sexta-feira, janeiro 07, 2011

Isso é que é fria

Não resisti a colocar neste espaço uma crítica do filme "Entrando Numa Fria Maior Ainda com a Família". Eu sei, também não assisti aos outros "Entrando Numa Fria" e, obviamente, não tenho a menor intenção de assistir a esse filme, nem que seja sem querer. Mas a crítica, escrita por André Barcinski, da Folha de S. Paulo (Ilustrada de 07/01/2011), está, com certeza, muito mais divertida que o filme. Parabéns, André. Você me fez lembrar aquelas sinopses hilárias que saem, às vezes, sobre os filmes que vão passar na televisão, e que mostram que, sim, algumas pessoas na Folha de S. Paulo tem senso de humor (pena que elas estão longe do conselho editorial e da diretoria executiva).
Mas que é realmente deprimente ver um ator como o DeNiro, que tem algumas atuações históricas - para citar apenas duas, lembremos de "Taxi Driver" e "O poderoso chefão 2" - participar de uma baixaria dessas, isto é. Da Barbra Streisand eu não podia esperar nada diferente, DeNiro, mas de você! Por que você não curte os seus milhões de dólares sossegadamente em algum rincão paradisíaco em vez de esmerdear seu currículo com insultos cinematográficos como esse?
Bom, segue a crítica do André Barcinski:
Elenco de estrelas constrange espectador
Terceiro filme da série "Entrando Numa Fria" revela perda de escrúpulos do cinema comercial hollywoodiano
ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA
"Entrando numa Fria Maior Ainda com a Família" é um caso raro de comédia que tem o poder de fazer o espectador sair do cinema deprimido.
Deprimido por ver astros como Robert De Niro, Ben Stiller, Dustin Hoffman, Barbra Streisand e Harvey Keitel se sujeitando a diálogos infantis e piadas de banheiro de rodoviária.
Deprimido por perceber que o cinema comercial hollywoodiano chegou ao fundo do poço e não tem mais escrúpulos de oferecer um produto claramente inacabado e feito às pressas.
Este filme é caso de Procon. Um engodo que só tem um objetivo: tentar espremer de espectadores desavisados os últimos centavos.
E não devem ser poucas as vítimas por aqui. O primeiro filme da série, "Entrando Numa Fria" (2000), foi um sucesso e surpreendeu com humor ácido e um divertido confronto entre o personagem de Ben Stiller e o sogro (Robert De Niro).
Já este é uma tragédia. Um filme sem graça em que atores no piloto automático esperam pela hora de pegar seus cheques e dar o fora.
Não existe, a rigor, uma história. Personagens são jogados no filme sem preocupação com o enredo.
Com muito esforço, foi possível identificar alguns fiapos de trama: o casal Greg e Pamela Focker (Ben Stiller e Teri Polo) quer dar uma festa de aniversário para seus dois filhos pequenos, mas a celebração é ameaçada pela incompetência de um jardineiro (Harvey Keitel).
Paralelamente, Greg é assediado por uma executiva gostosa e assanhada (Jessica Alba, de "Sin City"), para ser o porta-voz de um remédio para disfunção erétil, com consequências previsivelmente hilariantes.
As piadas envolvem flatulência, exames de próstata, preservativos que tocam música, crianças vomitando e adultos saindo no tapa em meio a uma festinha infantil.
Será que Robert De Niro precisa mesmo fazer uma cena em que toma uma injeção no pênis para curar uma ereção induzida? E pior: sendo surpreendido pelo neto de três anos?
O elenco de apoio é ótimo e desperdiçado: Harvey Keitel faz duas cenas; Laura Dern ("Coração Selvagem") interpreta uma professora "new age" e tem algumas das falas mais constrangedoras do filme. E Alba só está lá para aparecer de calcinha e sutiã.
O filme é triste. Mais triste é saber que ele liderou a bilheteria de Natal nos Estados Unidos e já rendeu quase US$ 110 milhões (cerca de R$ 184 mi), o que deve ser um sinal claro de que o fim do mundo está próximo.
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Tenho, apenas, uma ressalva à crítica de André Barcinski. Caro André, garanto a você que o cinema comercial hollywoodiano nunca teve escrúpulos. Portanto, eu não diria que é um caso de perda de escrúpulos, mas, perda de vergonha mesmo. Os caras perceberam que basta colocar atores famosos e gostosas seminuas que a coisa emplaca, então, para que disfarçar?