Complacência
Vamos que vamos. De metrô. E com o metrô funcionando. Só o meu chuveiro que continua pifado. Mas vamos que vamos. Quem vai de metrô está acostumado com os assentos de cor cinza, aqueles especiais para idosos, gestantes, deficientes e mulheres com crianças de colo. Vira e mexe, alguma voz anuncia ao usuário que ele deve respeitar os avisos de uso preferencial dos assentos de cor cinza.
Hoje eu estava meio sonado, como quase sempre, encostado a uma das paredes do vagão, quando comecei a perceber uma certa indignação no ar. Uma moça, bastante incomodada, comentou com o namorado que o problema do brasileiro era a completa falta de educação, e uma senhora que estava sentada ao lado do casal se levantou para oferecer seu lugar a uma moça que estava com uma criança de colo. Percebi, então, que a revolta nascera porque um sujeito estava tranqüilamente assentado em uma dessas cadeirinhas cinzas, enquanto, em pé, bem à sua frente, uma moça segurava a filhinha de poucos meses de vida no colo.
Logo logo surgiu um outro lugar, em um assento convencional, para a moça se sentar com a filhinha, enquanto o bacana lá nem desconfiava da pisada na bola que havia dado. A moça que estava com o namorado ainda teceu comentários do tipo: "É o fim, viu?" É claro que é o fim. Disso eu não tenho a menor dúvida. É o fim, apesar da boa distância que ainda falta para a estação terminal Tucuruvi.
Dentro de um mesmo vagão, apresentaram-se dois lados de uma mesma moeda do nosso triste país: um é o do sujeito que é incapaz de respeitar uma regra mínima de civilidade, incapaz de desconfiar que uma moça com uma criança de colo, mesmo que não se tratasse de um assento preferencial, mereceria essa preferência (só o fato de precisar de assentos preferenciais já é sintomático); outro é o lado da moça que resmunga baixinho com o companheiro e não toma iniciativa nenhuma pra que a mulher com uma criança de colo tenha o seu direito respeitado. Daí, surgem as famosas frases: "Brasileiro é foda mesmo"; "É por isso que esta merda não vai pra frente".
É por isso, sem dúvida, e por muitos outros motivos. Um deles é justamente este: a nossa falta de iniciativa.
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