sexta-feira, julho 13, 2007

Bestas Sobre Rodas

É claro que existem milhares de teorias que procuram explicar as causas para o interessante fenômeno que leva pessoas tranqüilas, pacatas e cumpridoras de seus deveres cívicos a, ao se sentarem atrás de um volante, ficarem idiotas, estúpidas e assassinas em potencial. Versa-se sobre a sensação de poder que um automóvel dá a um pobre mortal que não consegue correr nem até a geladeira, sobre o teste dos limites, o flerte com o perigo e, é claro, sobre o altíssimo nível de estresse ao qual um motorista é levado diante dos caos urbano em que vivemos.
Quando os cientistas discutem se poderia haver (ou ter havido) vida em algum planeta por aí afora, eles analisam as condições mínimas para que um ser, por menos complexo que seja, possa viver e se reproduzir naquele ambiente. Pois é, o trânsito de São Paulo, se analisado por cientistas alienígenas, não tenho dúvida, seria considerado inabitável. Chegamos ao limite do absurdo e com grandes indícios de que superaremos sempre esse limite, feito campeões olímpicos que estão sempre em busca da quebra dos recordes.
Mas eu queria falar desse bicho estranho: o motorista paulistano, cujo exemplar feminino tem ainda uma característica curiosa. O que eu vou falar não tem nada a ver com comentários machistas e com as incontáveis brincadeiras sobre a destreza da mulher ao dirigir. Está provado por A mais B que a mulher dirige muito melhor que o homem. É só ver o quanto uma mulher paga de seguro e o quanto um homem, na mesma idade, paga. Mulher paga menos, porque é mais cuidadosa e se envolve em muito menos acidentes. Ora, pra mim dirigir bem é isso: chegar aos locais desejados com segurança, e não saber cantar pneu e dar cavalo-de-pau.
Bom, como diria Marcelo Nova: agora que eu já enchi o ego de vocês, podem arriar as calçolinhas. Quero dizer, voltemos à característica curiosa das mulheres paulistanas no trânsito. Elas são completamente incapazes de ceder passagem a um terceiro que queira enfiar o carro a sua frente, seja pelo motivo que for. Não dão passagem nem pedindo pelamordedeus. Se você tentar enfiar o carro, é capaz que ela bata em você, mas não dá passagem e ponto final. Não que os homens sejam um poço de gentileza, mas, vez ou outra, eles deixam você entrar com o carro no caminho deles.
Seria porque a mulher transfere para o trânsito o ambiente hostil do mercado de trabalho ao qual ela tem que se submeter, somadas as dificuldades de se disputar empregos num mundo machista e comandado quase que exclusivamente por homens? Seria porque a mulher tem um instinto de preservação de território que a impele a fazer de tudo para chegar rapidamente ao seu destino? Não, meus caros. Isso acontece porque a mulher é mais atenta. Sim, o homem só dá passagem por distração. Quando ele vê, já tem a ponta de um carro querendo lhe cruzar o caminho. Aí, fazer o quê? Melhor deixar o babaca entrar na minha frente do que causar um acidente idiota. Além do mais, tá tudo parado mesmo.
Agora, é fato. Ambos, sem distinção de gênero, são atacados por esse fenômeno de bestialização por que passa o motorista que é obrigado a conviver com o trânsito de São Paulo.