quinta-feira, setembro 21, 2006

Overdose

Quando eu era criança, inventei que queria ser desenhista de histórias em quadrinhos. Grandes merdas. Que criança não teve essa infeliz idéia? Viu como eu já fui normal? E do mesmo jeito que 99,999999999% das crianças normais (0,000000001% vira cartunista mesmo), eu desisti desse projeto, porque dava um puta trabalho. Ter a idéia era legal. E pra elaborar, fazer aquele monte de desenhos todos iguaizinhos do mesmo personagem com cenário e tudo? E pra desenhar as pessoas "agindo"? Impossível. Larguei mão rapidinho.

Eu ainda me lembro que, antes de mandar aquela idéia pro espaço, aprendi a desenhar o Bidu (o que exigia uma presteza incrível) e inventei um personagem chamado Plágio. Bolei umas tirinhas do Plágio atuando com outros cachorros toscos e fui mostrar pro Felipe. Ele perguntou: não tem cenário? Aí eu desisti da minha carreira definitivamente. Eu não me dou bem com esse papo de cenário e de detalhes do figurino. Acho que é por isso que, quando eu escrevo, não fico descrevendo muito. Não tenho saco. Não escrevo: João estava de tênis branco, calça jeans escura, levemente desbotada nas coxas, cinto marrom afivelado no sétimo furo, camisa branca, metade pra fora e metade pra dentro da calça..." Não só não tenho saco como não consigo descrever de maneira atraente. Digo: João chegou em casa, atirou-se no sofá e dormiu até o dia seguinte.

Quando eu tento descrever, meu texto fica arrastado, parecendo o início daquele romance Inocência, do Visconde de Taunay (obviamente sem o mesmo domínio que aquele chato tinha da língua portuguesa) Aquele foi um dos livros mais chatos que eu tive que ler na minha pobre vida, mas eu insisti até o fim. Não vale a pena. Só leia quem realmente precisar (não sei pra quê, enfim...). E não tenham a infeliz idéia de assistir ao filme, que é com a Fernanda Torres. Tão chato quanto o livro. Ou mais.

Isso aqui não é uma crítica contra quem descreve. Ao contrário, é uma auto-crítica (e eu aproveitei pra dar uma espinafrada no visconde, porque ninguém é de ferro). Os melhores escritores da história da literatura sabem utilizar muito bem o recurso da descrição. Cito apenas o Cervantes que, graças ao domínio da técnica supracitada (adoro usar esse termo ridículo) constrói passagens maravilhosas no Dom Quixote.

Minha escrita é meio impaciente e muito reflexiva. Meus personagens pensam demais. E isso me cansa. Pra vocês terem uma idéia, este blog está fundindo a minha cabeça. As outras merdas que eu andei escrevendo também. Já faz três dias que eu fico escrevendo até pelo menos três horas da manhã. E o resultado é que hoje no trabalho eu quase mandei duas pessoas tomarem no cu. Cheguei até a dar um soco na mesa que assustou a Jussara. E muito disso é culpa do blog. Que idéia infeliz eu fui ter, diabos.

Agora é tarde, eu tô morto e fodido. Mas vou logo avisando que, se ninguém me ajudar a escapar das garras da minha própria mente, levarei muitos comigo pra lama. Não pensem que eu deixarei vocês aí, rindo da minha cara impunemente. Caralho, eu tô à beira de um colapso. Acho que eu preciso trabalhar um pouco.

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

http://www.desktopblues.lichtlabor.ch/

11:23 AM  
Anonymous Anônimo said...

Hahahahahahaha caceta Toão, vc deu uma guinada no que estava escrevendo...hahahahahaha pode ter certeza que eu serei um dos que irei junto com vc, pois já viciei em todos os dias abrir este blog e ver qual a grata suspresa que terei. Deixa essas suas ideias malucas fluirem e coloca tudo aqui, que nós vamos juntos no mesmo barco. E quando estiver estressado coloca o tênis e vai fazer uma terapia individual, correndo...
abração mermão.

1:04 PM  
Blogger Tomaz Gouvea said...

Eu não garanto surpresas todos os dias, porque minhas idéias já estão reclamando. Mas eu vou me esforçar.

Abraço.

1:08 PM  

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