sábado, maio 19, 2007

Vingança da Marinês

Hoje eu acordei novamente no meio da madrugada. Mas desta vez não foi por causa de uma idéia fantástica e, sim, por conta de uma caganeira braba mesmo. Desta vez, portanto, eu tive que me levantar, se eu não quisesse que a Vivi pedisse o divórcio. De manhã ela me contou que, mesmo dormindo, sentiu o estrago que eu fiz na latrina. Parece que ela começou a sonhar que estava colhendo flores às margens do Rio Tietê. Acredito que isso (a caganeira, desculpe a falta de concisão textual) tenha acontecido por culpa do Senhor Pretzel. Paciência.
Quando eu voltei pra cama, caí em cima da Vivi, coitada. Além de sonhar com o Rio Tietê por minha culpa, teve um não tão agradável despertar no meio da madrugada, por conta de um desastrado, sonado e aliviado cidadão. Se fosse em outros tempos, eu poderia ter posto a culpa na marvada. Quem mandou parar de beber? Depois eu sonhei em forma de roteiro de uma novela mexicana e acordei com vontade de falar das histórias que eu gostava de ler quando moleque. Mas isso eu vou deixar para uma próxima publicação.
Apenas, nomearei algumas obras aqui pra não esquecer de falar delas: Monteiro Lobato (As caçadas de Pedrinho, narradas pelo vô Celso); Pequeno Nicolau; Grimble; Marcos Rey (Cadáver ouve rádio e Mistério no cinco estrelas); Turma do Gordo; Karas (Droga da obediência, Pântano de sangue e Anjos da morte); Stella Carr (Pedrinho Esqueleto, O fantástico homem do metrô, O incrível roubo da loteca); História sem fim (o primeiro livro de mais de 300 páginas que eu li na vida); Feliz ano velho (não esquenta a cabeça, senão caspa vira Mandiopan); Rubem Fonseca; etc. Por ora é isso. Depois eu tento me lembrar de mais coisas.
Agora eu quero falar da vingança da Marinês. A Marinês era uma professora muito simpática de Língua Portuguesa que eu tive da sexta até a oitava série. Ela chegou para substituir a Márcia Leite (autora de livros infanto-juvenis), o que era uma tarefa difícil. A Márcia tinha, por assim dizer, um humor meio ácido, mas nós a adorávamos. Talvez até por isso. Nunca vou me esquecer de um tema de redação que ela propôs: Epaminondas tirou o gambá do fogão. Tínhamos que inventar algo a partir disso.
Retomemos o fio da meada (foda-se a concisão textual): Sim, a Marinês. Ela era muito simpática. A cara dela me lembrava aquela tartaruga gigante do filme "História sem fim". Simpática até demais. Nós, moleques de doze anos, aproveitamo-nos do excesso de generosidade da Marinês para enrolá-la. "Ah, Marinês..., prova não...Vamos fazer algo diferente, tipo assim (será que nós já falávamos "tipo assim"?), uma discussão em grupo." E, "Ah, Marinês...,esse livro é muito grosso...por que nós não lemos "Ladeira da saudade"?
Aqui, vale abrir parênteses: "Ladeira da saudade", do Ganymédes José, para os fantasmas incultos que não sabem, é um livro água-com-açúcar que conta a história de uma menina chamada Marília e de um menino chamado Dirceu, que se conhecem em (adivinharam?) "Ouro Preto!" (resposta em uníssono fantasmagórico). Não preciso dizer mais nada, certo? Pois bem, nós queríamos "ler" essa joça (com todo respeito ao autor dessa joça) porque, na verdade, nós já tínhamos lido essa joça a pedido da Márcia no ano anterior. No fim das contas, a Marinês deixou que escolhêssemos entre essa joça e "A hora dos ruminantes", do J.J.Veiga, uma espécie de Graciliano Ramos mal acabado. Acabou que só eu e o Fábio Passetti (não sei se é com tt, mas foda-se, porque nenhum Passetti, ou Passeti, lerá essa merda mesmo) optamos por ler "A hora dos ruminantes", uma história assustadora, sobre umas vacas que resolvem invadir uma cidade.
Essa era a Marinês. Sempre boazinha, fazendo as vontades daquele bando de mimados. Nós todos passamos a sexta e a sétima série na flauta. Fazendo muitos trabalhinhos em grupo, lendo "A ladeira da saudade", tirando dúvidas no meio das provas (aquelas que não podíamos evitar). Na oitava, não sei o que aconteceu. Acho que um dia a Marinês acordou e, ao se olhar no espelho, acabou tomada por uma constatação fulminante: Meu Deus, esses pequenos crápulas estão me enrolando há dois anos. Pois é, na oitava série a Marinês mudou. Deu uma prova de gramática que fodeu todo mundo (eu tirei 2, e foi uma das maiores notas da sala); mandou que lêssemos "Inocência", do Visconde de Taunay ("Nããããããããoooooo!!!!!!!!"), e não adiantou espernear. Eu não consegui passar da página 12, até que acabei alugando o filme, com a Fernanda Torres, e, pasmem, meus caros fantasmas, o filme é tão chato quanto o livro! Isso é que é fidelidade com o texto original. Resultado: a sala inteira rodou. Em seguida, a Marinês mandou que nós lêssemos "Dom Casmurro". Estupefatos, todos os alunos chegaram ao pátio da escola, com lágrimas nos olhos, e bradaram: ela enlouqueceu! Ela quer que leiamos Machado de Assis! Que sacanagem! Nós temos apenas 14 anos!
Essa foi a vingança da Marinês. Cansada de amaciar nossas vidas, aos 45 minutos do segundo tempo, ela resolveu parar com aquela palhaçada. Ainda bem, meus caros fantasmas. Ainda bem. Caso contrário, eu não seria esse maravilhoso escritor que vocês vêem hoje. Criativo, claro e, principalmente, conciso. Obrigado e até a próxima. (Esparsos aplausos fantasmagóricos)

sexta-feira, maio 18, 2007

Risca-de-giz

Vamos nós, diretamente do blógui-fantasma mais charmoso de toda a teia mundial de computadores. Reconheço que essa minha segunda fase de blogueiro está mais nonsense do que nunca. Tá um esquema meio associação livre. Aliás, tem uma associação livre muito boa no livro "Púcaro búlgaro", do Campos de Carvalho, quando o sujeito vai ao psicanalista e o psicanalista pede pra ele dizer qualquer palavra que lhe venha à cabeça.
Hoje, no meio da madrugada, eu acordei com uma idéia genial para um texto que revolucionaria o mundo dos blóguis, mas eu caí no engano de achar que, ao acordar, a idéia estaria à espera. Não me esperou, a féla da puta. Portanto, ficarei devendo. Põe na conta, Esfeluntis!
Estou com um problema meio sério pra resolver. Amanhã tenho um casamento e meu único terno, um risca-de-giz já meio puído, está sujo. Sou contra alugar ternos. É muito fim de feira pra minha cabeça. Tudo bem, eu não conheço a noiva mesmo. Nem o noivo. Que ninguém pense que eu sou um desses filadores de bem-casados. Não é nada disso. É que o casamento é da filha de uma amiga da minha sogra, se eu bem entendi. Entaõ não tá tudo bem? Não tá nada bem. Mas dá-se um jeito. O jeito é comparecer com aquela mancha de patê no bolso do paletó. Esse risca-de-giz é mesmo um guerreiro. Na última encarnação, estou certo que pertenceu a um mafioso de primeira categoria, daqueles que matavam e limpavam o sangue escorrido na cara com um lenço de seda.
Falando em filadores de bem-casados, salgadinhos, bóias, biritas etc, esses caras que freqüentam leilão e não têm dinheiro nem pra comprar uma caneta Bic sem carga, exitem uns mesmo que são profissionais. Eles dão uma sapeada no jornal, escolhem o cardápio e mandam ver. "Hoje eu vou jantar uns canapés no lançamento do livro do Jô Soares". E amanhã eu vou com o meu bom e velho risca-de-giz, tomar cuidado pra não esquecer nenhum docinho nos bolsos.

quinta-feira, maio 17, 2007

Correção

Esfeluntis, arquivista do blógui, acabou de me avisar que fazia quatro meses, e não três, que eu não encostava o dedo nessa joça. Valeu, Esfeluntis. Continue o seu árduo trabalho sem ganhar um puto, porque a vida não é fácil mesmo. A outra então...úúúúúúúú. Já notaram que os fantasmas não têm lá muita desenvoltura ao falar? Aí está a vantagem de um blógui-fantasma. Aqui, qualquer um pode ser eloqüente à exaustão.

Depois

Depois de três meses meditando profundamente sobre a existência do meu ser; depois de ter chegado à conclusão de que não há sal no oceano que não seja proveniente de lágrimas de Portugal; depois de muitas caminhadas a esmo sem que eu chegasse mesmo a lugar nenhum; depois de passar a noite inteira enchendo a cara de Pepsi; enfim, depois de muitos fatos que aconteceram e não mudaram nada, resolvi voltar de mansinho. Sem alarde.

Sem alarde, porque eu sei que freqüentar blóguis é uma coisa esquisita pra cacete. Mesmo eu, que sou um tanto esquisito, cansei de freqüentar meu próprio blógui. É, existem coisas estranhas nessa vida. Na outra, então, nem se fala. Foi o que eu ouvi dizer por aí. Uma senhoura que eu conheço andou vendo fantasmas e parece que as coisas lá no Além também não são nada fáceis.

Sim, depois de tanto tempo, estou tanto sem assunto quanto. Tanto quanto outrora. Mas estou aliviado, porque quando eu comecei com essa bobagem de blógui, meu ego me obrigou a soar as trombetas da modernidade. Obriguei minha querida Viviane a mandar e-mails para Deus e o mundo. A galera entrou e disse: "legal". Depois foram todos embora, como se espera de pessoas normais. Aproveitando que foram todos embora, confesso que fiquei estranhamente à vontade.

Não tem nada pior do que escrever para o vento? Eu e meu ego achávamos isso. Hoje eu penso que poder ficar de cueca coçando o saco na sala tem o seu lado poético. Poder escrever a esmo, sem que as pessoas digam: que merda é essa?, tem a sua beleza.

Termino por aqui, com um clima de suspense no ar; pode ser que, novamente, eu suspenda essa história de escrever e fique mais uns três meses sem dar as caras. Termino, também, com um protesto contra o Dicionário Aurélio: de quem foi a idéia de aportuguesar a palavra "Corinthians". Quem foi o infeliz que decidiu que o time que eu torço se chama "Coríntiãs"? Só pode ser empáfia de gente que acredita que a língua faz o povo e não o contrário.

Depois eu continuo (sabe-se lá quando). Se eu não continuar é porque eu estou muito ocupado coçando o saco do alto do meu sofá.