sexta-feira, junho 22, 2007
Quando as pessoas te olham feio dentro de um elevador lotado é porque elas suspeitam que você tenha feito algo errado. Algo não muito aceito socialmente. Mas hoje eu estava inocente, e as pessoas me olharam com uma certa desconfiança. Já no corredor do prédio, eu refleti um pouco e cheguei à conclusão de que o povo do elevador pensou que eu era adepto de uma outra prática, não muito aceita socialmente. Pensaram, aquelas inocentes figuras, que eu era o maior cheirador de cocaína. Explico: quando o ar poluído de São Paulo fica seco como nesses dias, me dá uma alergia fudida. E eu não paro de fungar e coçar o nariz. Na noite passada, eu não conseguia nem dormir. Ficarei mal falado por aqui, ou, logo a turma da droga se aproximará de mim.
Mudando de pato pra ganso, ou da cocaína pra cervejinha: depois de quase um ano e quatro meses que eu parei de beber, eu começo a pensar que não é só o pessoal do elevador que faz confusão ao meu respeito. Algumas pessoas que conheciam aquele Tomaz que tomava cerveja dia sim, dia sim, hoje não me reconhecem mais. Acho que um ou outro deve pensar que eu virei um puta de um chato, ou que eu sempre fui chato, mas a bebedeira, tanto minha quanto de um ou outro, disfarçava.
Esse tipo de confusão é muito comum. Quem não se lembra daquele personagem do Chico Anísio, o Nazareno? Nazareno era casado com Sofia, um baita trubufu que ele odiava. Era só ela reclamar: "Nazareno!", que ele respondia: "Calada...Isso não é mulher, isso é o queixo do Quércia". Nazareno é a encarnação (machista, é verdade) de uma série de relacionamentos que tiveram início na mesa de um bar e que só se sustentam na base da cachaça. O casal, na verdade, se odeia; um não tem nada a ver com o outro. Mas, naquela noite em que um e outro exageraram na dose, começa uma história de amor etílico. Em alguns casos, esse relacionamento dura a vida inteira.
Quem nunca foi vítima do amor etílico? Todos nós, é claro. Inclusive, todos nós já vitimamos outras pessoas. Um dia, um conhecido me disse: "Eu nunca dormi com mulher feia, mas já acordei com várias". Nessas horas, amigos e amigas, o melhor a fazer é olhar pra quem estiver do lado e, quando vier aquela pergunta: "Foi bom pra você?", responder: "Calado(a)...", para que não se caia no erro de fazer durar o relacionamento etílico. Ele é um perigo e, caso alimentado (ou embebido), pode levar duas vidas à infelicidade eterna.
quinta-feira, junho 21, 2007
Ô, Freud!
Confesso que fiquei um pouco chocado com uma declaração que o lateral Pedro, do Corinthians, teria dado ao pessoal da Gazeta. A pauta logicamente, era o clássico Corinthians X Palmeiras, que acontecerá no próximo dia 30 de junho. Pedro, que foi formado nas categorias de base do Palmeiras, teria dito mais ou menos isso:
"Eu tenho muitos amigos no Palmeiras. O Edmundo é uma excelente pessoa e, de vez em quando, nós almoçamos juntos. Conheço também Michael, Francis, Diego. Crescemos juntos na base. Mas, no jogo, não tem amizade. Se minha mãe estivesse do outro lado, iria também com tudo porque do pescoço para baixo é tudo canela".
Ô, Pedro: ser amigo do Edmundo ainda vai, mas partir com tudo pra cima da mãe? O que diria Freud diante dessa canelada do jogador corintiano?
Extra, extra!
Eu tenho um furo para divulgar aqui neste singelo espaço: Renan, o amigo dos açougueiros desvalidos da perifa de Maceió, deve mesmo renunciar ao cargo de presidente do Senado. Ainda não se sabe qual será a manobra adotada para evitar aquela impressão de se estar assinando uma confissão de culpa. Renan resolveu dar ouvidos a alguns amigos menos humildes e mais engravatados, que disseram: Não se aperreie, porque no final tudo dará certo. Outra forte influência nessa mudança de postura do senador foi sua mulher de plástico, que, em conversa com as outras mulheres de plástico da alta sociedade de Maceió, se convenceu de que era melhor dar um passo pra trás agora e, mais tarde, dar mil pra frente. Romilda2000-Turbo, modelo plastificado feminino que funciona tanto em 110 quanto em 220 Volts e pode ser encontrada na versão loira aguada e ruiva fatal, ficou na dúvida sobre o significado dessa enigmática frase proferida pela mulher de plástico de Renan. "O duro vai ser agüentar aqueles jornais do sul soltando rojão", resmungou uma boneca inflável que bebia chá calmamente num canto obscuro da sala. "Deixa soltar, porque no final nós é que celebraremos", respondeu Romilda, antes de se levantar e ir a um lugar mais reservado para recarregar a bateria. Todos os amigos, companheiros e bonecas infláveis, depois de muito analisar a jurisprudência, acharam por bem que Renan se afastasse. Ainda não se sabe qual manobra será adotada, mas tudo indica que a velha fórmula do "princípio republicano da liberdade de investigação e não constrangimento aos investigadores" será acionado. Aqui vai um esboço do discurso que está sendo preparado para que Renan leia em plenário nos próximos dias - discurso este que está sendo vendido pelos camelôs de Brasília por apenas R$ 5,00 (se você pagar R$ 10,00 ainda leva todos os planos do Mangabeira Unger para a Secretaria do Futuro, como bem definiu o jornalista, este de verdade, José Paulo Kupfer). Bom, chega de enrolação. Aí vai o discurso:
"Nobres colegas, é com um peso enorme no miocárdio que eu anuncio que, a partir da data de hoje, não terei mais o prazer de presidi-los nesta egrégia Casa. Eu sei que Vossas Excelências, tanto quanto eu, estão consternados, estupefatos, atônitos. No entanto, é por respeito aos meus familiares e à minha querida companheira plastificada, que anda murcha em demasia por conta dessa perseguição que eu tenho sofrido - obra desses covardes da imprensa, da Polícia Federal, do Governo, da oposição, dos supermercados, açougues e casas de carne, e da sociedade como um todo (fora os meus queridíssimos eleitores do meu qureidissimíssimo estado das Alagoas), que eu decidi reavaliar minha posição de jamais renunciar à presidência do Senado.
"Jamais, eu disse, porque sei que nada devo. Apresentei provas mais que cabais que confirmam a minha inocência, inclusive o certificado de santidade que recebi das mãos de um velho cardeal de Maceió, que Deus o tenha. Toda essa documentação foi avaliada por dezenas de peritos da Polícia Federal, que nada encontraram de errado, mas, por estarem pressionados pelos poderosos que temem a minha ação sempre brava e implacável contra os inimigos do bem comum, inventaram uma teoria esdrúxula para colocar a autenticidade dessas provas em dúvida. Não temo essa gente, mas não acho justo que minha família pague por esse complô absurdo. Eu me afastarei da presidência do Senado para ficar mais perto daqueles que me amam e que sabem da minha lisura.
"Ademais, também por respeitar os princípios republicanos da liberdade de investigação, porque pessoas maldosas poderiam dizer que a minha presença na presidência desta Casa poderia constranger, ou inibir os meus colegas encarregados da investigação contra a minha pessoa, eu entrego o cargo que me foi confiado pela maioria absoluta de Vossas Excelências. Portanto, devo pedir desculpas, não por ter feito algo errado, porque a última atitude discutível que eu tomei foi ter atirado um carrinho de ferro na cabeça do meu irmão quando eu tinha quatro anos (ele mereceu, diga-se de passagem). Peço desculpas por declinar, temporariamente, e por motivos alheios à minha vontade, do cargo que me foi confiado, ainda que indiretamente, pela imensa maioria da população brasileira, que Vossas Excelências representam com brilhantismo.
"O tempo dirá quem tem razão. Mas eu não exigirei desculpas daqueles que hoje me caluniam, porque sei que não se pode esperar qualquer atitude de nobreza de pessoas mesquinhas que colocam interesses próprios à frente dos interesses da nossa grande nação. Muito obrigado. "
Eu juro que fiquei tocado com esse discurso. Eu só tiraria a parte do carrinho de ferro, porque pode não pegar bem. De resto, está perfeito. Valeu cada centavo dos R$ 5,00. Quer dizer, dos R$ 10,00, porque eu não resisti e também comprei a lista dos planos do Mangabeira, que também é muito boa.
quarta-feira, junho 20, 2007
Complacência
Vamos que vamos. De metrô. E com o metrô funcionando. Só o meu chuveiro que continua pifado. Mas vamos que vamos. Quem vai de metrô está acostumado com os assentos de cor cinza, aqueles especiais para idosos, gestantes, deficientes e mulheres com crianças de colo. Vira e mexe, alguma voz anuncia ao usuário que ele deve respeitar os avisos de uso preferencial dos assentos de cor cinza.
Hoje eu estava meio sonado, como quase sempre, encostado a uma das paredes do vagão, quando comecei a perceber uma certa indignação no ar. Uma moça, bastante incomodada, comentou com o namorado que o problema do brasileiro era a completa falta de educação, e uma senhora que estava sentada ao lado do casal se levantou para oferecer seu lugar a uma moça que estava com uma criança de colo. Percebi, então, que a revolta nascera porque um sujeito estava tranqüilamente assentado em uma dessas cadeirinhas cinzas, enquanto, em pé, bem à sua frente, uma moça segurava a filhinha de poucos meses de vida no colo.
Logo logo surgiu um outro lugar, em um assento convencional, para a moça se sentar com a filhinha, enquanto o bacana lá nem desconfiava da pisada na bola que havia dado. A moça que estava com o namorado ainda teceu comentários do tipo: "É o fim, viu?" É claro que é o fim. Disso eu não tenho a menor dúvida. É o fim, apesar da boa distância que ainda falta para a estação terminal Tucuruvi.
Dentro de um mesmo vagão, apresentaram-se dois lados de uma mesma moeda do nosso triste país: um é o do sujeito que é incapaz de respeitar uma regra mínima de civilidade, incapaz de desconfiar que uma moça com uma criança de colo, mesmo que não se tratasse de um assento preferencial, mereceria essa preferência (só o fato de precisar de assentos preferenciais já é sintomático); outro é o lado da moça que resmunga baixinho com o companheiro e não toma iniciativa nenhuma pra que a mulher com uma criança de colo tenha o seu direito respeitado. Daí, surgem as famosas frases: "Brasileiro é foda mesmo"; "É por isso que esta merda não vai pra frente".
É por isso, sem dúvida, e por muitos outros motivos. Um deles é justamente este: a nossa falta de iniciativa.
terça-feira, junho 19, 2007
A Felicidade Mora ao Lado
Meu vizinho Zé Sunguinha é que é feliz. Enquanto as desgraças nos assolam e os arautos anunciam que, em breve, estaremos todos na sombria morada de Hades, servindo de alimento para um cão de três cabeças, Zé Sunguinha segue com sua vida, como se nada estivesse acontecendo.
Zé Sunguinha é cinqüentão, solteirão e funcionário aposentado do Banespa da época em que a aposentadoria dos servidores públicos era integral (não é mais, viu pessoal de Veja?). Logo cedo, Zé Sunguinha acorda e liga o rádio para ouvir as notícias. Nada como ser informado, todas as manhãs, através das potentes vozes do bom e velho rádio. Enquanto ouve as notícias novas com cara de velhas, sempre mantendo o bom humor, Zé Sunguinha toma o seu café da manhã, tranqüilamente.
Em seguida, Zé Sunguinha coloca uma roupa apropriada e desce para a sala de ginástica do prédio. Lá, ele aproveita para exercitar os músculos durante a manhã toda. Devidamente, exercitado, Zé Sunguinha, finalmente, faz jus ao apelido. Trajado apenas com sua sunguinha azul-roial, já um tanto gasta pela ação do tempo, e armado com uma toalha de banho, lá vai ele tomar sol (faça chuva ou faça sol). Faça chuva ou faça sol, Zé Sunguinha dá um belo mergulho na piscina do prédio, joga conversa fora com quem quer que esteja por perto e sobe ao sexto andar, ensopando todo o elevador.
Depois de tomar um belo banho, Zé Sunguinha desce novamente, joga uma conversa fora com o porteiro e ruma para a padaria Orquídea, que já teve dias melhores, mas continua lá. Lá, Zé Sunguinha, enquanto toma sua cervejinha, joga conversa fora com quem estiver por perto. Fala de futebol, das notícias importantes do dia (término do namoro de Alemão com Siri, bandeirinha Ana Paula vai posar nua na Playboy e outros escândalos do momento) até voltar pra casa, mais alegre do que nunca.
Em casa, Zé Sunguinha coloca um dos seus discos de vinil da Celly Campello no último volume, para, depois, embuído pela inspiração do momento, praticar um pouco com seu velho violão. Mais tarde, Zé Sunguinha desce novamente, conversa com o porteiro novamente, vai à padaria novamente e joga conversa fora novamente enquanto bebe mais uma cervejinha. Assim acaba o dia de Zé Sunguinha. Zé Sunguinha só se queixa de duas coisas: da síndica perdulária que quer instalar um ofurô no prédio e da falta de tempo para curtir um cineminha. Zé Sunguinha é que é feliz.
Coleguismo
Esse episódio do Renan Calheiros tem servido direitinho pra exercitar a nossa capacidade de indignação. Quando o senador Epitácio Cafeteira - antes de arranjar uma licença tão verdadeira quanto os recibos do Calheiros pra se livrar da relatoria - diz que seu colega deveria ser absolvido porque provou ter condições de pagar as gordas pensões à Mônica, na verdade ele está dizendo o que todo mundo sabe: que rico no Brasil está liberado pra cometer crimes. É só ter dinheiro que a coisa tá resolvida. De vez em quando, a Polícia Federal pega um ou outro boi de piranha só pra não perder completamente a credibilidade. E os nossos bois de piranha de luxo, logo conseguem direito de responder o processo em liberdade e, quando condenados, emplacam um regime aberto. Claro, pra rico vale sempre aquela história toda de réu primário com bons antecedentes.
Chegamos a um ponto tão crítico da nossa curta história republicana que seria preciso adaptar a famosa frase, que no Brasil ficaria bem encaixada desta forma: aos ricos, tudo, aos pobres, os rigores (nunca os benefícios) da lei.
"Você já viu pobre conhecer rico?" Foi com essa indagação que um dos supostos compradores dos bois de Renan Calheiros respondeu ao repórter da Globo se ele conhecia o senador. Não, né? No Brasil, o rico só conhece o pobre em época de eleição. Em época de eleição, tenho certeza que o Renan Calheiros vai a essas periferias de Maceió e ao interior de Alagoas pra comer buchada e tomar uma cachacinha. Ou seja, de oito em oito anos, porque o Senado lhe caiu muito bem.
O Senado caiu muito bem ao Renan Calheiros porque é o local onde mais se cativa o coleguismo. Se essa instituição está sangrando, como disse o colega de partido do Renan Calheiros, o ex-governador de Pernambuco Jarbas Vasconcelos, eu não sei. Mas o que não pára de jorrar das entranhas do poder público, seja qual for, é muita merda. É tanta merda que, às vezes, transborda.
Sim, chegamos a um ponto crítico. Tão crítico que o Renan Calheiros, na maior tranqüilidade, apresenta recibos evidentemente falsos para justificar vendas de bois que quase chegam a R$ 2 milhões. Agora vem a simples pergunta, que até uma criança de seis anos que estuda num colégio público de São Caetano do Sul seria capaz de responder, sem chocar seus pais: "Se não tem mutreta nesta história, por que está tão complicado comprovar a origem do dinheiro?"
É claro que tem mutreta, responde a criancinha de seis anos. Até ela sabe. Mas o Renan Calheiros, atualmente, é um grande líder do PMDB, o fiel da balança que tem dado tanta tranqüilidade ao Governo Lula. Quanto à oposição composta por PSDB e PFL... ops, quer dizer, DEM, esta também não parece muito empenhada em causar problemas ao parceiro de outrora e potencial parceiro de um futuro não tão longínquo assim. Tanto é assim que o próprio PSDB incumbiu à sua filial disfarçada (mal disfarçada, por sinal), o PPS, de, em parceria com PV e PSOL, chatear o Renan Calheiros.
É por isso que o Zé Simão diz, diretamente do país da piada pronta, que essa história do Renan Calheiros não vai acabar em pizza e, sim, em churrasco. Está armada a churrascada para breve, e vocês podem ter certeza que nenhum pobre será convidado - a eleição ainda está longe.
segunda-feira, junho 18, 2007
Bizarrice
Meus caros sobreviventes: vocês viram o questionário que foi distribuído pelo Conselho Tutelar, com aprovação do juiz da Vara da Infância e da Juventude, aos alunos das escolas públicas de São Caetano do Sul? Não, isso não é um exemplo de canetaço. Isso é um exemplo da total falta de noção de como se deve tratar de assuntos considerados delicados, como sexo e drogas, com as crianças e adolescentes. Perguntar para uma criança de seis anos: "Com quem você toma banho?", ou "Que tipo de brincadeira você faz com seu irmão?", pra tentar descobrir se as crianças estão sendo vítimas de abusos, isso é de uma estupidez sem tamanho.
Não digo que é estúpido querer proteger nossas crianças de abusos sexuais. Lógico que não é. É louvável. Mas quem, em sã consciência, pensou que esse questionário bizarro seria a maneira mais correta e eficiente de fazer isso? Resultado: os pais ficaram chocados, os pequenininhos não entenderam nada e os maiores devem ter dado boas risadas. Imagina você, aos quinze anos, tendo que responder: "Você é homossexual ou heterossexual?" Dá pra levar a sério um troço desses? Tá faltando idéia pra esse povo do Conselho Tutelar.
Parece que eles também queriam saber, com esse genial questionário, se os alunos estavam expostos a drogas e a doenças sexualmente transmissíveis. Por isso havia perguntas do tipo: "Você beija na boca?". Eu, se fosse aluno da escola pública de São Caetano, perguntaria ao pessoal do Conselho Tutelar e a esse juiz tapado: "Jacaré no seco anda?"; "Seaquinevasseceandavadesqui?"; "Setembrochove?". Essas coisas.
Educadores do meu Brasil: uni-vos!
Previsão do Tempo
Primeiro, o meu chuveiro, depois o metrô e, agora, o meu botão de ligar o foda-se. Tudo está se quebrando. A única coisa que não pifa, graças à contínua e meticulosa manutenção feita pelo fiel Esfeluntis, é esta merda de blógui. Enquanto não fundir o computador, eu continuo com a essa boa e velha masturbação mental, até esfolar os meus neurônios. Hoje eu acordei sem tesão pra escrever, diferentemente de segunda-feira passada, quando eu mandei ver uns quatro textos seguidos, batendo o meu recorde pessoal. Acordei meio desanimado. Saí de casa sem escovar os dentes e ainda esqueci de deixar o dinheiro da Marinalva, que já era pra eu ter deixado na quinta-feira passada. Eu sei, sou um péssimo patrão.
Não sei ser patrão. Pra falar a verdade, também não sei ser empregado e não sei trabalhar. Ontem mesmo eu tive que confessar ao Lino que odeio o jornalismo. Odeio essa porra toda. Só não odeio escrever merda, mas isso ninguém quer me pagar pra fazer. Por que será? Não dá pra entender. Não dá mesmo. Por que será, também, que ninguém quer me pagar pra escrever coisas sérias? Eu sei escrever coisas sérias. Mas agora eu não estou com vontade e meu estômoago não pára de roncar. Calma, meu velho: ainda é meio-dia e trinta e dois. Eu gosto de almoçar tarde porque, quando eu volto, falta menos pra acabar o dia. Triste?
É, estou desanimado e triste. O que eu posso fazer? Amanhã estarei taciturno e misterioso; quarta-feira, estarei nervoso e cansado; quinta-feira, estarei irônico e cruel, fazendo comentários ácidos a respeito dos meus colegas de trabalho (pelas costas, é claro); sexta-feira estarei disperso e sonhador; sábado estarei lépido e temeroso (não sei por quê); e, domingo, estarei carregado de nuvens, sujeito a pancadas de chuva. Esta é a previsão do meu humor para a semana, mas, tanto os astros, quanto as notícias de jornal e os institutos metereológicos, todos podem se enganar. Pode ser, então, que aconteça tudo ao contrário, ou que na quinta-feira eu resolva dizer o que eu penso de todos cara a cara. Na sexta, provavelmente, estarei morto e esfolado.
Hoje eu odeio o jornalismo. Mas amanhã eu posso detestá-lo com todas as minhas forças. Vai saber? Não dá pra prever nada hoje em dia. Apenas que o aquecimento global liquidará com a vida na Terra em 30 anos, de acordo com a corrente otimista. Pô, hoje é segunda-feira. Vê se me dá um desconto.