sexta-feira, outubro 08, 2010

Desculpe a nossa falha

Se alguém esbarrar por aqui, sugiro que visite o sítio http://www.desculpeanossafalha.com.br/

Para tanto, farei um breve relato: indignado com a cobertura tendenciosa das eleições realizada pela Folha de S. Paulo, acobertada por um discurso hipócrita que prega a imparcialidade sem sê-lo, o jornalista Lino Bocchini resolveu criar o sítio Falha de S. Paulo, uma sátira evidente à Folha.

A Folha de S. Paulo, alegando uso indevido da imagem, porque o sítio utilizava a diagramação, fotos e outras marcas da Folha, fazendo montagens escrachadas para tirar um sarro explícito do jornal, conseguiu, em caráter liminar, uma antecipação de tutela que tirou do ar o Falha de S. Paulo.

Não sou advogado, portanto, não entrarei no mérito jurídico da questão. Também não esconderei o fato de que, apesar de jornalista formado, eu não sou imparcial e não pretendo, aqui, emitir nenhuma opinião isenta. Sou emocionalmente ligado à questão, primeiro, porque o Lino é meu irmão e, segundo, porque a Folha me irrita profundamente com esse discurso falso de que é um jornal moderno e imparcial, quando, na verdade, não passa de mais um veículo da grande imprensa que defende os interesses dos ricos, quase sempre conservadores e, consequentemente, pessoas de direita que votam em qualquer partido que esteja contra o Partido dos Trabalhadores (o que não deixa de ser engraçado, porque, com Lula no poder, nunca essa gente ganhou tanto dinheiro, mas essa é uma outra discussão, para outro momento).

Não condeno a atitude em si da Folha, afinal, estamos em uma democracia e, qualquer pessoa que se sentir lesada tem o direito de acionar o Poder Judiciário. Também não condeno a decisão monocrática do Meritíssimo Juiz de Direito, o Sr. Fulano (estou com preguiça de pegar o nome do cabra), pois acredito que se possa enxergar o tal periculum in mora e o seu parceiro fumus boni juris na questão. Há argumentos no mínimo discutíveis na ação? Lógico. Por exemplo, acho estranho falar em "uso indevido da imagem" quando, claramente, não há objetivo comercial algum na sátira feita pelo Lino. Mas, o que eu quero discutir é outra coisa.

Quero falar sobre a arrogância das "cabeças pensantes" deste país. A Folha de S. Paulo, ao meu ver, é a ilustração exata de como funciona a cabeça da elite brasileira. Acredita, a cúpula desse jornal, ter posse da Verdade cobiçada por Platão. Ninguém pode pensar de maneira diferente dos membros do conselho editorial da Folha sem ser tachado de "desqualificado". São as pessoas capazes de discutir arte, literatura, política, ciência, tecnologia, com toda a propriedade do mundo. São as pessoas que acreditam ter a chave para todos os problemas da nação.

A Folha representa hoje essa "elite-cabeça" que tem nojo da pobreza de espírito e, como para eles a pobreza de espírito anda casada com a pobreza material, o melhor é ficar longe do povão. Eles abominam a ignorância ao mesmo tempo que, de maneira perversa, são os que mais a perpetuam, porque nenhuma elite quer perder a condição de elite e faz parte da própria lógica capitalista não estimular demais a crítica. Sim, a elite capitalista leu Marx e grifou a idéia de que, dentro do próprio capitalismo, encontra-se o gérmen de sua destruição.

"Deixem a condição de críticos para nós, que trabalhamos na Folha de S. Paulo", bradariam Clóvis Rossi e companhia. "Vocês só têm que seguir as nossa orientações". Ou seja, você é livre para pensar desde que pense como nós.

E quais são as orientações da Folha para essa eleição presidencial? Claramente, o voto em José Serra. Mas as "cabeças pensantes" são tão arrogantes que elas acreditam que só elas são espertas, que ninguém enxerga a Verdade além delas. Como bons "formadores de opinião", esses honoráveis senhores e essas respeitáveis senhoras que escrevem na Folha, ou que têm espaço na grande imprensa, gostam da imagem de imparciais, de justos. Simplesmente, são pessoas que sabem o que é certo, elas têm a Resposta para tudo e não admitem qualquer manifestação contrária. São arrogantes acima de tudo. São os deuses da comunicação.

Por isso, a Folha de S. Paulo resolveu censurar o Lino, sob a desculpa (legítima, repito) de uso indevido da imagem. Resolveu censurar, assim como um pai censura um filho que arrota à mesa durante o jantar, porque os magos da Folha de S. Paulo não podem ser afrontados de forma alguma. Esses verdadeiros imperadores, que se reúnem em volta da Távola da Grande Verdade, de onde sairão todas as orientações às quais nós, pobres mortais, devemos seguir, decidirão as nossas vidas, porque nós não temos a capacidade de discernir o que é melhor para nós. Quem pensa diferente, repito, é ignorante, e deve ser doutrinado, sob a pena de botar os Grandes Projetos dos Sábios a perder.

Pois é, o Lino é um pobre mortal que ousou adorar outro deus. Deve, portanto, ser punido. A partir de hoje, esse tal de Lino não terá mais espaço na grande imprensa, suas plantações serão infestadas de pragas e seu açude não dará mais peixes.

Em suma, a Folha prossegue com seu jogo perverso. É óbvio que o Grande Conselho ficou profundamente ofendido com a sátira feita pelo Lino, que nada fez além de escancarar essa enorme farsa em forma de jornal, que se diz defensor da informação acima de tudo e, na verdade, é tão conservador, reacionário e corporativista quanto qualquer outro veículo que compõe a mídia brasileira. O Lino desnudou a Folha em praça pública e isso jamais poderia ser admitido. A saída, então, é fingir que o problema foi outro. O problema não teria sido a sátira, mas o oportunismo do jornalista, que teria tentado se aproveitar da imagem de “líder de mercado” do Grupo Folha. Por isso, eu quis falar sobre a arrogância e, não, sobre a viabilidade da ação, uma vez que, no mundo jurídico, tudo é defensável. Deixemos a retórica para os advogados.

Por fim, o que diria uma "cabeça pensante" ao ler isto? Obviamente, que sou um desqualificado, que cometo um milhão de erros de português, com sérios insultos ao vernáculo, além de meu texto ser confuso, mal articulado e sem argumentos contundentes. Ora, como encontrar argumentos contundentes contra os Pensadores da Folha, não é mesmo? Em outras palavras, eu também não serviria para fazer parte do Maravilhoso Mundo da Folha de S. Paulo. Que bom.

quinta-feira, outubro 07, 2010

Como intitular isso?

Preciso de uma cervejinha. Só assim mesmo. Não sei como sobrevivi a três anos de abstinência, porque Zé Simão está certo: a situação tá psicodélica. Digo isso porque, bem, na verdade, porque não tenho nada pra dizer e quero exercitar minha mente. 1,2,3,4; 1,2,3,4. Agora vai: muda o lado do cérebro. Isso. E 1, e 2, e 1 e 2 e 3. Muito bem. No ritmo da música.
Interrompemos a nossa programação anormal para anunciar que Mario Vargas Llosa foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura. Li dois livros do escritor peruano: Tia Júlia e o escrevinhador e Pantaleón e as visitadoras. Adorei os dois. Vivi leu, faz pouco, As travessuras da menina má e me contou, durante uma viagem nossa a Montividéu, com tamanha riqueza de detalhes, que eu quase considero ter lido o livro. Também gostei, mas com a Vivi contando, tudo fica excelente. Então eu não boto minha mão no fogo pela menina má (pela Vivi eu boto o corpo inteiro).
Vargas Llosa reforça o time dos latino-americanos, que já contava com craques do gabarito de Gabriela Mistral, Astúrias, Neruda, García Márquez, Octavio Paz...
Pode parar.
O que foi?
Essa frase está horripilante.
Horr... como!
"Reforça o time dos latino-americanos"? Essa frase, em si, já é de péssimo gosto.
Não acho...
Mas eu não vou tolerar, jamais, essa construção: "craques do gabarito". Ai! Só de ler isso, me deu urticária, minha pele empipocou instantaneamente, surgiu na minha boca uma baba viscosa com gosto de bile e...
Calma, você vai ter um troço.
A puta que te pariu! Eu ainda vou morrer por sua causa, infeliz. Vou ter um ataque, talvez até uma síncope!
Você p..., pode, por favor, soltar o meu pescoço?
Mataram-se. Meus únicos leitores-colaboradores. Podemos voltar com a programação normal. Hoje, meus queridos, temos uma receita de bolo de rolo, que é um negócio.

quarta-feira, outubro 06, 2010

Chega!

Estou mesmo fora de forma. Precebi que, dos últimos cinco textos que escrevi, quatro tinham a palavra "eleitoral" no título. Assim ninguém aguenta, escrevinhadeiro. Primeiro, o cara falar de política sem conhecimento; depois, falar de eleições sem ter conhecimento; finalmente, falar de eleições e de política sem muita criatividade. Ninguém aguenta.
Mas esse processo todo me deixou chateado, porque a única coisa que estava me dando prazer era acompanhar o site Falha de São Paulo. Mas o site foi derrubado do ar e seus criadores estão sendo processados pela Folha. Hoje, pra piorar, abri a própria Folha e não achei a coluna do Zé Simão, uma das poucas coisas que ainda prestam na grande imprensa. Será que ele tem folga às quartas-feiras? Ou eu que não procurei direito. Sei lá, hoje eu estou com um sono do caralho.
O jeito foi ler os quadrinhos do Angeli, Laerte, Glauco, Adão e Fernando Gonsales, outras das poucas coisas boas que ainda são publicadas pela grande imprensa. A grande imprensa é, de fato, uma grande merda. Deve ser assim em todo canto. Mas eu não posso me queixar, porque é o que as pessoas fazem, sendo que existem veículos de mídia alternativa (aos quais não conheço, mas sei que existem porque o Esfeluntis me contou) e existem os bons livros. Não preciso ler ou ouvir essa merda toda.
Também não falarei mais de eleição. De política falamos mesmo que não quisermos. Mas não falarei mais de Dilma ou de Serra, nem de garantido ou caprichoso. Ah, isso me lembrou uma coisa. Falarei, sim, só mais um pouquinho de eleições. Prometo que é rápido: Se fodeu, César Maia!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Chupa, Tasso Jereissatti!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Tomou, Marco Maciel!!!!!!!!!!!!! Se fodeu, Artur Virgílio!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Chupa, Collor!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Tomaram, corja!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! E, à corja que foi eleita: Pode esperar, a sua hora vai chegar!!!!!!!!!!!!!!!! É ou não é muito triste ver o Lula apoiar Renan Calheiros contra Heloísa Helena? Se eu fosse a moça, acho que eu largaria a política. Mas ela não sou eu. Ela é guerreira e sei que vai mudar de ideia. Força contra esses coroné aí!
Pronto, agora não falo mais. Agora eu vou é dormir. Tenho que aproveitar quando o sono bate.

terça-feira, outubro 05, 2010

Franca Recuperação

Fiquei mais de um ano sem dar pitacos neste espaço. E, mesmo antes, meus textos foram rareando. Recentemente, resolvi voltar sem alardes. Nem minha mulher sabe que eu ando por aqui, veja só. E por quê? Porque estou apenas verificando se ainda sei escrever, depois desses dois anos de estudos emburrecedores para concurso público.
Desde que virei "concurseiro", nunca mais li um livro interessante e raramente tinha saúde para escrever um texto de mais de duas páginas. Essas duas páginas, hoje, parecem-me um romance épico. Escrever é igual a correr. Se você não treina, quase morre para cumprir pequenos percursos.
É, eu, que já corri maratona, hoje não sou capaz de ir à padaria. Mas, vamos lá, estou lutando contra essa atrofia desnecessária. Não é preciso abandonar a leitura, a escrita, o cinema, o teatro, o sei-lá-o-quê, só porque foi tomada a decisão de estudar para concurso. Além disso, quem lê(lesse) essas palavras pensará (pensaria) que eu estudo pra caralho.
O fato é que também faz uns seis meses que eu não estudo porra nenhuma. Meu cérebro está atrofiando. Eu não sei mais o que pensar. Uns dias atrás, então, resolvi começar a escrever alguma coisa, só pra exercitar, porque eu não quero ser um daqueles velhos que esquecem tudo, até o vocabulário.
Quando eu me sentir novamente com saúde, avisarei minha mulher e meus dois fãs: Esfeluntis e Zequinha, aluno preferido da professora Marcivânia. Ah , como será bom ter leitores novamente.

segunda-feira, outubro 04, 2010

Cacareco X Tiririca

Pois é, lá estavam os analistas políticos, dominando os canais de televisão durante a apuração dos votos em todo o País. Logo surgiu a pergunta de um telespectador, no canal Globonews, que associava Tiririca ao Cacareco. Confesso que não me lembro da pergunta.

O fato é que passaram a chamar Tiririca de “o novo Cacareco”, termo este, utilizado em outra emissora. E nenhum desses “brilhantes” jornalistas que cobrem a área de política na grande imprensa foi capaz de perceber que Tiririca e Cacareco são fenômenos eleitorais absolutamente distintos. Igualá-los, chega a ser uma ofensa àqueles que votaram em Cacareco.

Até admito a frágil teoria de que o voto em Tiririca foi um “voto de protesto”. Que protesto é esse que vai pagar a um oportunista em forma de palhaço o salário de mais de R$ 16.000,00 mensais, além de uma verba de gabinete de cerca de R$ 50.000,00 mensais? Que protesto é esse que permitiu que uma manobra, assinada por Waldemar da Costa Neto, dono do partido de Tiririca, desse tão certo a ponto de eleger mais uns quatro deputados só com a votação dele? Sim, um protesto que legitimou a eleição de um fantoche de Waldemar da Costa Neto, um fantoche analfabeto que zombou de todos nós e agora vai ficar quatro anos vivendo às nossas custas.

Admitamos, pois, que isso foi um protesto. Certo, está admitido. Agora pensemos no protesto, esse sim, que fez com que um filhote de rinoceronte do zoológico do Rio de Janeiro tenha sido “eleito” deputado com a maior votação daquele estado. Estávamos, então, em plena ditadura militar. Os milicos, para pousarem de democráticos, deixavam que ocorressem eleições diretas para as cadeiras do Legislativo, das quais participavam os candidatos que apoiavam os fardados (concorrendo pela Arena) e a oposição consentida do MDB. Cansados desse arremedo de democracia, os eleitores cariocas resolveram protestar, e criaram um candidato paralelo: o filhote de rinoceronte Cacareco, cujo nascimento havia sido largamente anunciado pela imprensa carioca.

Foi, portanto, no caso do pequeno rinoceronte, um protesto politizado, um movimento organizado de pessoas que resolveram negar aquela farsa eleitoreira comandada pelos militares. E tudo isso foi feito sem a ajuda de Internet e sob uma imprensa controlada pelo Governo. E foi feito, ainda, em tempos de votação com cédula de papel, em que as pessoas tinham que escrever no papel o nome de Cacareco.

Voltando ao fenômeno Tiririca: se foi um voto de protesto, foi um protesto totalmente despolitizado, de pessoas desinteressadas pelo processo eleitoral, analfabetos políticos, nos dizeres de Bertolt Brecht, que estufam o peito, orgulhosos, ao dizerem que odeiam política. São, também de acordo com Brecht, com quem concordo plenamente, imbecis, que não percebem que as decisões políticas influenciam no preço do pão, do leite e de tudo o que nós somos obrigados a pagar para sobreviver; não percebem que as decisões políticas influenciam na qualidade das escolas dos nossos filhos, do transporte que pegamos e da eficiência (ou falta desta) do sistema de segurança pública; não percebem que as más decisões políticas aumentam a miséria, a violência, a prostituição.
Ah, se Bertolt Brecht visse isso. Certamente, chamaria os mais de 1.350.000 pessoas que votaram em Tiririca de analfabetos políticos. Já os antigos eleitores de Cacareco, esses são exemplos de verdadeiros alfabetizados politicamente, que nada tem a ver com essas pessoas que dizem: “Só tem palhaço lá mesmo, vou votar nesse Tiririca”. Atitudes como essa só pioram a situação que, reconheço, não está nada boa. Mas, infelizmente, o slogan de Tiririca está equivocado, porque “pior que tá fica, sim senhor”.