruim".
É hora de parar de se acabar,
E de se alimentar de destruição.
E de esboçar, esboçar, esboçar,
O ensaio de uma reação.

terça-feira, agosto 29, 2006

Divórcio

O dia após uma festinha em casa é um pesadelo. Ter que arrumar tudo com aquela ressaca dos infernos, descobrir que vários daqueles filhos da puta bebem cerveja só até o meio da latinha e depois já pegam outra. Ainda por cima, eles utilizam as latinhas como cinzeiro. Pra que inventaram o cinzeiro tradicional se esses putos vão mergulhar suas bitucas em cerveja quente? Porque todo fumante tem um quê de filho da puta. E todo bêbado tem dois quês de filho da puta. Mas quem não bebe e nem fuma não tem nenhum quê que não seja de filho da puta.

No dia seguinte ao porre coletivo, o chão fica grudento, a cozinha em estado de calamidade pública e o banheiro ― o banheiro é a pior parte. Os caras já não devem ser bons de mira em condições normais e, quando bebem, mijam em qualquer lugar, menos na privada. Claro que também não podia faltar o toque artístico de algum sacana: quando fui dar uma geral no quarto, com medo de ainda encontrar algum copo, ou algum corpo debaixo da cama, deparei com uma camisinha grudada na cara do ursinho de pelúcia que a Priscila me deu uma vez de aniversário. Pode ter certeza que, sempre, algum puto vai arrastar alguma puta para o seu quarto.

Lá pelas quatro da tarde, eu interrompi a arrumação para comer um talharim com molho enlatado. Todas as vezes que eu resolvo usar o fogão, as janelas do apartamento embaçam, porque eu sempre esqueço tudo fechado, e também fica aquele cheiro de mofo, de ar que não circula.

Depois de mais umas duas horas esfregando o chão e varrendo pelos cantos, consegui deixar tudo mais ou menos limpo e no lugar. Para mim estava ótimo, e eu me dei de brinde um banho quase escaldante e bastante demorado.

― Cheguei, querida! ― gritou o Marcos lá da porta.
― Vai se foder, seu merda ― respondi com minha educação britânica.

Há alguns meses, o Marcos levou um sonoro pé na bunda da mulher com quem dividia um belo apartamento nos Jardins. Pediu-me, então, com os olhos cheios de lágrima e cerveja, que eu o alojasse temporariamente. Sem problemas, pensei. E entreguei na mesma hora uma cópia da chave ao eminente advogado.

De fato, eu não tinha do que reclamar. Eu vivia muito largado e estava muito na merda. Com o Marcos aqui, eu continuei na merda, mas eu abria a geladeira e havia iogurte batido e Schwepps Citrus, abria o armário da cozinha e havia batata Pringles, pistache e bolacha de chocolate. No banheiro, havia creme de barbear mentolado, flúor e pasta de dente importada. De vez em quando, o Marcos até trazia uma prostituta sobressalente.

Num domingo, estávamos na sala sem dizer nada, apenas curtindo a ressaca. A televisão estava ligada no jogo do Santos, mas não acontecia nada. De repente o Marcos me perguntou se eu ia continuar naquela vidinha de desempregado.

― É, cara. Você não conseguiu dar o golpe do baú na Priscila e agora está tentando dar o golpe em mim, no seu velho amigo? Porra, você não faz nada, não procura emprego e fica gastando o meu condicionador nesses fiapos que sobraram na sua cabeça. Na boa, velho. Desse jeito não dá para continuar. Eu já comecei a procurar uns apartamentos aí pra mim e acho que, enquanto não encontrar nada, vou ficar num flat.

Depois desse pedido de divórcio, o Marcos ficou meio desconcertado, porque eu não reagia. Eu não disse nada. Como eu não disse nada, ele começou a desfiar uma ladainha: que ele estava muito agradecido porque eu o havia acolhido e tal, e que ele dizia tudo aquilo para o meu bem, afinal, ele gostava de mim de verdade, sabia que eu tinha potencial e era triste ver um amigo naquela letargia do caralho. Para encerrar, pediu desculpas pela história do golpe do baú.

Na verdade, eu não sabia o que dizer. Eu sentia que o Marcos estava tenso, mas as palavras me faltavam. Procurei na minha mente algo para quebrar aquela tensão, algum discurso pronto que estivesse arquivado, e nada. Como não havia nada a dizer, sugeri que déssemos uma puta festa, mesmo sabendo que, no dia seguinte, eu teria que enfrentar um novo pesadelo.

Citado e convidado

Segue o comentário do meu irmão de escrevinhações Thiago Iacocca:


Primeiro gostaria de agradecer o bom pra caralho. Juro que foi a primeira vez que dei toda a atenção que essa expressão merece. Muito melhor do que ouvir um besta radialista dizer repetidas vezes que seu livro versa sobre a solidão urbana e nada mais (essa era a primeira frase do release que ele leu na hora). Melhor ainda foi brincar de psicólogo com os ouvintes da Jovem Pan. De qualquer maneira, valeu a experiência e a pizza que comemos depois estava boa. Hoje vou fazer propaganda do meu site e de meu livro, amanhã volto aqui para mostrar o que sei fazer de melhor, rasurar papéis com bobagens, como "bom" escrivinhadeiro, e postar um inútil pensamento por aqui. De quaquer forma acessem esse blog e nosso site www.sempontofinal.com.br e, se ainda assim acreditarem em nós, comprem Furta-cor. Não sabem o que significa? O Tomaz lhes ensina aí embaixo... Ou procurem num cazzo de um dicionário. Valeu, irmão.

Thiago Iacocca

segunda-feira, agosto 28, 2006

Paradoxo lingüístico

Quando eu trabalhei na Prodam, conheci o Toninho, um cara muito inteligente, viciado em poesia - especialmente Maiakóvski e Fernando Pessoa -, que tinha uma namorada de nome francês e um filho que adorava Power Rangers. Todos nós temos as nossa peculiaridades, e a do Toninho era que ele transpirava pelo nariz.

Um dia o Toninho me perguntou se eu sabia qual era a única palavra da língua portuguesa cujo plural não terminava em s. Como eu não fazia idéia, ele respondeu: qualquer, cujo plural é quaisquer.

Não deixa de ser um paradoxo lingüístico a palavra qualquer ser tão especial.

domingo, agosto 27, 2006

Meu primeiro "erramos" (fora os milhares de erros de português)

Contabilidade do primeiro dia: meu blog é um sucesso estrondoso, para não dizer estrepitoso. Doze pessoas já visitaram o meu perfil (valeu galera) e eu já recebi a primeira crítica construtiva. Foi da minha mulé. Ela leu o que eu escrevi sobre o livro Furta-cor, do Thiago Iacocca, e disparou: você não falou sobre o livro! Só falou que é bom pra caralho e tal. Não pode.

Não pode, muito menos para um jornalista. O jornalista tem sempre que dar opiniões sábias e construtivas, mesmo quando ele não sabe o significado da palavra furta-cor, como pareceu ser o caso do radialista da Jovem Pan. Porque ele disse algo como ficar tudo preto e branco, e nós supusemos que ele entendeu que furta-cor vem de furtar a cor.

Eu não tenho nada sábio e construtivo para dizer, além de que furta-cor não significa furtar a cor e, sim, que é algo que muda de cor de acordo com a luminosidade, ou o ângulo em que você olha. A paisagem furta-cor, como diz uma letra do Chico Buarque, seria aquela com uma cor que não é chapada, que muda dependendo do horário em que você contempla.

O livro do Thiago é como uma paisagem que reflete uma classe média-alta urbanizada, perdida e sem sonhos. Apresenta uma narrativa ao mesmo tempo veloz e difusa, com a qual o leitor deve tomar cuidado para não atropelar tudo e enxergar só uma cor chapada. É um livro que merece ser lido com cuidado, que permite um olhar vacilante, indeciso. Se lido com cuidado, causa um . Porque nós vivemos no meio de um tremendo social que, muitas vezes, nós da elite fechamos os olhos para não enxergar.

O Thiago que me desculpe se eu falei besteira, mas ninguém mandou publicar o livro. Agora a história pertence ao público.

Estou muito sóbrio

Os incrédulos não acreditam, mas o fato é que hoje faz seis meses que eu não verto uma única gota de álcool. Logo eu, que tinha cadeira cativa no Doca's. Antes que alguns bêbados enfurecidos da região de Perdizes queiram me pegar de porrada, é bom deixar claro que o Doca's não foi demolido por minha causa.

A melhor coisa de ter parado de beber foi que eu passei a sentir fome nos almoços de domingo. Antes eu estava sempre com o estômago embrulhado e, só de ver aquela mesa farta na casa da minha mãe, me dava uma sensação meio desagradável. É foda comer frango recheado com lingüiça nessas situações. Exige uma atuação quase heróica.

A pior coisa de não beber é que eu fico sóbrio o tempo todo. Até quando o Japonês me levou pra uma danceteria. É quase surreal ficar sóbrio num lugar desses. Eu sempre me senti meio deslocado em ambientes assim, mas antes eu enchia a cara e suportava qualquer situação. Não é fácil sobreviver à experiência de ficar quatro ou cinco horas preso dentro de uma casa noturna assim, de cara limpa.

A quadragésima terceira pessoa que perguntou por que eu parei de beber me disse: é foda, quando você não bebe você percebe o quanto quase todas as pessoas são chatas, quase todos os lugares são insuportáveis e como todas as conversas são desnecessárias. E me aconselhou: volte a beber imediatamente.

É, agora, no meio das baladas, eu digo: estou muito sóbrio. Pelo menos hoje é domingo. Espero que tenha frango com lingüiça no almoço.