sexta-feira, novembro 17, 2006

Devaneios Desimportantes

Uns tempos atrás, eu e a Vivi fomos assistir à peça Kerouac, interpretada pelo Mário Bortolotto. Sem entrar em detalhes muito profundos, porque eu não entendo patavinas de teatro, saí de lá pensando que, talvez, eu tivesse perdido alguma coisa. O Bortolotto interpreta com uma paixão que impressiona, mas a verdade é que eu não consegui gostar da peça. A Vivi que, para quem não sabe, é atriz (quem sabe lamenta, porque ela pendurou as chuteiras precocemente em busca de outros sonhos), foi capaz de detectar o "problema" da peça com mais clareza. Ela disse que o Bortolotto tem uma imensa admiração pelo Kerouac e, às vezes, essa idolatria exagerada atrapalha. Explicando melhor: o Bortolotto começa a peça a 100 por hora e, depois, não tem mais para onde crescer. A interpretação, por fim, fica um pouco prejudicada.

Confesso, também, que me incomodei com umas partes do texto. Isso pode ser frescura minha, mas quando o Kerouac grita, com um ar ameaçador em direção à platéia, frases do tipo: "Pode apostar o seu rabo", isso não quer dizer nada pra mim. Acho que essa expressão é tipicamente americana: You can bet your ass (mais ou menos isso). Eu nunca vi um brasileiro dizer isso. É claro, alguém poderia dizer: Ô, imbecil, o Kerouac era americano. Helloooooo! Eu sei, mas o público é brasileiro. Ou não? A peça foi escrita por um brasileiro, amante de Kerouac, para brasileiros, amantes de Kerouac ou não.

Enfim, pode ser chatice pura da minha parte. Como eu já disse, não entendo merda nehuma de teatro. Mas, muito bem disse o Júlio, uma vez, sobre a música: "Se te fizer bem aos ouvidos, a música é boa; se não fizer, não é". Mais ou menos isso. E eu encaro a arte mais ou menos assim. Dentro das minhas infinitas limitações. Eu não consigo gostar de um quadro que não me diz nada só por causa do contexto histórico, do impacto que causou na época, ou porque o Gombrich, por ventura, disse que o sujeito é um gênio.

Mas eu comecei essa ladainha toda porque eu queria citar uma fala da peça que eu gostei muito (que fique claro que eu não achei a peça ruim). Achei ótimo quando o Kerouac diz: a esquerda diz que eu sou alienado e a direita diz que eu perverto a mente dos jovens. Também é muito divertido a raiva que ele sente dos escritores iniciantes que ficam enviando originais pra ele. Ou quando um jornalista faz a pergunta genial: o que é a geração beat?

Rebobinando: eu gostei da fala do Kerouac sobre a esquerda e a direita porque, várias vezes, eu já fui criticado, tanto por neoliberais quanto por anarquistas. Enquanto eles discutem e eu falo besteira, a vaca já chegou no brejo e está com lama até o pescoço. Você pode apostar o seu rabo!

Estou cansado. Depois do feriado eu continuo.

quinta-feira, novembro 16, 2006

Batalha Social

Não adianta me aquartelar. Eu continuarei trabalhando em operação-padrão. Já que não tem outro jeito, sou a favor do capitalismo-preguiça. Ou seja, trabalhar pouco e ganhar pouco. Essa é a minha meta. Trabalhar pouco e ganhar muito é safadeza, assim como trabalhar muito e ganhar pouco é sacanagem. Eu sei, bilhões de pessoas no mundo são vítimas dessa sacanagem. Há, também, aqueles que sempre acham que estão ganhando pouco e vivem a lamentar: com quinze mil não dá pra fazer nada! Essas pessoas são safadas. Pode dizer o que quiser, mas são safadas.

Vítimas do poder do consumo? É mesmo. Pobre elite. A tentação de trocar de celular, de carro, de guarda-roupa, de computador, de torradeira, de prostitutas e de sei lá mais o quê é muito grande. O sujeito tem um computador que só falta voar e não usa pra nada além de punhetar na Internet e mandar e-mails, mas necessita urgentemente de um computador ainda melhor, que faça com que ele consiga gozar ainda mais rápido.

A outra coitadinha tem um Golf 2006 GTi 2.0 com banco de couro e pensa: meu deus, nós já estamos quase em 2007. Realmente, é hora de trocar de carro. E assim vai. Pobre elite, vítima do bombardeio de propagandas. Tenham pena de nós.

Um elitista já me disse uma vez: o dinheiro é meu, eu faço dele o que eu bem quiser. Certo, mas depois não me venha chorar e exigir pena de morte ao bandido que enfiar um cano na boca da sua namoradinha, patricinha, futilzinha.

É foda, meus amigos, mas nós estamos no meio de uma guerra social. E não adianta dizer: eu não quero me meter. Não tem essa, porque estamos todos dentro desse caldeirão, ainda que alguns pensem que basta morar dentro de um condomínio de segurança máxima pra ficar em segurança. Sinto dizer, mas não existem fortalezas invioláveis. E não existe vida dentro de uma caixa-forte, nem que você se speedifique ao máximo.

Ainda dá tempo, companheiros elitistas. Dá tempo pra frearmos o nosso consumismo desembestado. Dá tempo de pensar num capitalismo menos selvagem.