quinta-feira, novembro 22, 2007

Blargh!

Ontem, as pessoas que viram o jogo do Brasil contra o Uruguai presenciaram uma das maiores injustiças da história do futebol mundial. Sim, de uma maneira torta, foi um jogo histórico. O Brasil foi pior que o Uruguai, muito pior, em todos os sentidos. O Uruguai jogou com mais raça, com mais inteligência, com mais agressividade (no bom sentido). E perdeu, por causa de dois lances fortuitos: um chute esquisito do Luiz Fabiano que o goleiro uruguaio acabou engolindo e outro chute do mesmo Luiz Fabiano, depois de uma pixotada grotesca do Gilberto, que acabou nos pés do atacante brasileiro.
A bola parecia pipocar nos pés dos jogadores brasileiros, que estavam completamente perdidos em campo. Nunca vi tamanha desorganização, tantos buracos em uma defesa só, tanta falta de sintonia entre um meio-de-campo, que ficou no meio do caminho entre atacar e defender e acabou não fazendo nada, e um ataque completamente isolado. Mineiro fez a pior partida de sua vida, estou certo disso. Espero que ele também esteja. Ele passou o jogo inteiro correndo atrás dos uruguaios feito uma barata-tonta e perdendo todas as jogadas. TODAS (essa mereceu letras garrafais). Gilberto Silva acompanhou o péssimo nível de seu parceiro de meio-campo e também jogou uma péssima partida.
E os "três tenores"?
De fato, Ronaldo Gaúcho parecia o falecido Pavarotti, tamanha a falta de mobilidade em campo. Kaká foi o menos pior, mas deve ter pensado que estava participando de alguma propaganda do Guaraná Antarctica. Esqueceram de avisá-lo que os jogadores uruguaios não eram figurantes fazendo papel de adversários. Por isso, quase nenhuma das firulas que ele tentou fazer deram certo. Chegou ao ponto de irritar até a sempre tão benevolente equipe da Rede Globo.
Do Robinho eu só digo uma coisa: ele levou a vaia mais merecida que eu já vi alguém levar, ao ser substituído por Wagner Love, e só o imbecil do Galvão Bueno, que falou quinhentas vezes durante a transmissão que "o brasileiro está louco pra se apaixonar de novo pela seleção", achou que as pessoas estavam vaiando o Dunga, por ter tirado o Robinho.
Aliás, o Galvão Bueno tem um poder increible de ver coisas que só ele vê. Por exemplo, no jogo contra o Peru, em Lima (outra atuação lamentável), toda vez que o Ronaldo Gaúcho se aproximava do alambrado do estádio para bater um escanteio, os torcedores peruanos se deslocavam do campo o mais que podiam. Os torcedores se aproximavam, eu garanto, para xingar e atirar coisas no jogador brasileiro. Mas para a anta do Galvão, eles queriam "ficar mais perto do craque brasileiro". É demais.
Fazia muito tempo que eu não via o Brasil jogar tão mal. Esse time de ontem superou todos os últimos fiascos da seleção do Dunga, que só jogou bem contra a Argentina, menos por mérito próprio e mais por demérito da Argentina, porque eu não sei o que acontece com nosso hermanos que, ultimamente, têm jogado com uma apatia assustadora contra o Brasil.
Vão à merda todos aqueles que ousarem dizer que "o importante é que ganhou". Isso é muita alienação para a minha pobre cabeça de escrevinhadeiro.
Mas até que, pra uma coisa, esse jogo serviu: para que eu percebesse que ainda consigo ficar revoltado com futebol. Como ficou chato o futebol, não? Agora eu entendo aquelas pessoas que diziam: não vejo graça em 22 marmanjos correrem atrás de uma bola. A verdade é que, nem isso nós vemos mais. Não vejo mais prazer nos jogadores de futebol. Eles se transformaram em burocratas. É claro que esse não é o problema central. o problema central está nos dirigentes e nos empresários, que descobriram uma maneira ótima de enriquecer às custas do suor alheio (como fazem os banqueiros, os empresários, a elite em geral). A transformação dos jogadores em burocratas é apenas conseqüência dessa profissionalização enviesada que tanto fez jorrar dinheiro nas fontes dos Ricardos Teixeiras da vida.
Pra terminar, só umas poucas palavrinhas sobre o Dunga: ele devia voltar correndo para aquele programa de televisão em que, ao lado do Bebeto, fazia uma "peneira" com jovens que dariam tudo pra virarem jogadores de futebol. Ele faria melhor explorando os sonhos dessa garotada. Porém, quanto à substituição que ele fez no jogo, tirando o RG pra colocar o volante Josué, foi a única decisão acertada que ele tomou ao longo de sua curta carreira de treinador, apesar de tê-la tomado com muitos minutos de atraso.
Mas chega. Importemo-nos com o que verdadeiramente importa, como sugeriu a Inês.

quarta-feira, novembro 21, 2007

Aula de manipulação

Às vezes eu me lembro que sou "jornalista" e me dá uma dor de cabeça danada. Depois, sinto leves náuseas, para em seguida resolver falar sobre o comportamento da grande imprensa.
Quero falar da queridíssima Folha de S. Paulo. A Folha, de vez em quando, gosta de mostrar que sabe manipular notícias como ninguém. Temos um bom exemplo, didático, eu diria, esta semana. Apresentemos os fatos em ordem cronológica:
Domingo, 18 de novembro - a Folha solta a seguinte manchete: "Cisco usou laranja para doar R$ 500 mil ao PT, afirma PF". Na página A-4, repete o slogan: "Cisco utilizou (em lugar de "usou") laranjas (desta vez no plural) para doar R$ 500 mil ao PT, diz (em lugar de "afirma") PF.
Segunda-feira, 19 de novembro - a Polícia Federal divulga a seguinte nota: "A Polícia Federal em São Paulo, em referência à matéria 'Cisco utilizou laranjas para doar R$ 500 mil ao PT, diz PF', publicada pelo jornal Folha de São Paulo edição de 18.11.2007, comunica à imprensa que não se pronunciou sobre o andamento das investigações referentes à Operação Persona, deflagrada no dia 16.10.2007. Referida investigação corre sob segredo de justiça e o vazamento das informações de caráter sigiloso configura infração criminal que será apurada, como em casos anteriores, através de inquérito policial a ser instaurado nos próximos dias nesta Superintendência" (Grifo meu)
Também na segunda, o jornalista Mário Magalhães, ombudsman da Folha, escreveu o texto "Conexão Cisco-PT", dizendo que os indícios encontrados em inquérito policial são de interesse público e devem ser divulgados. Depois de elogiar o trabalho jornalístico dos repórteres, o ombudsman escreve: "Ao contrário do que informou a manchete de domingo, a Polícia Federal não fez afirmação alguma. O que há é 'interpretação de policiais', como se leu na pág. A4 de ontem ("Cisco utilizou laranjas para doar R$ 500 mil ao PT, diz PF"; "dizer" a PF não disse).
Terça-feira, 20 de novembro - A Folha solta a seguinte matéria: "PF investigará vazamento de informações". Lendo essa matéria, fica-se sabendo que a "interpretação de policiais", que a Folha classificou em manchete ser a opinião oficial da instituição, e depois repetindo essa farsa várias vezes, trata-se de opinião de três delegados que aceitaram dar entrevista, desde que não fossem identificados. Para piorar, a Folha simplesmente jogou no meio da matéria a segunda parte da nota da Polícia Federal: "Referida investigação corre sob segredo de justiça..." Pois é, a Folha não teve a decência de publicar a nota completa da Polícia Federal. E por quê? Porque a primeira parte desmente diretamente o jornal.
Mandei um e-mail ao ombudsman, que voltou ao assunto hoje, mas nada mencionou sobre essa manipulação da Folha. Não estou exigindo que o Mário Magalhães, que é um jornalista de verdade, chegue considerar o meu (jornalista de mentira) e-mail. Apenas, fico eu pensando: estou completamente louco em achar que o que a Folha fez foi um absurdo?
Antes que alguém diga que isso é "papo de petista", eu quero dizer que a questão não é essa. O PT recebeu dinheiro da Cisco a fim de favorecê-la em uma licitação da Caixa Econômica Federal? Ora, eu não me surpreenderia nada com isso.
A questão é: 1 - a Folha joga uma informação em sua manchete como sendo feita oficialmente por uma instituição; 2 - Na matéria, transfere a narração da história para a boca dessa instituição várias vezes: "segundo a PF"; "a pergunta que a PF se faz é..." - na maior intimidade, diga-se de passagem, como se Folha e PF fossem dois velhos amigos a falar de futebol a uma mesa de bar; 3 - Posteriormente, a instituição nega que tenha feito a afirmação estampada na manchete do jornal; 4 - A Folha, na maior caruda, diz que conseguiu as informações através de entrevistas com três delegados, confessando, portanto, que foi no mínimo leviana ao atribuir à instituição Polícia Federal a opinião de três pessoas que não estavam autorizadas a revelar as informações que deram e, 4A - A Folha cita a nota da PF, de maneira completamente jogada, omitindo a parte que põe em cheque a lisura do jornal.
Sou um louco idiota ou estamos nós diante de uma fraude jornalística? Por favor, alguém me ajude, antes que eu acabe enfurnado em um hospício.
Em tempo: Acabou de chegar em minha caixa de entrada a seguinte mensagem, assinada pelo jornalista Mário Magalhães: "Caro Tomaz, obrigado pela mensagem. Encaminhei-a à Redação, com pedido de resposta à sua indagação sobre a não-publicação da nota da PF. Na crítica de hoje, terça-feira, comentei em nove notas a cobertura em curso (...)"
Essa resposta do jornal, se vier, virá sob a velha roupagem de que "foi decisão editorial do jornal, por considerar que a parte relevante da nota era a que falava sobre o fato de a investigação estar correndo sob segredo de justiça". Para finalizar com chave-de-ouro, o jornal ainda diria: "Agradecemos a participação do(a) senhor(a), por enriquecer sobremaneira os nossos ideais democráticos e a nossa busca incansável pelo aprimoramento, que fizeram da Folha de S. Paulo o jornal mais lido do Brasil". Ou seja, vão acabar transformando uma crítica minha em um elogio a eles.

terça-feira, novembro 20, 2007

Confissões de um escrevinhadeiro ridículo

A Vivi me falou:
- Amorzinho, primeiro você diz que vai desistir do blógui e depois você volta a escrever? Assim você espanta os seus leitores.
Acho que esse é o meu lado João Gilberto. De acordo com o professor Walter Garcia, João Gilberto é um obcecado pela perfeição. Por isso, ele diz que ar condicionado forte demais desafina os instrumentos; ele quer tapete persa no palco porque essa tapeçaria não "rebate" o som; ele canta a mesma música oito vezes no mesmo show; e ele "dribla" as pessoas que tentam cantar com ele.
O que eu tenho a ver com essa história? É óbvio que eu não tenho obsessão nenhuma pela perfeição. É só ver essas merdas que eu escrevo de qualquer jeito. Também não me dou bem com ar condicionado, mas por outra razão - respiratória. Tapete persa? Que eu saiba, só pisei sobre um desses em visita ao Palácio do Itamaraty (e foi sem querer, eu juro).
Meu lado João Gilberto está em "driblar" os meus poucos (e amáveis) leitores.
Acho que eu tenho um pouco de vergonha das coisas que escrevo. É meu lado vira-lata. O grande escritor uruguaio Horacio Quiroga já dizia, em suas regras para se escrever um bom conto, que jamais devemos incorrer no erro de escrever para alguém. O escritor só tem chance de escrever algo bom, de acordo com Quiroga, se não ficar imaginando "o que fulano vai pensar quando ler isto".
Eu acabo sempre imaginando o que meu grande parceiro Thiago Iacocca vai achar de um conto tosco que eu escrevo; acabo pensando se minha mãe vai ficar preocupada com as sandices que o filho dela escreve (ou com as possibilidades de eu ser assaltado aqui em Brasília); acabo me preocupando com os zilhões de erros de português que eu cometo. Acabo travando.
Esta é a verdade: eu não consigo me desprender dos meus poucos leitores. E eu sou um menino mimado (mãe, não é sua culpa) que fica sentido quando as pessoas não gostam de algo que eu digo. Enfim, sou um escrevinhadeiro ridículo. Fazer o quê?
Terapia? É, terapia seria aconselhável, sem dúvida. Porque eu também odeio quando as pessoas ficam me elogiando, por achar que elas só estão fazendo as vontades de um farsante de quem elas gostam muito - não pelos textos, mas por razões outras que só a vida explica.
Ridículo e chato? Mais chato que o João Gilberto? Pode ser. Está aí a confissão. Agora, que eu já estou me sentindo patético o suficiente, prometo que tentarei parar com essa viadagem toda e me limitar a escrever. Quando a Carol citou Drummond, que dizia escrever "para se livrar", foi inevitável que eu me perguntasse: por que caralho eu escrevo? Sei lá, porra. Para os outros é que não é, porque se fosse, eu tava fodido.
Enfim, aproveito para citar aqui minha sogra Inês, que muito sabiamente, costuma dizer: "Devemos nos preocupar com o que interessa". É verdade. Eu me preocupo tanto com idiotices, com idiossincrasias menores, queimo a mufa (como a Vivi gosta de dizer) com detalhes tão pequenos que, na verdade, não são nada difíceis de esquecer. E aí eu acabo metendo os pés pelas mãos.
Fazer o quê? Certezas eu tenho poucas, mas uma delas é: ainda farei (e escreverei) muita merda na vida. E para aqueles que estão indignados com a minha citação a Roberto Carlos, respondo com as palavras de Tom Jobim: "Roberto Carlos é o melhor compositor de música ruim do Brasil".

segunda-feira, novembro 19, 2007

O roubo do celular

Levei um esculacho de um ladrão. Estava eu chegando na rodoviária do plano piloto para pegar um ônibus para Caldas Novas, quando fui abordado por um trombadão de olhos trincados que veio logo perguntando se eu era cana. Respondi que não, enquanto pensava: fodeu - na minha carteira, que estava no bolso, havia uma quantidade incomum de dinheiro (120 contos), meu cartão, três folhas de cheque, todos os meus documentos e a passagem para Caldas Novas; eu também carregava uma mala com umas mudas de roupa, um livro do Fausto Wolff ("À mão esquerda") e as chaves de casa.
Fodeu, pensei. Esse cara vai me fazer uma limpeza e eu não terei nem como encontrar a Vivi na Pousada do Rio Quente e nem como entrar em casa, além daquela chateação de ter que fazer um boletim de ocorrência, cancelar cartão, sustar folhas de cheque e ir atrás de segunda via de documentos. Portanto, fodeu, pensei.
Mas o que o cara pediu foi o meu celular. Saquei do bolso o meu Motorola modelo mais simples que existe, que me custou menos de 100 reais, não tem absolutamente nada e já estava com as teclas meio emperradas. Quando ele viu aquele lixo em suas mãos, ficou mais que desapontado. Ele ficou chateadíssimo. E começou a dizer: "Porra, isso aqui é uma merda! Isso aqui... é ridículo, eu acho até que vou te devolver."
Eu estava com medo, é claro. Medo de tomar um tiro de graça, (sei lá se ele estava armado, porque ele não me mostrou arma nenhuma e nem eu pedi pra ver) medo de morrer por causa de uma besteira, além do medo material que eu já mencionei. Portanto, na hora não deu pra ficar ofendido. Apenas falei, um tanto envergonhado: "Meu celular é esse aí..." Quase pedi desculpas, mas também achei que não era o caso.
Ainda com meu ridículo celular nas mãos, o assaltante me falou, para minha total surpresa: "Me dá dez reais". Dez reais?, pensei. É isso o que ele quer? Fiquei quase feliz e, como continuávamos andando em direção à rodoviária, ele falou: "Anda mais devagar e me dá os dez reais antes de chegar ali [no local onde os ônibus estavam estacionados], se não quiser passar vergonha na frente de todo mundo". Abri minha carteira e vi que tinha duas notas de cinqüenta e uma de vinte. Puxei a de vinte e disse: "Tó vinte" (também achei que não era o caso de pedir o troco).
Ele pegou a nota e já ia saindo, quando eu não resisti, e pedi, com a maior delicadeza, se ele podia devolver meu celular. Ele titubeou. Eu disse: "Isso aí não vale nada, vai? Por favor..." Depois de refletir um pouco, ele me respondeu: "Eu vou levar. Vou levar porque tenho que resolver um negócio ali e se você achar que está sendo prejudicado corre atrás" Eu apenas respondi: "Tá bom" e continuei andando. Quando olhei para trás, o cara já tinha sumido.
Depois de uns minutos, eu estava encostado perto do ônibus, quando comecei a rir. Eu ri porque foi muito engraçado o jeito com que ele me falou que ia levar meu celular (confesso que ele não disse "prejudicado", mas um termo muito mais engraçado que, devido ao nervosismo da situação, eu não consegui gravar), mas a graça demorou uns minutos pra chegar (o tempo do cagaço ir embora); também ri de alívio, porque, contabilizando as perdas, foi realmente ridículo. Quase fiquei feliz de ter perdido vinte reais e um celular em vez de uma viagem para Caldas Novas, 120 reais, roupas, a chave de casa e todos os meus documentos.
É, os ladrões não costumam ter muita sorte comigo. A última vez que eu tinha sido assaltado foi há uns quinze anos, lá em São Paulo, quando eu e um amigo estávamos indo ao Morumbi assistir a um Corinthians e Santos. Resolvemos ir a pé, da casa do Sasha, que morava na Raposo, cortando o caminho por dentro de um parque. Lá estavam dois sujeitos com revólveres nas mãos, querendo que nós lhes entregássemos tudo que tivéssemos. O problema é que eu não tinha absolutamente nada. Eu havia deixado meus dez reais e meu RG na casa do Sasha, porque eu estava com medo que uma chuva iminente molhasse tudo. O Sasha enfiou os ingressos na cueca e também não tinha nada pra entregar.
Resultado: os caras levaram a minha camisa velha do Corinthians e um relógio do Sasha que era pior que o meu celular. Levaram pra coisa não ficar de graça. Depois, eu agradeci ao Sasha, porque ele salvou nossos ingressos, mas não quis encostar neles, por razões óbvias. Depois, o Corinthians enfiou 5 a 2 no Santos (bons tempos aqueles), com um show do Neto, e tudo ficou bem. Depois que esse cara levou meu celular, eu passei um feriado maravilhoso ao lado da Vivi e dos pais dela, e tudo acabou melhor que bem. Agora eu estou tentando não perder o número do meu pré-pago, mas o "sistema" da TIM, que sempre está realizando operações de melhoria, não quer colaborar.