sexta-feira, junho 15, 2007

Caos no Metrô

Não é só o meu chuveiro que pifa. O metrô de São Paulo também passa por problemas elétricos. O de hoje, com certeza, foi bem grave. Pois é, quando o chuveiro elétrico de uma pessoa que mora sozinha pára de funcionar, uma pessoa se fode e tem que tomar banho frio; quando o metrô pifa, milhões de pessoas se fodem e têm que se virar pra chegar em casa. Acredito ser esta a principal diferença entre o meu chuveiro e o metrô.
Quando eu cheguei à estação Sé, lá pelas 18h40, para retornar ao meu lar, doce lar, encontrei um clima meio tenso e rostos um tanto apreensivos. Ao passar a catraca, dei de cara com um aviso mais ou menos assim: "Velocidade reduzida na Linha 1-Azul. Não há previsão de quando essa merda será desfeita". Não seria uma velocidade reduzida que me intimidaria, ainda mais depois de já ter pago a passagem.
Desci o primeiro lance de escada e, ao contorná-la para chegar à plataforma, sentido Jabaquara, encontrei uma multidão incomum, mesmo para o horário. Fui em frente e consegui descer o segundo lance de escada, mas foi encostar a sola do meu pisante no chão da plataforma para que eu ouvisse uma mulher um tanto inconformada perguntar para um daqueles men in black que trabalham no metrô: mas como eu saberei se o trem vai para Jabaquara ou Tucuruvi? Como assim?, pensei. Nisso, uma voz soturna anunciou pelo sistema de som: "Atenção, o próximo trem irá em direção a Tucuruvi, passando direto pela estação São Bento". A mesma voz soturna já havia anunciado que, além da estação São Bento, as estações Luz e Liberdade também estavam fechadas.
Não tenho alternativa, pensei. O jeito era alcançar uma das extremidades da plataforma e aguardar o desenrolar da confusão. O desenrolar, realmente, foi bastante enrolado, porque na Sé estava sendo usada a mesma linha para ambos os sentidos (Tucuruvi e Jabaquara). Isso causou uma puta confusão, porque dividiam a mesma plataforma, amontoadas, pessoas que queriam ir, tanto para a zona norte quanto para a zona sul. Uma senhora até perguntou: "Mas como eles estão fazendo isso?" Um sujeito respondeu: "Logo lá na frente o metrô faz um desvio e pega o outro lado da linha", e completou: "Mas se a gente ouvir um estrondo, é porque algo deu errado".
Quando chegou o primeiro trem em direção a Tucuruvi, quem queria ir a Jabaquara teve que dar licença para a turma do Tucuruvi. Veio, então, mais um metrô em direção a Tucuruvi. Mais uma vez, a turma do Jabaquara, que já estava a postos pra saltar no trem seguinte, teve que dar licença. Terceiro trem para Tucuruvi, e a galera começou a ficar impaciente. Quando chegou o quarto trem, que também vinha com direção a Tucuruvi, a galera do Jabaquara, que já estava se sentindo preterida, ameaçou iniciar uma revolta (eu já havia dito em uma crônica de meses atrás que, se houvesse alguém carismático na estação Sé, a revolução teria estourado; repito o mesmo aqui. Portanto, se alguém quer encabeçar uma revolução neste país, que freqüente mais vezes a estação Sé, porra!).
Mais um metrô parou, desta vez vazio, e uma voz simpática, apesar de grave, anunciou: "Este trem seguirá em direção a Jabaquara". A turma do Jabaquara avançou para dentro dos vagões como se fora uma massa só, levando a turma do Tucuruvi de embrulho, turma esta que foi obrigada a sair pelo outro lado do vagão se não quisesse ver o seu destino se afastar cada vez mais. Enfim dentro de um vagão completamente abarrotado - é óbvio - eu ainda escutei uma mulher dizer: "E o papa não quer que seja feito um controle de natalidade". Um sujeito respondeu que aquele assunto era bem polêmico, e a mulher não teve dúvidas na resposta: "Polêmico porque eles não querem perder o dinheiro que vai para o Vaticano". Se o revolucionário estivesse naquele vagão, teria se apaixonado.
Depois de muito sufoco, eu consegui descer na estação Paraíso para pegar a linha verde até as Clínicas. Do Paraíso até as Clínicas, em todas as paradas, uma mulher anunciava mais ou menos isso: "Atenção, devido a um problema elétrico no sistema de vias, os trens estão circulando com velocidade reduzida e com maior tempo de espera nas paradas; a linha 1, azul, encontra-se paralisada". Paralisada? Acho, então, que eu acabei dando uma puta sorte de pegar o último metrô da linha azul, porque, depois, parece que tudo parou de vez, descontentando tanto tucuruvienses quanto jabaquarianos. Quando eu cheguei nas Clínicas, já estava sendo anunciado: "A linha 1 azul encontra-se paralisada; favor não utilizar as estações Paraíso e Ana Rosa".
Primeiro o meu chuveiro, agora o metrô. Estaríamos nós diante da revolta das máquinas? Qual será o próximo aparelho elétrico a descarrilar? E por onde anda esse maldito revolucionário, que não chega nunca? No Tucuruvi ou em Jabaquara?

Decadência

Quando eu fiquei sabendo ontem que almoçaria no Maksoud Plaza, foi inevitável lembrar que, quando eu era moleque, o Maksoud era O HOTEL de São Paulo. Muitos paulistanos tinham o sonho de passar ao menos uma noite em uma das suítes daquele prédio que arrancava suspiros dos transeuntes que o enxergavam da Avenida Paulista. Ah, o Maksoud... Quando eu tinha 14 anos, meu irmão contou que, depois da festa de formatura dele, sua turma iria ao Maksoud tomar café da manhã. Ah, o Maksoud... Confesso que fiquei com inveja.
Da minha infância pra cá, muitos hotéis foram construídos nesta cidade. Isso é óbvio. E o Maksoud foi perdendo o seu status de O HOTEL de São Paulo. Hoje, é a imagem da decadência, a ponto de sua tapeçaria chique cheirar a mofo. Pois é, ontem eu fui fazer um freelance em uma conferência da CNI, no prédio da Fiesp, e o almoço foi lá no Maksoud Plaza. Devo dizer que o almoço não teve gosto de infância. Foi um almoço, por assim dizer, honesto, uma comidinha bem comum, bem razoável. Tenho certeza que, em qualquer restaurante por quilo dos arredores da Paulista, eu teria comido bem melhor. Mas eu não podia deixar de entrar, finalmente, depois de tantos anos, nas dependências do Maksoud, mesmo sabendo que não se tratava mais daquele Maksoud da minha infância (ainda mais que eu sempre fui adepto daquele velho lema: de graça, até ônibus errado).
Ah, o Maksoud... minha antiga referência de hotel, mesmo sem nunca ter pisado lá antes do almoço de ontem. Na escola, de volta às aulas, eu trocava aquela velha conversa com meus amigos: onde você foi nas férias? Como foi? Que tal o hotel? E muitas vezes se ouvia aquela resposta: "Ah, não era, assim, um Maksoud, mas o hotel era muito bom". Se alguém disser isso hoje, será motivo de piada, ou de incompreensão. Ah, o Maksoud... já era.

terça-feira, junho 12, 2007

F...

Estou com vontade de ligar o foda-se. Corrupção no governo? Foda-se. Corrupção no legislativo e no judiciário? Foda-se. União pela corrupção? Foda-se. Corrupção nas polícias, nas empresas estatais, nas autarquias, nas empresas de economia mista, nas empresas privadas, na grande indústria, nas universidades, nas redes de supermercado, nas padarias, mercearias, açougues e mercadinhos? Foda-se, foda-se, foda-se. Corrupção no terceiro setor, na imprensa, nos escritórios dos profissionais liberais? Foda-se. Corrupção nos hospitais, nos consultórios, nas casas de entretenimento, nos cinemas, nos teatros, nos clubes, nos museus, no circo, nas igrejas, nos templos, nas ruas e avenidas, casas, apartamentos, favelas, cortiços, entre quatro paredes e, também, fora delas? Foda-se. Corrupção intermunicipal, interestadual, interamericana, intercontinental, global, geral, interplanetária, intergaláctica? Corrupção pantanosa, orgânica, subcutânea, sociedade apodrecida, humanidade perdida? Corrupção pra caralho, em tudo que é canto, de tudo que é jeito, tamanho, cor e sabor? Foooooooooooooooooooooooooooooda-se.
Sobrou uma viuvinha? Foda-se

segunda-feira, junho 11, 2007

Maracutaia no STJ

Vale a pena ler a mensagem abaixo, que a Vivi recebeu de um advogado da União:
"VERDADEIRA VERGONHA NACIONAL - A CARA DA JUSTIÇA BRASILEIRA. MARACUTAIA BENEFICIA FILHA DE MINISTRO DO STJ Gloria Maria Lopes Guimarães de Pádua Ribeiro Portella, filha do ministro do STJ Antonio de Pádua Ribeiro, aquela que entrou com queixa de assédio sexual contra o ministro do STJ Paulo Medina, acaba de conseguir uma decisão na justiça federal que é uma imoralidade e um desrespeito sem tamanho ao direito de candidatos a concursos públicos.O processo é a ação ordinária Nº 1998.34.00.001170-0 classe 1300 que está no Tribunal regional federal da 1ª região ( www.trf1.gov.br), autora Gloria M P Ribeiro e Rés a União Federal e Fundação Universidade de Brasília.Gloria Maria fez concurso público pela Cespe-Unb para o cargo de técnico-judiciário, área-fim em 27/05/95 para o STJ onde seu pai é ministro.Foi reprovada na prova objetiva. Entrou com uma ação cautelar e, advinhem, obteve liminar. Fez a prova da segunda fase, a prova discursiva.Foi reprovada novamente. Entrou com nova ação para ver seus pontos aumentados. Adivinhem: ganhou nova liminar e mais: foi "nomeada provisoriamente" e está ganhando esse tempo todo no tribunal do papai (desde 1995!).Detalhe: Havia tirado 13,45 pontos e pediu que esses pontos fossem elevados a 28,22. Parece brincadeira, mas conseguiu. Seus pontos foram elevados num passe de mágica. O caminho das pedras foi arranjar um "professor particular" (isso mesmo!) que corrigiu sua prova, para quem estava tudo mais que certinho, e praticar o tráfico de influência de seu pai ministro, Antônio Pádua Ribeiro.Aí veio o julgamento do mérito do caso. O juiz federal de Brasília (1ª instância), José Pires da Cunha, não caiu nessa e refutou o pedido que considerou ilegal e imoral e ainda condenou Gloria Maria Pádua Ribeiro nas custas e honorários de R$10.000,00 (ainda existem juízes!), mas houve recurso ao tribunal regional federal da 1ª região e, advinhem, os juízes Fagundes de Deus, João Batista e Antonio Ezequiel louvaram a candidata, analisaram timtim sua prova e aprovaram-na com louvor.Debalde a Universidade de Brasília (UNB) peticionou dizendo que a prova foi igual para todos e não seria justo que um professor escolhido pela candidata corrigisse sua prova, a não ser que o mesmo professor corrigisse a prova de todos. É justo? Debalde a UNB argumentou que pela jurisprudência o judiciário não corrige provas de concurso devido a independencia das bancas e porque senão a justiça não faria mais nada a não ser se transformar numa super-banca dos milhares de concurso Todo mundo sabe o que houve nos bastidores. Houve apostas no meio jurídico se a "banca pádua ribeiro" iria conseguir. Veio agora recentemente a sentença do trf 1ª região 5ª turma que é mais um descalabro mostrando necessidade do controle externo. Pádua Ribeiro e sua patota espoliaram o verdadeiro dono da vaga que disputou em igualdade de condições e passou.Passou e foi preterido! Gloria Maria de Pádua Ribeiro ganhou no tapetão sujo do tráfico de influência. De 13 pontos passar a 28 quando um décimo veja bem: um décimo, já elimina muitos candidatos! A sentença analisa as preposições, as conjunções, a virgulação, a ortografia da redação, acatando a tese da "banca Pádua-Ribeiro".Nem tudo está perdido. Existe recurso para o STJ e STF e todos esperam que a união federal, a advocacia da união e o ministério público federal não fiquem coniventes. Se Glória Maria Pádua Ribeiro perder a causa perde o cargo e o verdadeiro dono da vaga, pobre mortal sem padrinhos, será chamado.E agora vem a chave de ouro a deixar claro que este País não é sério mesmo. O mesmo Pádua Ribeiro, ministro do STJ, pai da falcatrua acima relatada e de muitas outras praticadas por sua mulher, a famosa "Glorinha", está prestes a assumir o cargo de Corregedor do Conselho Nacional de Justiça (o chamado controle externo), conforme noticiado nos jornais.Estranho??? ........"O pais não é sério.""
Infelizmente, esta não é mais uma piada ou besteira do escrevinhadeiro. O negócio é sério mesmo. O que fica difícil é acreditar na seriedade da Justiça brasileira. O que fica difícil é evitar que se diga que nós vivemos num país de merda. Ainda na esperança que não passasse de uma piada de mau gosto, ou de uma daquelas difamações falsamente consternadas que circulam pela Internet com absurdos - como aquela que dizia que "o Lula quer confiscar a poupança dos brasileiros, é por isso que agora ele conseguiu o apoio do Collor, espalhe este e-mail para o máximo de pessoas..." - eu chequei o número do processo que está na mensagem e fiz a pesquisa no site do TRF, 1ª Região, que também está na mensagem. Está lá, pra quem quiser ler. A porra do processo existe, está lá: Autor: Glória Maria Lopes Guimarães de Pádua Ribeiro; réu: União Federal; co-réu: Fundação Universidade de Brasília.
Antônio de Pádua Ribeiro, casado com Ívis Glória Guimarães de Pádua Ribeiro, pai de Maria Antonieta, Glória Maria (a dita cuja), Andréa e Clodoaldo, ministro do Superior Tribunal de Justiça, é, atualmente, Primeiro Corregedor Nacional de Justiça do Conselho Nacional de Justiça. Sim, o CNJ, o tal conselho que foi criado para funcionar como órgão controlador do Judiciário. Essas informações foram retiradas do site do STJ.
Sobre a acusação de assédio sexual, feita pela mesma Glória, ao Ministro Paulo Medina, que teve o nome envolvido pela Polícia Federal naquela Operação Hurricane, dêem uma olhada nesta matéria: "Sob suspeita" , que foi publicada no site do Conjur, matéria que eu coloquei aqui como mais uma prova de que a mensagem é séria e de que não se trata de uma dessas difamações que eu citei.
Pois é, o circo está completo. A menininha, filha do Ministro do STJ, é "aprovada" em concurso público numa canetada extraordinária, coisa que eu imaginava que acontecesse nos tempos do Império. Mas não. Aconteceu em 1995 e ainda está acontecendo. Há doze anos, a filhinha de um Ministro do STJ recebe o salário no lugar de uma pessoa que lutou pra ser aprovada em concurso. Ela roubou uma vaga na cara dura, com a ajuda do papai, e essa merda não se desfez (e tenho minhas dúvidas se vai ser desfeita). Se o Ministro Medina a confundiu com "as vagabundas das Minas Gerais" eu não sei, mas que essa corja devia estar muito longe de um lugar como o STJ, disso eu não tenho a menor dúvida.
Desculpem a minha indignação. Eu ainda tenho essa capacidade, mesmo vivendo no país dos escândalos, dos fisiologismos, dos cabides de emprego, do coleguismo, do corporativismo, de sei lá mais quantos ismos existem por aí. Estou tão indignado que não sei mais nem o que estou escrevendo. Melhor parar por aqui.

Aí Tem...

Voltei com vontade de falar muita merda. Estou com força total. E não poderia deixar de dizer que, em homenagem à maior parada gay do mundo, o nosso querido prefeito Gilberto Kassab se entregou bonito ontem. Calma, o prefeito não soltou a franga durante o desfile. Se bem que, dizem as más línguas, vontade para isso não lhe faltou. Acontece que algum repórter, desses meio maldosos que existem por aí, perguntou ao Kassab: "Prefeito, caso o senhor fosse homossexual, o senhor assumiria publicamente?". Em resposta, Kassab partiu para a defensiva, dizendo que não é gay. Pra que essa fúria toda, seu? Afinal, a pergunta não tinha sido essa. Bicha burra é fogo. Agora, ele merece o coro ou não merece, meus caros fantasmas? Merece! Então vamos lá: Viadinho! Viadinho! Viadinho! Aqui, lançamos a campanha: Assuma, Kassab. Se o Kassab assumir que é gay, eu juro que voto nele. Assuma, Kassab!

Imprensa Livre

Já que estamos falando de imprensa, vale um comentário sobre o jornal "Imprensa Livre", do litoral norte de São Paulo, que eu tive o prazer de ler nesse feriado. Acredito que o nome do jornal tenha sido mal interpretado pelos jornalistas que lá trabalham. Estes entenderam, provavelmente, que podem bolar manchetes sem limites de tamanho, legendas nada esclarecedoras, ou, em alguns casos, esclarecedoras até demais, como no caso do telefone. Sim, na matéria cujo título é: "Golpes pelo telefone preocupam empresa de comunicação", há uma pequena foto de um aparelho de telefone com uma mão segurando o fone e a brilhante legenda: "Telefone". Já pensou você se não houvesse essa legenda? Ninguém entenderia que se tratava de um aparelho de telefone. O mais incrível é que a matéria não precisava de nenhuma ilustração. Mas, alguém achou uma boa idéia e pediu para o fotógrafo Halsey Madeira, que assina a obra, caprichar na foto de um aparelho telefônico com aquela mão misteriosa segurando o fone.
Outro detalhe sobre esse jornal: eles são chegados numa viuvinha. Pra quem não é do ramo, viuvinha é aquela palavrinha indesejada que sobra na linha de baixo. Em geral, a viuvinha não é desejável nem no corpo do texto, muito menos no título. No Imprensa Livre, eles não se preocupam com esses detalhes. Seria bom ensinar o diagramador do jornal, que deve ser irmão do Halsey, a justificar o texto. Até nos títulos centopéicos, que muitas vezes ocupam três linhas, o sujeito alinha tudo à esquerda. Ô, amigo, centraliza essa porra. Faz como eu aqui no blógui do escrevinhadeiro, oras.
Pra se ter uma idéia dos títulos centopéicos, a manchete principal do jornal é esta: "Feriadão: 50 mil veículos devem descer a serra rumo ao Litoral Norte. A previsão é de Sol e praias próprias para o banho". Ótimo, depois de ler essa manchete, quem vai se preocupar em ler a matéria? Os sujeitos conseguiram colocar todas as informações logo na manchete. Deveriam parar por aí.
Ao lado da foto principal, que bem observou o Lino, está com uma legenda nada esclarecedora: "Apesar da boa previsão do tempo, hotéis e pousadas da região devem ficar com menos de 50% de ocupação no feriado" - essa foto é de onde, porra? - os caras conseguiram fazer uma chamada espremida que ocupa nada menos que seis linhas. Abaixo da palavra "Ubatuba": "Cidade quer criar um planejamento regional antes da instalação do gasoduto". Definitivamente, precisamos chamar alguns diagramadores para acabar com essa anarquia.
A anarquia também costuma invadir os textos. Essa informação me foi passada pelo Lino, que conhece o jornal há mais tempo, e ficou bem chateado por não ter encontrado nenhum erro gritante de português no jornal - parece que, geralmente, o jornal contém mais erros de português do que este meu blógui. Teve que apelar para uma palavra, não sei qual, escrita sem acento. Algo como "Incluido".
Mas eu gostei mesmo da parte de esportes. Veja os títulos:
1 - São Sebastião participa do 17° Campeonato Brasileiro de Holder
Não sabe o que é holder? Não acredito. Holder é uma categoria de corrida de barco a vela em que o competidor vai sozinho, "holding" a vela por conta e risco, entendeu? Isso tudo eu supus por causa da foto que ilustra a matéria, que ainda vem com essa ótima legenda: "Equipe sebastianense treinou duro para a competição" - acho que nós teremos que explicar a esses anarquistas a finalidade de uma legenda.
2 - Feras do surfe profissional chegam a Ubatuba para a disputa do paulista
O título ocupa três linhas de uma coluna do jornal. Não dá pra pensar em algo mais curto? Sei lá, em vez de "Feras do surfe profissional", que tal "surfistas"?
3 - Caraguá recebe a 2ª etapa do Circuito da Liga do Vale de Jiu Jitsu
"...do Circuito da Liga do Vale de..."? Deus meu. Perceberam a dança das preposições? Os caras conseguiram enfiar quatro preposições num título. Isso deve ser um recorde mundial. Chama o pessoal do Guinness. E, claro, mais uma chamada que ocupa três linhas. Aqui, ainda por cima, aparece a famosa viuvinha. O "Jiu Jitsu" ficou sozinho na terceira linha, coitado. Sugestão: por que não utilizar o recurso do "chapeú"? Pois é, o chapéu, pra quem não é do ramo, é uma palavra mágica que costuma vir acima do título, pra avisar ao leitor sobre o que será a matéria. No caso, poderia ser "Jiu Jitsu". Nas anteriores, poderia ser "Vela", "Surfe" etc. Você está louco, escrevinhadeiro? Se o irmão do Halcey não sabe nem justificar um texto, imagina pedir pro cara acrescentar chapéus na diagramação? Realmente, seria inviável.
4 - Atletas de Ubatuba disputam fase estadual dos Jogos da Juventude
Com direito a viuvinha de novo, mais um título centopéico se apresenta.
Chega. A idéia era falar rapidamente do jornal "Imprensa Livre", fazer umas piadinhas idiotas e só. Acabou se transformando num texto centopéico. Desculpem. Agora eu já sei onde eu deveria pocurar emprego.
PS: Quer um exemplo de viuvinha? Suba o texto novamente e leia as manchetes que eu selecionei. Lá estão várias viuvinha: "Holder", "Paulista", Jitsu", "Juventude"... Piada infame: aqui tem mais viuvinha que o funeral do Vinicius de Moraes (hahahahahaha - risos estrondosos e solitários de um fantasma puxa-saco)

Ética?

De volta à programação normal. Primeiramente, quero dizer que nem abri o livro do Dostoiévski, mas apertei muita descarga ao longo do feriado. Dormi umas três vezes por dia e, só pra poder descansar mais, dei umas corridinhas na Praia da Baleia. Hoje cedo (na verdade, às 9h) a Vivi me mostrou uma reportagem no Folhateen, que falava sobre os blogueadores que se cansaram de bloguear. Eles se cansaram, deixaram recados amargurados e mataram o espaço. Fizeram bem, porque bloguear é uma atividade sem sentido. Só se dedicam a isso os desocupados, os chatos de galocha (nunca entendi essa expressão) e aqueles que têm alguma obrigação profissional de fazê-lo. Igualmente, só lêem blóguis os desocupados, os chatos de galocha e aqueles que têm alguma obrigação profissional de fazê-lo - além, é claro, dos amigos e familiares dos blogueadores.
No entanto, um blógui não deixa de ser um espaço perfeito para masturbações mentais. E é exatamente por isso que eu estou aqui, além de estar aqui por ser um chato e um desocupado. Estou aqui para escrever as bobagens que me cabem. Se tanta gente por aí escreve tanta bobagem e ainda ganha bem pra isso, por que eu não posso fazer isso de graça? Faço, e com o maior prazer. Veja, por exemplo, a revista Veja, que há muito virou um antro de escrevinhadeiros. Um ótimo lugar para se escrever bobagens, aquele. Sim, meu sonho é ter uma coluna em Veja. Veja, pessoal de Veja, eu aprendi que não se coloca artigo antes de Veja. Não é "a Veja". É apenas "Veja". Estou ou não estou apto para trabalhar em Veja?
Sempre dou uma sapeada em Veja, confesso, quando estou em casa de Vivi. Confesso, portanto, que li a entrevista exclusiva com a biscate do momento. Digo "biscate do momento", antes que o movimento feminista me xingue, porque é isso que acontece sempre que aparece algum escândalo desse tipo por aqui. Sempre, o foco da questão é desviado. E as pessoas passam a discutir se a fulana é ou não uma biscate, é ou não uma pistoleira, é ou não uma lobista. Eu mesmo fiquei me perguntando, confesso, quanto será que Veja pagou para Mônica por essa exclusiva. Sim, porque, se a moça queria se defender, poderia ter convocado uma coletiva. Ou não? Antes dessa entrevista, ela já tinha atendido a Folha de S. Paulo só pra preparar o terreno. Disse, apenas, que tinha muito a dizer. Nas entrelinhas, eu entendo: "Tenho muito a dizer, mas já me comprometi com Veja. Sinto muito, mas eles chegaram antes e eu acho que a minha foto ficará linda na capa daquela revista, para que todo mundo veja que eu não sou uma oportunista".
É, lá vai o escrevinhadeiro desviar o foco. Mais ou menos, meus caros. Mais ou menos. Porque eu acho engraçado como a grande imprensa adora dizer por aí que não paga ninguém para realizar matérias, tudo em nome da ética. Em nome da ética, porém, a grande imprensa não vê problemas em viajar pelo mundo a convite das empresas. Lembra daquela capa de Veja sobre um produto eletrônico (acho que era o cruzamento de um celular com um aipódi) que só chegará ao Brasil daqui a mais de um ano? Qual é a relevância dessa notícia para justificá-la como capa da revista mais lida do Brasil? Bom, eu tenho o direito de suspeitar. Por isso, devo dizer que suspeito que Mônica Veloso tenha levado algum para dar essa exclusiva a Veja. Suspeito bastante. E lá se vai a tal da ética mais uma vez.
Quando se desvia o verdadeiro foco da questão, também lá se vai a tal da ética, porque a grande imprensa sabe que todos adoram uma fofoca e a grande imprensa sabe que o nosso país é muito machista. Falemos, então, da biscate do momento. Falemos da psitoleira que seduziu um senador, engravidou e agora está chupinhando grana do sujeito. Isso sim, vende jornal, vende revista, dá audiência e o caralho. Político corrupto, desonesto, canalha? Porra, muda de canal porque esse programa eu já vi mil vezes. Também não é muito bom pegar demais no pé de um Renan Calheiros. Com ele, certamente, cairia muita gente, e isso não é conveniente pra ninguém, certo Veja? - ou todos já se esqueceram que foi Veja quem criou o "caçador de marajás"?
É, meus caros, a biscate do momento, na verdade, é a própria imprensa. A grande imprensa não passa de um enorme bordel e, nós jornalistas, fazemos o trabalho sujo. Fazemos o trabalho sujo e ainda posamos por aí de paladinos da moralidade, de defensores da democracia, de implacáveis investigadores, olhos do povo, para que o dinheiro público não seja desviado de suas funções sagradas. E que veículo da grande imprensa não tem como uma das principais fontes de renda dinheiro que vem do próprio Estado? Como evitar que essa promiscuidade comprometa a prórpia cobertura jornalística?
Eu li em algum lugar que o Estado, em geral, é fruto de uma disputa social. Ou seja, a dinâmica da sociedade e seus diversos choques de poder, acabam por definir a estrutura do Estado. No Brasil, deu-se o contrário: o Estado chegou primeiro e, a fim de se expandir, inventou a sociedade. Essa inversão fez com que se criassem relações umbilicais entre estruturas que não deveriam se misturar. Imprensa X Estado, certamente, é uma delas. É claro que eu não serei estúpido de dizer que, pelo mundo a fora, a imprensa é livre. Todos têm que aceitar as regras do jogo capitalista e, sem dúvida, o governo é sempre um forte jogador. Mas no Brasil, nem o mínimo de autonomia é possível, porque, na verdade, essa autonomia não é buscada, nem por nós jornalistas e nem por ninguém.
Estamos todos envolvidos numa teia bem amarrada entre pessoas físicas e jurídicas que enlaçou a ética de todos os lados, transformando-a numa palavra bonitinha que serve de slogan para vender produtos. Nada mais. Portanto, Mônica nenhuma deveria ser o foco das discussões e das investigações. É claro que ela deve ser investigada, no mínimo, porque recebeu uma porrada de dinheiro vivo e, provavelmente, esqueceu de declará-lo ao IR. E, como assim, receber oito mil reais por mês, apenas, para se adapatar à incômoda situação de estar grávida de um senador casado? Muito precisa ser investigado, mas o buraco, certamente, é muito mais embaixo.
Infelizmente, meus caros, quem dorme dentro de um buraco muito profundo é a própria ética.
PS1: Eu sei que esse texto ficou muito confuso, mas eu não estou a fim de transformar este espaço para masturbações mentais num depósito para reflexões elaboradas. Elaborar é muito chato e, se eu fizesse isso, perderia meus três leitores - pois é, eu também não sei o que é ética.
PS2: Inicio aqui uma campanha pelo fim da tecla "Insert". Eu sei que ela deve servir para alguma coisa, mas para todo mundo que eu conheço só serve pra ser apertada por engano e para acabar apagando trechos dos textos. Essa merda de tecla é útil? OK. Pelo menos, mudem-na de lugar, porra! Precisa ficar ao lado da "tecla-borracha" e acima do "Delete"? Isso é sacanagem pura.