Simonal: o segundo Barbosa
Procurarei deixar o patrulhamento ideológico de lado. Não importa tanto, na minha opinião, discutir sobre a qualidade do documentário sobre Wilson Simonal. É estranho ver depoimentos da Bárbara Heliodora, especialista em Shakespeare, pelo simples fato de ter sido patroa da mãe do Simonal? Ou do Castrinho e outras personalidades um tanto obscuras? Achei estranho, mas, como eu disse, isso não passa de patrulhamento ideológico da minha parte.
O que interessa mesmo é que o documentário cumpre o papel de relatar como o Simonal, que foi o cantor mais famoso do Brasil, em disputa cabeça a cabeça com Roberto Carlos, por vários anos, em meados da década de 1960 e início da de 7o, simplesmente foi apagado da história da música brasileira.
Ter conhecido a história do Simonal, que eu sabia apenas ter sido um cantor que era pai do Simoninha e do Max de Castro, lembrou-me uma história mais antiga: a do goleiro Barbosa, da seleção brasileira que perdeu a final para o Uruguai em 1950. Ambos, por motivos completamente diferentes, é lógico, foram condenados ao ostracismo e, diante da história deles, pairou um longo silêncio.
Barbosa, por ter supostamente falhado no segundo gol do Uruguai, foi condenado a carregar o fardo da culpa pela maior tragédia da história do futebol brasileiro. E Simonal, por uma cagada enorme que cometeu, teve sua discografia apagada do mapa, passando a ser unanimemente odiado, por esquerdistas e direitistas, num período em que não se permitia ficar em cima do muro.
Esse, a meu ver, foi o grande papel do documentário sobre Simonal: ter trazido à tona o maior apagão musical da nossa história. Não é questão de redimi-lo, ou de fazer uma mea culpa. Isso fica para cada um que viveu esse período da história, individualmete. É lógico que o filme demonstra que Simonal nunca foi informante do SNI e que nunca delatou ninguém para os milicos. Mas o mais importante insisto, foi ter trazido de volta à vida essa figura incrível, esse artista negro que saiu por aí a desfilar em suas Mercedes e a comer as mulheres brancas, o que certamente incomodou demais a elite brasileira.
Recomendo que todos assistam a esse documentário. E, acho que está na hora de recuperarmos essa parte da história da música brasileira, porque, além de tudo, o "Simona" era muito bom. Sacundim-sacundá, sacundim-cundim-cundá.