sexta-feira, junho 15, 2007

Caos no Metrô

Não é só o meu chuveiro que pifa. O metrô de São Paulo também passa por problemas elétricos. O de hoje, com certeza, foi bem grave. Pois é, quando o chuveiro elétrico de uma pessoa que mora sozinha pára de funcionar, uma pessoa se fode e tem que tomar banho frio; quando o metrô pifa, milhões de pessoas se fodem e têm que se virar pra chegar em casa. Acredito ser esta a principal diferença entre o meu chuveiro e o metrô.
Quando eu cheguei à estação Sé, lá pelas 18h40, para retornar ao meu lar, doce lar, encontrei um clima meio tenso e rostos um tanto apreensivos. Ao passar a catraca, dei de cara com um aviso mais ou menos assim: "Velocidade reduzida na Linha 1-Azul. Não há previsão de quando essa merda será desfeita". Não seria uma velocidade reduzida que me intimidaria, ainda mais depois de já ter pago a passagem.
Desci o primeiro lance de escada e, ao contorná-la para chegar à plataforma, sentido Jabaquara, encontrei uma multidão incomum, mesmo para o horário. Fui em frente e consegui descer o segundo lance de escada, mas foi encostar a sola do meu pisante no chão da plataforma para que eu ouvisse uma mulher um tanto inconformada perguntar para um daqueles men in black que trabalham no metrô: mas como eu saberei se o trem vai para Jabaquara ou Tucuruvi? Como assim?, pensei. Nisso, uma voz soturna anunciou pelo sistema de som: "Atenção, o próximo trem irá em direção a Tucuruvi, passando direto pela estação São Bento". A mesma voz soturna já havia anunciado que, além da estação São Bento, as estações Luz e Liberdade também estavam fechadas.
Não tenho alternativa, pensei. O jeito era alcançar uma das extremidades da plataforma e aguardar o desenrolar da confusão. O desenrolar, realmente, foi bastante enrolado, porque na Sé estava sendo usada a mesma linha para ambos os sentidos (Tucuruvi e Jabaquara). Isso causou uma puta confusão, porque dividiam a mesma plataforma, amontoadas, pessoas que queriam ir, tanto para a zona norte quanto para a zona sul. Uma senhora até perguntou: "Mas como eles estão fazendo isso?" Um sujeito respondeu: "Logo lá na frente o metrô faz um desvio e pega o outro lado da linha", e completou: "Mas se a gente ouvir um estrondo, é porque algo deu errado".
Quando chegou o primeiro trem em direção a Tucuruvi, quem queria ir a Jabaquara teve que dar licença para a turma do Tucuruvi. Veio, então, mais um metrô em direção a Tucuruvi. Mais uma vez, a turma do Jabaquara, que já estava a postos pra saltar no trem seguinte, teve que dar licença. Terceiro trem para Tucuruvi, e a galera começou a ficar impaciente. Quando chegou o quarto trem, que também vinha com direção a Tucuruvi, a galera do Jabaquara, que já estava se sentindo preterida, ameaçou iniciar uma revolta (eu já havia dito em uma crônica de meses atrás que, se houvesse alguém carismático na estação Sé, a revolução teria estourado; repito o mesmo aqui. Portanto, se alguém quer encabeçar uma revolução neste país, que freqüente mais vezes a estação Sé, porra!).
Mais um metrô parou, desta vez vazio, e uma voz simpática, apesar de grave, anunciou: "Este trem seguirá em direção a Jabaquara". A turma do Jabaquara avançou para dentro dos vagões como se fora uma massa só, levando a turma do Tucuruvi de embrulho, turma esta que foi obrigada a sair pelo outro lado do vagão se não quisesse ver o seu destino se afastar cada vez mais. Enfim dentro de um vagão completamente abarrotado - é óbvio - eu ainda escutei uma mulher dizer: "E o papa não quer que seja feito um controle de natalidade". Um sujeito respondeu que aquele assunto era bem polêmico, e a mulher não teve dúvidas na resposta: "Polêmico porque eles não querem perder o dinheiro que vai para o Vaticano". Se o revolucionário estivesse naquele vagão, teria se apaixonado.
Depois de muito sufoco, eu consegui descer na estação Paraíso para pegar a linha verde até as Clínicas. Do Paraíso até as Clínicas, em todas as paradas, uma mulher anunciava mais ou menos isso: "Atenção, devido a um problema elétrico no sistema de vias, os trens estão circulando com velocidade reduzida e com maior tempo de espera nas paradas; a linha 1, azul, encontra-se paralisada". Paralisada? Acho, então, que eu acabei dando uma puta sorte de pegar o último metrô da linha azul, porque, depois, parece que tudo parou de vez, descontentando tanto tucuruvienses quanto jabaquarianos. Quando eu cheguei nas Clínicas, já estava sendo anunciado: "A linha 1 azul encontra-se paralisada; favor não utilizar as estações Paraíso e Ana Rosa".
Primeiro o meu chuveiro, agora o metrô. Estaríamos nós diante da revolta das máquinas? Qual será o próximo aparelho elétrico a descarrilar? E por onde anda esse maldito revolucionário, que não chega nunca? No Tucuruvi ou em Jabaquara?