domingo, janeiro 27, 2008

Todo Prosa

Outro dia, Vivi e eu conversávamos sobre as palavras da língua portuguesa que nós gostamos. Ela gosta muito de "macambúzio", que tem como sinônimo outra palavra interessante: "sorumbático".
Já que por um infortúnio da nossa educação cada vez mais decadente e voltada para o mercado, não tivemos a oportunidade de estudar latim (pra que serve uma língua morta que só é a base da nossa língua?), resta-nos ir atrás da origem de palavras e expressões interessantes, frutos da criatividade dos falantes, responsáveis pela dinâmica da língua.
Por indicação do Aldo, eu comecei a freqüentar a coluna "todoprosa", do jornalista Sérgio Rodrigues, que ele escrevia no falecido site No Mínimo e cujo tema era falar dos aspectos interessantes da língua portuguesa, especialmente a falada no Brasil, o Brazilian-Portuguese, como gostam de dizer os anglo-ianques.
Pois é, o tema dessa coluna não era, ele é, porque ganhou vida própria e hoje é um blog independente. Pra quem gosta da língua que fala, vale a pena dar uma olhada lá de vez em quando. Gravem aí no "favoritos": www.todoprosa.com.br
Dando uma de Sérgio Rodrigues, mas com um pouco menos de seriedade, eu gostaria de repassar aqui uma história que um grande sujeito que eu conheci nos Estados Unidos me contou. O Guil é de Recife, músico dos bons, que inclusive já tocou na Orquestra Sinfônica da Paraíba quando um governador maluco que adorava música clássica resolveu dar um bom salário aos músicos. Guil também tocou contra-baixo na banda da Elba Ramalho, porque, como ele bem disse, músico também tem que pagar as contas. Parece até que a Elba Ramalho o assediou, mas isso é outra história e eu não estou aqui pra fazer fofoca.
Voltando à vaca fria, pra usar uma expressão inusitada cuja origem eu não faço idéia, o Guil me contou sobre a origem da gíria "baitola", que ganhou popularidade no sul há pouco tempo (uns dez anos, talvez), mas que é uma expressão bastante antiga no nordeste. Baitola está dicionarizado como "pederasta passivo" (Dicionário Aurélio) e, de acordo com Guil, vem de bitola.
O que tem a ver bitola (distância que separa os trilhos de uma via férrea) com "pederasta passivo"? Guil explica: essa expressão remete ao tempo em que a companhia férrea inglesa veio construir linhas de trem no Brasil, acredito que no século XIX, ou fins do século XVIII, para que as pilhagens que fossem ganhar a Europa e alimentar os luxos da nobreza e uma Revolução Industrial feroz pudessem ser escoadas com menos dificuldade.
Cá chegou a companhia inglesa e, para Pernambuco, mandaram um supervisor inglês que era uma tremenda bichona, como meu pai gosta de dizer. O tal do supervisor tinha que comandar um exército de matutos que trabalhariam na construção da linha férrea e, para isso, teve que aprender pelo menos um pouco da nossa língua. Mas como ele não aprendeu muito bem, pronunciava "baitola" em lugar de "bitola". Um dia, um dos trabalhadores da via férrea, provavelmente cansado daquele trabalho pesado e daquele almofadinha inglês enchendo o saco, comentou algo do tipo: "Não agüento mais esse baitola".
Como podemos ver, o apelido pegou, e todos passaram a chamar o inglês de baitola. Daí a virar gíria para "pederasta passivo" foi um pulo. Confesso que não fui verificar a veracidade científica dessa história, mas que é muito boa e faz sentido, isso ninguém pode negar.
Não sejamos "bitolados", certo? Não fiquemos presos à medida que separa os trilhos de uma linha férrea e aceitemos essa história como verdadeira. E visitem o site do Sérgio Rodrigues.