No meu projeto de romance, escrevi lá pelas tantas que Brasília é a cidade mais sem graça do nosso país. Brasília, para o protagonista Marcelo Pereira, é um lugar para se visitar por no máximo meia-hora. Não precisa de mais que isso. Você dá umas voltas, confere in loco aquele monte de imagens que já cansou de ver pela televisão (normalmente com o idiota do Alexandre Garcia à frente), come um cachorro-quente na Praça dos Três Poderes e se manda. Ah, mas tem a catedral, o museu do JK, o escambau. Certo, talvez Marcelo tenha exagerado: três dias seriam suficientes para se ficar em Brasília.
Brincadeiras à parte, e que nenhum brasiliense se ofenda (se é que eles existem), Brasília é uma cidade que não precisava existir. É fruto de um sonho megalomaníaco de um presidente, um enorme monumento aos factóides, o sonho de qualquer arquiteto. O mais engraçado é quando ouvimos na escola que um dos argumentos para a construção de Brasília teve como base a estratégia militar: é muito perigoso deixar nossa capital numa região litorânea, que seria alvo fácil para qualquer inimigo. Puxa, é mesmo! Pobre do Chile, aquela tirinha de terra espremida entre o Pacífico e a Cordilheira dos Andes.
Enfim, já que construíram, não serei eu a pedir que ponham a baixo, ou que alguém sugira mudar a capital federal para algum outro canto, ou, ainda, devolver esse status ao Rio de Janeiro. Já que está fica, certo? Não me interpretem mal, meus caros brasilienses. (Agora, que tem muita gente torcendo pra que uma bomba atinja o Congresso Nacional, isso tem)
Visitei Brasília quando eu tinha uns catorze anos, com a família, e, lá pelos meus 25, passei por lá muito rapidamente quando voltava da Chapada dos Veadeiros. Gostei do museu, da catedral, da Praça dos Três Poderes, de andar de esteira rolante no Senado, de assistir a uma sessão completamente vazia (era o último dia antes do recesso), de atravessar correndo o eixo do avião, de rodar feito um louco atrás de um restaurante, de chegar perto da rampa do Palácio do Planalto e de ser enxotado por um soldado em frente ao Itamarati? Gostei, gostei de tudo isso (menos de rodar feito louco atrás de um restaurante). Confesso, porém, que o que marcou mesmo foi a sensação de estar dentro de uma maquete gigante.
Todos sabemos, também, que Brasília é fruto de um sonho arquitetônico, que fez afastar a poeira incômoda (moradias dos pobres) para a periferia das cidades-satélite. Niemeyer que me desculpe, mas essa idéia não me parece lá muito compatível com os ideais do comunismo. Deixa isso pra lá também. Enfim, é o que eu já disse: já que fizeram, é melhor deixar como está.
Olha quem fica colocando defeitos em Brasília: um paulistano. São Paulo, diriam os brasilienses e os moradores de quaisquer outras cidades do meu Brasil, é o pior lugar para se morar. São Paulo é uma cidade horrível, poluída, fedorenta, estressante, suja e o cacete. Concordo. Mas São Paulo é uma cidade de verdade, que reflete com exatidão a sociedade tão injusta em que vivemos. No entanto, não quero alimentar disputas idiotas de cunho bairrista. Quero apenas dizer que eu nunca engoli o "sonho de JK", que fez surgir uma maquete gigante no meio do deserto. Só isso.
Quem mandou? Quem mandou falar mal de Brasília? Agora, tudo indica que eu me mudarei para lá, de mala e cuia, com a minha querida Vivi. Sem ressentimentos, por favor, porque eu também estou indo com a maior alegria (mais por estar com a Vivi do que por qualquer outra coisa, mas...). É isso aí. Seguirei os exemplos de FHC e pedirei que todos esqueçam o que eu escrevi. Irei para Brasília na fé. Viva a nossa capital federal, viva o sonho de JK, viva o Niemeyer, viva o Lúcio Costa viva eu, viva tudo e viva o Chico Barrigudo. Viva o Chico filho do Odair também.