Contribuição de Dr. Y
Já que eu não escrevinho mais, que os grandes amigos que têm o que dizer supram essa minha secura de idéias. Minha Vivi já lançou a pergunta: será que o concurseiro matou o artista? Eu diria que o escrevinhadeiro só está em algum boteco tomando umas cervejas pra compensar que eu não bebo há mais de dois anos. Quando ele voltar "assim cansado, maltrapilho e maltratado, como vou me aborrecer? Qual o quê?" (Trecho de "Com açúcar e com afeto", de Chico Buarque, citado por mim com a devida impropriedade) Enquanto isso, desfrutem da excelente contribuição do meu querido amigo Ygor, mais conhecido por essas bandas como Dr. Y. Segue abaixo:
Pela honestidade acadêmica
Ygor Colalto Valério
Preste bem atenção: Charles Darwin, que virou do avesso e de cabeça pra baixo o mundinho científico do século XIX, e contribuiu com uma das mais importantes teses científicas de todos os tempos, admitiu, em 1871, como cientista que era, que o Lamarckismo poderia atuar como “força auxiliar” da evolução das espécies. Fez isso porque não conseguia responder a uma questão genética formulada por um completo desconhecido chamado Fleeming Jenking (ahn?).
Fleeming dizia o seguinte: ô Darwin, se é verdade que a idéia toda é que as características mais interessantes são preservadas ao longo das gerações, por que é que os caracteres genéticos parecem se diluir com o passar do tempo? Homens de pele escura que têm filhos com mulheres de pele clara produzem uma prole de cor intermediária. Então imagine só que o fortão das selvas cruza com a mocinha fraca e indefesa, e gera um filho nem fortão, nem indefeso. O ideal não seria que ele só gerasse um filho fortão?
A resposta para esse enigma só viria dezoito anos depois da morte de Darwin, com a publicação das experiências das ervilhas feitas por Gregor Mendel. Confirmava-se a teoria de Darwin, com a comprovação de que os caracteres genéticos não se combinam formando um meio termo – alguns são preservados integralmente. Essa constatação não só afasta a dúvida levantada por Fleeming como reforça ainda a tese darwinista de seleção natural do mais apto.
Tecnicismos genéticos à parte, o pedaço mais interessante dessa história é justamente o fato de que, mesmo tendo sido incrivelmente brilhante, famoso, e tendo desenvolvido uma sólida fundamentação para a sua tese, Darwin foi honesto o suficiente para dizer que não conseguia explicar um dos milhares de porquês, e chegou até mesmo a reconhecer a possível validade subsidiária da tese inimiga.
Em um mundo de dissertações de mestrado que deveriam ser contra-exemplos de trabalhos do ensino médio, no mar de achismos, mentiras e opiniões furadas em que nossas ciências (especialmente as humanas) se encontram, em meio à escassez de gente que realmente sabe do que diabos está falando ou que ao menos se dá ao trabalho de pesquisar um fundamento qualquer para as suas opiniões, o exemplo de Darwin é reconfortante.
Gostaria que esse exemplo fosse conhecido por todos os charlatões de plantão e por todas aquelas pessoas que insistem em ter uma opinião pra todas as coisas. É muito provável que nenhuma delas leia o blog do escrevinhadeiro, mas posso, pelo menos, compartilhar aqui o meu descontentamento. Vamos nos unir contra a chinelagem generalizada!
PS: Quem quiser uma análise genial sobre o surgimento do darwinismo por ler a excepcional matéria do Otávio Frias Filho na Piauí de Março.
Preste bem atenção: Charles Darwin, que virou do avesso e de cabeça pra baixo o mundinho científico do século XIX, e contribuiu com uma das mais importantes teses científicas de todos os tempos, admitiu, em 1871, como cientista que era, que o Lamarckismo poderia atuar como “força auxiliar” da evolução das espécies. Fez isso porque não conseguia responder a uma questão genética formulada por um completo desconhecido chamado Fleeming Jenking (ahn?).
Fleeming dizia o seguinte: ô Darwin, se é verdade que a idéia toda é que as características mais interessantes são preservadas ao longo das gerações, por que é que os caracteres genéticos parecem se diluir com o passar do tempo? Homens de pele escura que têm filhos com mulheres de pele clara produzem uma prole de cor intermediária. Então imagine só que o fortão das selvas cruza com a mocinha fraca e indefesa, e gera um filho nem fortão, nem indefeso. O ideal não seria que ele só gerasse um filho fortão?
A resposta para esse enigma só viria dezoito anos depois da morte de Darwin, com a publicação das experiências das ervilhas feitas por Gregor Mendel. Confirmava-se a teoria de Darwin, com a comprovação de que os caracteres genéticos não se combinam formando um meio termo – alguns são preservados integralmente. Essa constatação não só afasta a dúvida levantada por Fleeming como reforça ainda a tese darwinista de seleção natural do mais apto.
Tecnicismos genéticos à parte, o pedaço mais interessante dessa história é justamente o fato de que, mesmo tendo sido incrivelmente brilhante, famoso, e tendo desenvolvido uma sólida fundamentação para a sua tese, Darwin foi honesto o suficiente para dizer que não conseguia explicar um dos milhares de porquês, e chegou até mesmo a reconhecer a possível validade subsidiária da tese inimiga.
Em um mundo de dissertações de mestrado que deveriam ser contra-exemplos de trabalhos do ensino médio, no mar de achismos, mentiras e opiniões furadas em que nossas ciências (especialmente as humanas) se encontram, em meio à escassez de gente que realmente sabe do que diabos está falando ou que ao menos se dá ao trabalho de pesquisar um fundamento qualquer para as suas opiniões, o exemplo de Darwin é reconfortante.
Gostaria que esse exemplo fosse conhecido por todos os charlatões de plantão e por todas aquelas pessoas que insistem em ter uma opinião pra todas as coisas. É muito provável que nenhuma delas leia o blog do escrevinhadeiro, mas posso, pelo menos, compartilhar aqui o meu descontentamento. Vamos nos unir contra a chinelagem generalizada!
PS: Quem quiser uma análise genial sobre o surgimento do darwinismo por ler a excepcional matéria do Otávio Frias Filho na Piauí de Março.