sexta-feira, novembro 05, 2010

Typosquantin

Pois é, meu irmão Lino está sendo processado pela Folha de S. Paulo por ter criado o site Falha de S. Paulo, como eu já falei aqui. Segue com sua desobediência civil através do site desculpe a nossa fAlha, que vale a pena acompanhar. Todo dia eu dou uma espiadinha por lá. É impressionante como o Lino, entre uma troca de fralda e outra do meu sobrinho Raul, ainda consegue pensar em ideias muito criativas e bem-humoradas para continuar enchendo o saco da Folha. Isso aí, Lino. Isso aí, Mário. Dão neles.
Bão, a Folha, para não ser acusada de censora, está alegando uso indevido da marca e ainda tem a cara-de-pau de pedir uma indenização por danos morais, uma vez que algum imbecil completo, retardado mental, poderia digitar erroneamente fAlhadespaulo.com.br em lugar de fOlhadespaulo.com.br e pensar que o Otavinho gosta de se vestir de Darth Vader, que a Eliane Cantanhêde tem um alter ego chamado Josiane Tucanhêde que gosta de vestir seu modelito sadomasô nas cores azul e amarelo, e que a Folha de S. Paulo publicou manchetes do tipo: "Dilma criou a segunda-feira" (tá certo que eles chegaram perto disso).
Estaria, nesse caso, configurado o tal "typosquantin", um erro de digitação que pode alterar o sentido do que se pretendia escrever. Exemplo: o sujeito digita "pau" em vez de "pai" e acaba dizendo: "Manda um beijo pro seu pau". É, o typosquantin pode abalar a reputação de muita gente.
Para ocorrer o typosquantin, deve-se avaliar o posicionamento das letrinhas no teclado. Então, o exemplo que eu dei procede, porque as letras "i" e "u" são vizinhas. Mas, no caso do Falha de S. Paulo, isso dificilmente ocorreria, porque as letras "o" e "a" estão bem distantes no teclado. Seria o mesmo que achar que a pessoa poderia escrever "calo" por engano, quando queria, na verdade, escrever "caro". A menos que se trate do Cebolinha, ou que tenha algum tipo de dislexia, parece-me pouco provável. Portanto, não, não é caso de "typosquantin" digitar FAlha de S. Paulo em lugar de FOlha de S. Paulo.
Portanto, a alegação da Folha não procede e o que eles queriam mesmo era censurar o site Falha de S. Paulo. É, Otavinho não deve ter gostado muito de se ver na pele do vilão de "Guerra nas Estrelas" e, muito menos, deve ter gostado de ver sua imagem de "imparcial" e "independente" questionada de maneira tão criativa e plausível.
Sim, porque a Folha sempre investiu nessa imagem de ter o compromisso única e exclusivamente com o leitor (o que é uma piada, é claro) e agora vem um zé ninguém e diz o que no fundo todos sabemos: a Folha é tendenciosa! Oh!!!!!!!!!!!!! Jura?!?!?!?!?!?!?!?!? Talvez a velhinha de Taubaté ainda não soubesse. Talvez.
Infelizmente, nós já sabemos o final dessa história, porque, é claro, o nosso queridíssimo Judiciário TAMBÉM é tendencioso. Oh!!!!!!!!!!!!! Jura?!?!?!?!?!?!?!?!?!? E, digamos, o Judiciário, sinto informá-la, velhinha de Taubaté, tende para o lado de quem tem mais poder. Vejamos, então: quem tem mais poder? o maior jornal do Brasil ou o jornalista Lino Ito Bocchini e seu irmão, o web designer Mário Ito Bocchini? Posso pensar um pouco? Claro, fique à vontade.
É óbvio que, no final, a Folha vai ganhar a parada contra o Falha. Já podemos perceber isso pelos primeiros indícios, quando a Folha conseguiu a antecipação de tutela que obrigou o Lino e o Mário a tirarem do ar o site deles. Posteriormente, o Lino e o Mário tentaram derrubar a liminar e, adivinhem?, não conseguiram.
Sim, a Folha vai ganhar a queda de braço, mas daí a receber indenização por danos morais, há uma distância. Para uma empresa ganhar uma indenização por danos morais (palavras do Sr. Y, lembram dele? Pois é, ele é advogado e uma de suas especialidades é essa parte de direitos autorais) tem que ficar claramente configurado o prejuízo. E, diga-me: qual foi o prejuízo que a Folha sofreu nesse caso? Nenhum, absolutamente. Alguém pensou que o site Falha de S. Paulo era de fato a Folha de S. Paulo? Alguém deixou de comprar a Folha na banca, ou cancelou sua assinatura porque não gostou de ver o Otavinho vestido de Darth Vader? A credibilidade da Folha foi minimamente arranhada? Infelizmente não.
No fim da história, então, a Folha vai ganhar a parada porque o Judiciário vai aceitar a tese de que o Lino e o Mário usaram indevidamente a imagem do jornal. Mas o mesmo Judiciário (acredito eu, e a jurisprudência vai nesse sentido) não vai aceitar o pedido de indenização por danos morais. Lino e Mário, então, vão ter que prometer que nunca mais vão fazer isso, vão ter que pedir desculpas ao Otavinho e vão ter que arcar com as custas judiciais. Infelizmente, não precisamos ser videntes para adivinhar o que vai acontecer com as ações judiciais aqui no Brasil. Não precisamos sequer ser do ramo, como de fato eu não sou e posso ter falado uma pá de merda aqui. Mas eu acho que, daqui a uns dez anos, quando essa história terminar, o Raul não vai poder ganhar a bicicleta que queria de Natal, mas fique tranquilo, meu querido Raul, o tio Tomaz dá a bicicleta pra você, viu?
Só pra terminar com esse papo, ontem eu fui a um boteco ver a banda do Lucas tocar e, qual não foi a minha surpresa quando eu vi que, na mesa, lá estava um jogo americano com notícias impressas pelo jornal "Bolha de S. Paulo"? Isso mesmo, Bolha de S. Paulo, com uma diagramação muito parecida com a da Folha de S. Paulo. No lugar da data, porém, estava escrito: "sexta-feira, aqui sempre é sexta-feira". Fiquei preocupadíssimo, porque um bêbado desavisado pode pensar que está lendo a Folha de S. Paulo e não a Bolha de S. Paulo. Se isso acontecer, ele vai pensar que todo dia é sexta-feira, então ele vai largar o emprego e virar alcoólatra. Depois o cara pode querer processar o Otavinho pela confusão. Já pensou? Melhor os capangas da Folha aparecerem por lá e rápido. Eu só não vou dizer onde é porque o dono do bar é meu amigo, mas, Otavinho, se você me der uma ajudinha financeira (sabe, meu pobre pau, digo, pai, está doente) pode ser que eu abra o bico.

quinta-feira, novembro 04, 2010

Voto Behaviorista

Passada a eleição da Dilma, para continuarmos a falar de eleição, vieram as eleições legislativas nos Estados Unidos. Nada melhor que falar de política, futebol e da mulher dos outros. Falemos, então da política dos outros, sempre como desculpa para falar da nossa política.
Obama sofreu uma derrota acachapante, como dizem por aí. Principalmente na Câmara dos Deputados deles, que acho que eles chamam de Câmara de Representantes ou algo assim. No Senado, o governo ainda salvou uma leve maioria e serve de consolo que algumas figuras importantes do tal "Tea Party", um grupo de Republicanos ultra-conservadores, não conseguiram se eleger.
Pois é, seja aqui ou seja nos Estados Unidos, as pessoas sempre votam de acordo com a lógica pavloviana: na base do estímulo e da privação. Se os governos tentam moldar a sociedade, a sociedade também tenta moldar os governos. Foi o que aconteceu nos EUA e também foi o que aconteceu por aqui.
Pode parecer ilógico que um norte-americano que está desempregado resolva depositar seus votos justo naqueles que defendem a mínima intervenção do Estado na economia, como é o caso dos Republicanos. Mas é lógico que o norte-americano que está desempregado vote nos Republicanos porque, com isso, ele está punindo o governo Democrata, ele está dando um choque no Obama, como fazem os behavioristas com os ratinhos no laboratório ao buscarem desenvolver alguma espécie de comportamento negativo.
Aconteceu o fenômeno contrário aqui no Brasil, quando uma enorme quantidade de pessoas votou na Dilma porque a vida delas melhorou com o governo Lula. Não há nada de errado nisso. É a lei do mercado eleitoral. A primeira eleição do Lula, contra o Serra em 2002, é um exemplo de voto punitivo, porque a população queria demonstrar seu descontentamento com o governo FHC.
É claro que existem outros fenômenos que podem definir uma eleição. Essa ideia do voto behaviorista é baseada numa leitura simplificada de uma realidade extremamente complexa. Senão, jamais aconteceria de um governo bem avaliado pela população, como o da Marta Suplicy, que deixou a Prefeitura de São Paulo com um índice de aprovação de cerca de 60%, perder a disputa pela reeleição.
Mas, em geral, a lógica do voto behaviorista funciona. Ela é regra e não exceção. E é bom que seja assim. É ruim quando fatores extra-campo decidem uma eleição. É ruim quando um governante bem avaliado põe (ou quase) tudo a perder por alguma besteira (vide Clinton e a estagiária). Mas, acontece.

Eu estava na praia com a Vivi no feriado do 12 de Outubro, quando comecei a escutar a conversa de dois tucanos. Confesso que me surpreendi, porque, quando eu já esperava os velhos comentários de sempre ("esse povo burro vai eleger a Dilma por causa da 'bolsa-esmola' que recebe"), um dos sujeitos, simplesmente, disse: "Na reeleição do FHC, eu votei nele porque eu achava que seria o melhor para mim; é justo que o povo pense assim também e agora vote na Dilma". E completou: "Nós precisamos parar com essa hipocrisia de dizer: voto neste ou naquele porque será melhor para o País; nós votamos naquele que achamos que será melhor para nós mesmos".
Não quero dizer que seja certo ou errado pensar assim. Também não acho que todos votam desta maneira. No entanto, devo reconhecer que achei a fala do tucano muitíssimo honesta, e acho, também, que a maioria absoluta da população (independentemente de classe social, ouviu senhor Jaguaribe?) escolhe em quem votar de acordo com essa lógica. É por isso que o voto, via de regra, é behaviorista. Eu puno quem não foi bem e premio quem foi bem (pra mim).
É simples assim? Não, por isso existem tantas exceções a essa lógica. E existe, é claro, um bocado de forças que tentam manipular essa percepção do que foi bom e do que não foi bom. Aí entram imprensa, o próprio governo, sindicatos, movimentos sociais organizados, empresários, produtores, tudo tentando puxar a sardinha pra própria brasa.
Porém, nada é mais forte que dinheiro no bolso da população e activia na geladeira de pobre, como disse a Marinalva. Na minha opinião, foi esse o fiel da balança que deu a vitória à Dilma. Do seu lado, estavam o Governo Federal, com o Lula usando a máquina pública à vontade e levando a Dilma para inaugurar até banheiro há mais de um ano; parte do empresariado (veja você, até o Abílio Diniz escreveu uma carta recomendando o voto na Dilma para os seus mais de 100 mil empregados); a maioria dos movimentos sociais organizados (exemplo: MST que, apesar de insatisfeito com o Lula, sabe que com Serra volta o risco de um novo Eldorado dos Carajás); quase todos os sindicatos e tantas outras forças, umas maiores e outras menores.
Do lado do Serra estavam: a grande maioria dos industriais (dentre eles, a indústria da comunicação); a maioria dos banqueiros; todos os grandes produtores de terra; uns poucos sindicatos; alguns movimentos sociais organizados (principalmente ONGs, que costumam fazer a festa em governos tucanos); a esmagadora maioria dos governantes dos grandes centros (basicamente Sul e Sudeste, à exceção do Rio de Janeiro, que estava forte com a Dilma); boa parte da elite intelectual (exemplo: turma da USP) e outros tantos.
Considero que os exércitos estavam fortes, mas, o que acabou fazendo a diferença? Sim, o activia na geladeira do pobre. E quem vai dizer que eles estão errados?

quarta-feira, novembro 03, 2010

Baixio das Bestas

De volta ao batente, tendo a dizer, ainda mais após ter assistido ao "Baixio das Bestas": que merda de mundo nós criamos, não? E esse bando de féladaputa ainda tem coragem de colocar na conta divina a merda de mundo que NÓS criamos. Nós destruímos o mundo para criar outro em cima, assim como os malditos cristãos fizeram em Roma e em outras terras que conquistaram. Eles destruíam templos pagãos (muitos dos quais, belíssimos) para levantar igrejas em cima (muitas das quais, nada de mais).

Já dizia um professor de História que tive, o Ricardo, a alertar que nós sempre estudamos a versão dos vencedores. Aos vencedores as batatas e o direito de escrever a versão oficial. E esses mesmos vencedores, cristãos, forjaram uma imagem quase "selvagem" dos mouros, povo extremamente evoluído em todos os sentidos. Lembrei-me disso porque o Ricardo nos contou que, diferentemente dos cristãos, os mouros (esses animais!), quando conquistavam algum território, deixavam em pé os templos e obras e esculturas que consideravam belos. Na verdade, eles só destruíam coisas necessárias para minar a resistência inimiga, como aquedutos e plantações, por exemplo, mas não tinham essa mania cristã de fazer uma "limpeza" cultural no lugar.
Este é o mundo que criamos. Um querendo foder o outro. Não à toa, a ideia do comunismo assusta tanto. Claro, não me iludo. Já falei ao meu irmão anarquista: esses ideais vão contra a própria natureza humana. Igualdade o cazzo! Ninguém quer essa porra, só quem está na merda, até sair da merda. Quem estava na merda, quando sai da merda, vai querer cagar na cabeça de quem estiver na merda. Que merda. É um cagando na cabeça do outro.
Pior é a hipocrisia, o discurso pseudomoralista que tenta acobertar verdadeiras atrocidades. "Baixio das Bestas" mostra bem isso. Mostra que, com maracatu ou sem maracatu, todo mundo quer comer um cu, seja de quem for, para próprio deleite. "Cadê a manteiga que eu quero comer um cu!", grita um, depois grita outro.
E quem se fode? Quem tá mais fodido. Nosso Estado está podre, não chega e nem quer chegar no fundo dos verdadeiros problemas da nossa nação. O nosso principal problema sempre foi e sempre será a corrupção, escorada na ideia do individualismo, do "foda-se o resto". Está podre e as raposas é que cuidam do galinheiro. Enquanto isso, na senzala, é salve-se quem puder. A elite só se coça quando sobra pra ela. Enquanto não morre um playboy, que a patuleia se mate.
Merda de mundo que criamos.