sexta-feira, outubro 22, 2010

Morte por Inanição

Hoje me deu uma nostalgia meio esquisita e eu fiquei lendo os textos antigos que postei aqui, naquele velho tempo em que alguns até se aventuravam a colocar comentários e tudo mais.
Mas, eu acabei por suicidar meu blógui, sem colocar nenhuma carta amargurada, ou uma despedida saudosa. Apenas fui parando, parando, parando de escrever. Até que fiquei dois anos sem colocar nenhum texto novo no meu espaço de escrevinhadeiro.
Depois de dois anos em silêncio, resolvi voltar a escrever umas bobagens, meio envergonhado. Envergonhado e calado, não contei nem pra Vivi, que ficou muito ofendida quando soube desse meu retorno silencioso. Desculpa, amor. Mas acho que a coisa não vai durar muito.
O morto está morto. Foi morte por inanição, de acordo com o laudo do legista Badan Palhares. Parece que vão chamar o dito cujo, também pra examinar a careca do Serra, que foi atingida por um objeto transparente (teria sido uma água-viva?), de acordo com as lentes mágicas e imparciais da Rede Globo e de mais um super-especialista, o pessoal da Folha fez questão de enfatizar.
Enfim, voltando: não tem volta. Este blógui vai servir para o que sempre deveria ter servido. Vai servir pra quando me der na minha (mais pouca ainda) telha. Querida Vivi, seremos só eu e você e você e eu neste espaço cibernético. Não é romântico?
Reanimem o defunto!

quinta-feira, outubro 21, 2010

A PIOR DISPUTA ELEITORAL DOS ÚLTIMOS TEMPOS

O novo hit cibernético do momento, aqui por nossas terras, é a agressão sofrida pelo candidato Serra em Campo Grande, Rio de Janeiro.
Novamente, migramos para o pensamento dicotômico que envolve nosso mundo político, criado pelo embate PT X PSDB (embasado, na minha humilde opinião, sob uma falsa premissa de que os dois partidos têm propostas antagônicas para o País, mas essa é uma outra discussão).
Tucanos estão certos ao dizer: sim, foi uma agressão, não importando se foi bolinha de papel ou se uma bola de sinuca; e estão muito, muitíssimo errados ao criar um factóide oportunista que só serviu para ferver os ânimos das militâncias. As imagens (assim como a regra, Arnaldo) são claras: Serra foi atingido por uma bolinha de papel, olhou pra baixo e seguiu em frente. Tempos depois, recebeu um telefonema e, em seguida, simulou dores, saiu de helicóptero e fez ressonância.
Esse lamentável teatrinho, levado ao cúmulo com a comparação à agressão séria que Covas sofreu ao querer passar no meio de professores grevistas que estavam em frente ao Palácio dos Bandeirantes, anos atrás, feita pela equipe de marketing de Serra, agravou o clima de hostilidade entre tucanos e petistas. Não à toa, Dilma quase foi atingida por uma bexiga d'água em Curitiba, que é um reduto tucano. Espero que o PT não use esse episódio na campanha.
Petistas estão errados ao dizer: foi só uma bolinha de papel. Porque, senão, passaremos a legitimar quaisquer pequenos delitos. Quer dizer que pode roubar R$ 10,00? Mas estão certos ao ficarem indignados com o ridículo espetáculo proporcionado por Serra e companhia. E estão mais certos ainda ao ridicularizar o fato com piadas.
Agora, é momento de parar com essa porra. Paremos com discussões sobre o aborto, que nada têm a ver com o papel de um Presidente da República; paremos com bolinha de papel pra lá e bexiga d'água pra cá (uma criancice sem tamanho). Vamos falar de projetos, vamos falar da maldita reforma tributária, da maldita reforma política, do maldito futuro da nação, porra.
Ou, então, coloquemos Dilma e Serra em um ringue para uma guerra de travesseiros, como sugeriu um internauta.

Lançamento Hoje

É hoje, lançamento do livro "Meu avô italiano", do Thiago Iacocca, na Livraria da Vila da Rua Fradique Coutinho, número 915, Vila Madalena, São Paulo-SP, entre as ruas Aspicuelta e Inácio Pereira da Rocha.
Para quem vem pela Luiz Murat, que depois vira Inácio Pereira da Rocha, mais conhecida como "rua do cemitério", apresento duas opções: 1- virar à direita na Fidalga (uma antes da Fradique, que não dá mão), virar à esquerda na Aspicuelta e, finalmente, à esquerda na Fradique. A Livraria da Vila estará do lado direito da rua e...você chegou ao seu destino; 2-passar a Fradique (que não dá mão), virar à direita na Morato Coelho, depois virar à direita na Aspicuelta e à direita na Fradique. A Livraria da Vila estará do lado direito da rua e...você chegou ao seu destino.
Para quem não vier pela Luiz Murat, coloque a rota no Google, ou no Apontador, roube o GPS do cunhado, se vira, porra.
É isso aí. Viva o Thiago Iacocca, viva a Cida (que trabalha na Livraria da Vila) e viva a Gabriela, o GPS da minha mulher.

quarta-feira, outubro 20, 2010

Barão de Itararé

Rapaz, eu ia falar hoje sobre o ciclo do oxigênio, mas resolvi prender minha respiração, porque alguém usou o banheiro em algum lugar aqui perto e a relação das borboletas que voam em Carapicuíba e provocam chuva em Teiping (existe uma cidade com esse nome?) me deixaram confuso. Outra coisa me deixou confuso: existem borboletas em Carapicuíba? Confuso estou, confuso deixei os meus milhões de leitores. Poderia eu fazer algo, mas sou um artista consagrado e, artistas consagrados querem mais é que os outros se virem. Eu não vou me coçar e ainda serei tachado de gênio por algum francês idiota.
É, hoje não sai nada mesmo, nem a porrada, estou com uma prisão de ventre daquelas, então, deixemos a merda pra amanhã, que será um novo dia após os dois quilos de ameixa que mandarei pra dentro. Lembrei-me, num momento de desespero, de um texto do Barão de Itararé do qual gosto muito. Conheci esse texto de uma forma muito apropriada: o Maurão, quando dono do bar "Espaço Paulista" (que saudade daquele botequim), gravou esse pérola do Barão de Itararé nos jogos americanos que ficavam às mesas. Segue o texto, é melhor que ouvir um idiota que não sabe nada delirar sobre o ciclo do oxigênio e sobre as borboletas de Salesópolis (lá elas existem, sim, aos montes):
Uísque e mulher ranzinza - Barão de Itararé

"Eu tinha doze garrafas de uísque na minha adega e minha mulher me disse para despejar todas na pia, porque se não...
- Assim seja! Seja feita a vossa vontade, disse eu, humildemente. E comecei a desempenhar, com religiosa obediência, a minha ingrata tarefa.
Tirei a rolha da primeira garrafa è despejei o seu conteúdo na pia, com exceção de um copo, que bebi.
Extraí a rolha da segunda garrafa e procedi da mesma maneira, com exceção de um copo, que virei.
Arranquei a rolha da terceira garrafa e despejei o uísque na pia, com exceção de um copo, que empinei.
Puxei a pia da quarta rolha e despejei o copo na garrafa, que bebi.
Apanhei a quinta rolha da pia, despejei o copo no resto e bebi a garrafa, por exceção.
Agarrei o copo da sexta pia, puxei o uísque e bebi a garrafa, com exceção da rolha.
Tirei a rolha seguinte, despejei a pia dentro da gar­rafa, arrolhei o copo e bebi por exceção.
Quando esvaziei todas as garrafas, menos duas, que escondi atrás do banheiro, para lavar a boca amanhã cedo, resolvi conferir o serviço que tinha feito, de acordo com as ordens da minha mulher, a quem não gosto de contrariar, pelo mau gênio que tem.
Segurei então a casa com uma mão e com a outra contei direitinho as garrafas, rolhas, copos e pias, que eram exatamente trinta e nove. Quando a casa passou mais uma vez pela minha frente, aproveitei para recontar tudo e deu noventa e três, o que confere, já que todas as coisas no momento estão ao contrário.
Para maior segurança, vou conferir tudo mais uma vez, contando todas as pias, rolhas, banheiros, copos, casas e garrafas, menos aquelas duas que escondi e acho que não vão chegar até amanhã, porque estou com uma sede louca ..."
É poesia pura. E eu também estou com uma sede louca. Alguém se habilita?

terça-feira, outubro 19, 2010

Tio Babão


Tem hora que é melhor não dizer muita coisa. Deixemos para a imagem. Vida longa ao Rafael, filho de Fábio Bonini Esfeluntis Tararan e Aline Dias.
Meu sobrinho de coração nasceu no dia 17 de outubro de 2010, lá pelas 4 da matina. Ê, Rafinha: já começou acordando cedo.
Repare, na imagem acima, como esse safadinho já tem muito mais cabelo que eu, o que não deixa de ser uma sacanagem.
Parabéns, papai Fábio. Parabéns, mamãe Aline. Vocês são ótimos e, mesmo sem o "botão mágico" da maternidade São Luiz, que faz aparecer enfermeiras até do teto, tenho certeza absoluta de que vocês vão se sair muito bem.
Se precisar, eu ouvi dizer que a titia Vivi troca fralda como poucos. Amamos oceis e que o mundo seja povoado de librianos gente boa.

segunda-feira, outubro 18, 2010

Nós, os Primatas

Sábado eu fui com a Vivi assistir ao "Tropa de Elite 2". Confesso que eu não estava muito empolgado, mas a galera começa a assistir e a comentar e a dizer que o filme "pegou fundo" e o cacete. Então, resolvemos assistir logo. E já que era pra foder, que fôssemos a um Cinemark do shopping mais teenager de Brasília: o Pier 21. Só faltou o balde monstruoso de pipoca mergulhado na manteiga, mas tínhamos acabado de almoçar, então nos contentamos com um cone de creme de barbear do Mac Donald's.
O filme tem méritos, que identificamos entre os muitos goles de chope que demos depois. Mas, sinceramente, não vejo por que falar do filme em si. Porque o filme em si é meio esquisito, com essa versão burocrática do capitão-coronel Nascimento e com a caricatura dos milicianos representada pelo tal do Rocha. Para não falar no deputado de esquerda e em outras figurinhas carimbadas que o filme fez questão de carimbar com tinta carregada.
O filme é uma caricatura daquilo tudo que a gente já sabe. Mas, para alguns tem um efeito catártico, quando o super-herói surra um político filho da puta, e, para outros, serve de lembrete. É verdade, eu tinha me esquecido que vivemos num país corrupto, dominado por filhos da puta de todas as ordens que só querem saber de faturar alto, seja explorando butijão de gás nas favelas, seja fazendo lobby em Brasília. E, sim, o lobby em Brasília muito tem a ver com a exploração do butijão de gás nas favelas.
Obrigado, Padilha, você nos lembrou disso tudo. Agora dá licença que eu vou votar no Tiririca e, daqui a quatro anos, você me lembra de novo em Tropa de Elite 3, com o vovô Nascimento e sua furiosa bengala calibre 12. Não vale a pena falar do filme porque o filme mais parece uma novela, com a mulher que troca o herói por seu inimigo, um filho adolescente na jogada, confuso, como todo adolescente (odiar ou não o meu pai truculento?; comer uma maconheira gostosa ou defender os direitos humanos?, ou talvez, por que não, os dois?); mas, no fundo, marido 1 e marido 2 são bacanas, gostam da mulher, gostam do garoto, gostam do Rio de Janeiro e não gostam de bandidos.
É, não vale muito a pena falar do filme, porque o filme não convence enquanto filme. Então, por que cazzo estou eu falando da porra do filme?, perguntaria meu amigo Thiago Iacocca. Porque é aqui que eu quero chegar. Não vale a pena falar do filme, mas vale a pena falar das reações. Por que uma peça que conta o óbvio causa tanto espanto e indignação? Por que as pessoas consideram que o Padilha é tão corajoso? E por quê, se o filme é tão revolucionário, ganhou apoio da Prefeitura do Rio e do Governo do Estado do Rio de Janeiro, além do apio de zilhões de empresas multinacionais?
Amigos, nem aqui e nem na China, um filme revolucionário pra valer atrai tanta grana. Isso é uma contradição. Portanto, conclusão óbvia, o filme não é revolucionário. Então, por quê? Why? Pois é, capitão-coronel Nascimento e companhia, que causaram furor na sociedade brasileira, são um perfeito termômetro de como a nossa sociedade anda cada vez mais e mais alienada do processo político, social e econômico pelo qual passa o nosso Brasilzão véio de guerra. Alienada sim, seja por estar doutrinada por uma mídia pelega, perversa, vazia, retrógrada, tendenciosa e cafona, seja por opção mesmo.
Porra, o playboy acabou de votar no Tiririca, e ainda tem filho da puta-sacana que chama isso de protesto. Em seguida, ele vai ao cinema do Shopping Higienópolis e vibra com as porradas dos "caveiras" na bandidagem. A patricinha acabou de votar na titia Weslian (porque o barbudo do PT é comunista e a favor do aborto). Em seguida, ela vai lá no Cinemark do Pier 21, senta com o namoradinho três fileiras atrás de mim e fica: "Tira a mão daí, presta atenção que o filme é sério" (na verdade eu não escutei nada disso, que fique claro).
Eu estou tentando dizer o seguinte: não era pra um filme desses causar o impacto que causou. Não era mesmo. Tem seus méritos e tudo, ok, eu aceito, mas eu ouvi da boca de gente que eu julgava ser séria que esse filme "põe o dedo na ferida". Pode crer. O filme põe os pingos nos ii. Para com isso, porra. Para com isso.
Na minha opinião, o filme se perdeu, playboy. Mas quem está perdida mesmo é a nossa sociedade, ainda contaminada até a raiz dos cabelos pela mentalidade coronelista, colonialista, elitista agrária de monocultura, escravocrata e outras mazelas que definiam a sociedade brasileira de poucos séculos atrás. Nossos juízes ainda proferem sentenças absurdamente machistas, chauvinistas, preconceituosas, pelegas, defensoras de quem está com a grana; nossas Igrejas continuam com a tentativa de voltar para a Idade Média (Torquemada lives); nossos empresários ainda querem arrancar o couro de seus operários, como faziam durante a Revolução Industrial; nossa cabeça, apesar da evolução da sociedade brasileira, continua altamente influenciada pelo ATRASO.
Ô, processinho difícil. Uma vez o Dráuzio Varela falou que o problema da obesidade era muito sério porque o ser humano tem a mesma cabeça do primata, que dizia a ele mesmo: você tem que garantir sua alimentação agora, tem comer o máximo que puder, porque amanhã você não sabe se vai ter o que comer. Acontece que, hoje, não precisamos mais correr atrás da presa. Basta ir ao supermercado. Então nossa cabeça diz: você tem que comer o máximo possível porque amanhã... Aí já viu.
E o que essa merda tem a ver? Fodam-se os que exigem roteiros lineares e coerentes. Vão assistir a esse bando de filme ruim que tem por aí. Mas, essa merda tem a ver porque, assim como a cabeça "atrasada" dos primatas convive com a nossa "vida moderna", a mesma cabeça coronelista, escravocrata e monocultureira do nosso passado não tão recente ainda convive com os shopping cênteres, com as eleições democráticas e com as super-produções cinematográficas made in Brazil.
Eu escrevi esse monte de merda, afinal, só porque eu não queria falar desse filme, mas me incomodou demais essa reação exagerada das pessoas, que pareciam estar diante das profecias do oráculo. Eu tenho certeza de que o Padilha não teve essa pretensão, mas, parece mesmo que esta terra tem cada vez mais cegos, e o rapaz não é bobo e tem todo o direito de correr atrás do seu ganha-pão. Só tome cuidado, Padilha, com e mentalidade dos primatas, incompatível com o nosso modus vivendi atual (eu acho).