Gratuidade Relativa
Eu li outro dia em algum lugar (é claro que não foi na grande imprensa, acredito que tenha sido na Carta Maior) que essa brincadeira da qual as pessoas tanto riem, chamada propaganda eleitoral, custa um gordo valor aos cofres públicos (eram quase 200 milhões de reais, se não me falha a memória. Que belo jornalista que eu sou, hein?). Se custa dinheiro aos cofres públicos, implica dizer que custa a mim, a você e àqueles que acham muito engraçado quando aparece o Peroba, ou outras bizarrices quaisquer. Somos nós, pra variar, que pagamos mais essa maldita conta.
Mas é muito errado defender o fim da propaganda eleitoral "gratuita". E por quê? Porque isso significaria que os candidatos teriam que pagar pelo horário e, conseqüentemente, essa medida beneficiaria aos ricos, certo? Ora, o critério que define o tempo que cada partido tem direito a usufruir na televisão é o da representatividade. Significa, então, que os partidos que têm mais votos são aqueles que têm direito a mais tempo na TV e na Rádio. Ou eu muito me engano, ou é preciso dinheiro para se eleger um candidato. Ou seja, o critério já é o do quem tem mais ganha mais. Ou não? E mais: o próprio critério já está baseado num jogo de dados viciados, pois, já que aquele que tem mais tempo na TV tem mais chance de ganhar, como fazer para que o que tem menos tempo na TV tenha alguma chance de mudar esse quadro?
Já que é pra ser assim, que se acabe logo de uma vez com essa propaganda "gratuita", porque nós estamos pagando para legitimar uma farsa. Mas aí eu penso no que seria feito com esse dinheiro que deixaria de ser gasto para as tais propagandas e chego à conclusão de que é melhor imitar o Chico Buarque e me ocupar com umas palavras cruzadas em húngaro.
EM TEMPO: A Michele, amiga da Vivi, falou pra ela que gostou desse meu estilo de escrita meio rabugento (ela disse isso com outras palavras). Obrigado, Michele. Mas dá pra ser de outro jeito? Sinceramente, eu não sou psicótico-melancólico-depressivo por gosto. Juro.