sábado, agosto 04, 2007

Biocubo

Estou soterrado no meio dos objetos mais estranhos. Parece que um prédio desabou comigo dentro. Vejo um telefone branco coberto por uma camada de poeira, um CD do Adoniran Barbosa e convidados, um porta-retratos com a foto de uma moça sorridente com aquele que parece ser seu namorado. Vejo uma réplica da Torre Eiffel e um mouse sem fio da marca Targus. Vejo uma chave de Honda, uma luminária cinzenta, uma caneca do Orlando Magic e um pincel atômico de cor amarela.
Lá fora está tudo calmo. Provavelmente, os bombeiros já desistiram de procurar por sobreviventes. Eu não vejo nada para comer. E nem para beber. Vejo um alicate de unha e um frasco de Vick Primeira Proteção, provavelmente, a minha última refeição. E um pedaço de mais ou menos 10 X 10 cm de um jornal. Leio uma nota, intitulada "Bactérias": "A Sabesp está chamando empresas para apresentarem idéias e produtos sobre saneamento básico. Após a exposição, os técnicos avaliam as possibilidades de aplicação da tecnologia. Na estréia, na última sexta, o presidente Gesner de Oliveira e sua equipe conheceram o biocubo, um produto com bilhões de bactérias capazes de eliminar maus odores e desentupir encanamentos obstruídos por gordura. A Sabesp pretende testar".
Eu também pretenderia testar o biocubo. Mas não tenho nenhum por aqui. Também não tenho idéias para enviar à Sabesp. Será que o pincel atômico funciona? Escrevo na parede: "João Doria Jr. é um tremendo bundão". Tento desenhar uma bunda peluda, mas o pincel se recusa a descer tão baixo. Já estamos bem abaixo do esperado. Não vejo biocubo algum, e nem um cubo mágico. Agora eu teria tempo de sobra para tentar resolver aquele enigma. Ah, nem com todo o tempo do mundo eu conseguiria resolvê-lo.
"...dos ao eve... (...) ...entre os dias 1º e ... (...) ...dade Hípica Paulista. Os cavalos terão tratamento de luxo. Serão hospedados em cocheiras esterilizadas. O gramado foi amaciado para o torneio, que terá cavaleiros como Doda Miranda e Rodrigo Pessoa. 'Alguns desses cavalos valem até 3 milhões de euros", diz André Beck, sócio da Sportcom, que fez a organização do evento. Foram investidos U$ 6 milhões no torneio".
Eu também pretenderia ficar hospedado em cocheiras esterilizadas. Eu queria saber onde está o outro pedaço do jornal para saber se o evento já aconteceu. Talvez dê tempo. Eu gostaria de cumprimentar o Balobê de Ruê pela medalha que ele ganhou em Atenas. Eu também gostaria de cumprimentá-lo por ter feito greve em Sidnei. Vejo um totem com cara de tartaruga. Simpático. O antigo morador desse lugar devia ser uma pessoa interessante. Que hora eu escolhi para encostar nesse muro e dar uma mijadinha.

quinta-feira, agosto 02, 2007

Se acaso me quiseres…

Ou Dadaísmo mental

Coisas boas são muito difíceis de acontecer. Você não pode perder essa oportunidade. Perca peso, pergunte-me como. É pau, é pedra, é o fim do caminho. Um hidrante desses não deve funcionar mais. E puseram sal demais na lasanha. Tudo isso num dia só. Tudo isso aconteceu no intervalo de vinte e quatro horas. Uma mulher chateada com a vida disse à amiga, dentro do elevador, que coisas boas são muito difíceis de acontecer, enquanto tragédias pipocam aos montes.
A televisão disse, com voz clara e cores gritantes: você não pode perder essa oportunidade. Só um idiota completo deixaria passar uma promoção incrível dessas. O anunciante deve estar louco para oferecer algo desse tipo. Quanto você pagaria? Não responda. Você ainda ganha esse incrível massageador anatômico, com cinco velocidades, para se esquecer da surra que leva diariamente.
Um vendedor da Herbalife veio encher o saco com essa. Ele queria vender um suco de cor estranhíssima, jurando que ali boiava a solução para todos os problemas da obesidade. Suco esquisito, não sei mais quantos produtos e veja só: estou com 52 anos e sou magro e feliz. Você pode, você deve. Você compra e resolve, como todas as coisas atualmente. Pra que sofrer, oras?
Que mais? Elis Regina fazendo za-za-zi-za-zá, dzu-dzi-dzi-dze-dzê, e é pau, é pedra, é o fim do caminho. No meio do caminho havia uma pedra, alguém comentou. Havia uma pedra no meio do caminho, outro alguém completou. Zi-zu-za-ze-zê, uma risada e todos aplaudindo a improvisação ensaiada da bossa-nova. Plim-plim, plim-plim, é o fim do caminho, é um resto de toco.
Um hidrante velho, encostado tristemente no canto de uma calçada esburacada. Os transeuntes que passam, passavam e continuarão passando, não, eles não se dão conta, não se deram, não se darão. Se pegar fogo, não tem o que fazer. O fogo se alastra, chega na estação e pronto. Tragédia estampada nos jornais. Deterioração do espaço público e que se dê descarga para levar tudo e não ficar esse cheiro de merda. Merda de hidrante velho.
O pior não é o hidrante que não funciona. O pior é comer aquela lasanha do boteco da Maria Paula e depois não encontrar água no bebedouro da repartição. Aquela lasanha feita com queijo-prato e presuntada e uma massa horrível e um molho de tomate doce e uma carne moída que nem os pombos da Praça da Sé gostariam de comer. Eles preferem beliscar pedaços de abacaxi que são vendidos dentro de um saco plástico.
Isso sim é o fim do caminho. Quando você dá de cara com uma infeliz que comenta dentro de um elevador lotado o quão infeliz é a vida. Infeliz que prolifera a infelicidade e que não quer saber de comprar suco de ervas que deixou a recepcionista balofa com um corpo de modelo e atriz. Ninguém queria comer aquela infeliz e agora todos fazem fila. E ela não esnoba não. Ela só quer saber de tirar o atraso e nada, nenhuma pedra no meio do caminho a impedirá. E é pau. E o resto de toco que fique com a risada da Elis Regina.
O hidrante não funcionaria nem a pau, nem a pedra, de jeito nenhum. Esquece, Existem outras maneiras de matar a sede. Existem outras maneiras de enlouquecer, sem precisar da repartição, que não tem ninguém lá que saiba repartir. Lasanha salgada da moléstia. E não esqueça: você não pode perder essa oportunidade. Se você perder essa oportunidade todos te chamarão de cretino por dias e dias seguidos. Não tem água no hidrante, não tem água no bebedouro, não tem água potável no planeta. Então foda-se. Os loucos querem dormir em paz. Eles querem sonhar que estão fazendo sexo com uma balofa que imita a Elis Regina enquanto trepa. Za-zu-zi-zo-zê, a-za-zu-za-ze-zê. Não irrita, Maria. Maria, não irrita.
Mas logo começa outra. Outra música no rádio. Um pedido de uma ouvinte triste e gorda que vomitou um suco de cor verde no chão da repartição. Lá, eles nunca trocam os galões de água. Como pode gastar tanto dinheiro com coisas supérfluas que não funcionam? Não há hidrante que agüente. Mas, olha, começa outra música no rádio. “Se acaso me quiseres…” Eu não sou dessas, não senhor. Isso repete a gorda, olhando para a foto do pai dos pobres.
Eu não sou dessas, ora. Imagina só, se vender por causa de um falso brilhante. Se ao menos fosse verdadeiro. Na novela aconteceu de substituírem um colar verdadeiro por outro falso. Ou o contrário. Sei lá e o que importa? No final, é sempre igual. E na vida real, a secretária obesa jamais virará uma modelo gostosa. Não, senhor. Mesmo assim, fazem fila na porta dela. Fazem fila e sempre assobiam quando ela passa. “Se acaso me quiseres…”. Ora, não me venha com essa de que você não é dessas. E nem daquelas.
A moça, nem gorda e nem magra, nem dessas e nem daquelas, que não gosta de Elis Regina e tampouco de qualquer tipo de música cantada em português: a moça quis sair da repartição para nunca mais voltar. Sim, senhor. O vendedor da Herbalife a convenceu a participar da pirâmide do sucesso. Chega de querer tomar água sem ter água no galão. Chega de querer apagar incêndios sem haver um hidrante que funcione. Ora, ninguém é dessas ou daquelas. E se for? Se for já foi, porque a moça se foi e a gorda ficou sonhando, enquanto o pai dos pobres pareceu soltar um sorriso.
Nada mais foi dito. Nada mais foi dito. Compre-me um Sonho-de-valsa. Mas não dê dinheiro aos pedintes porque você nunca sabe. Você nunca sabe. Outro dia, o pedinte chegou ao jovem rapaz e disse: “Moço, me dá um trocado para eu comprar uma pinga”. O jovem não entendeu, porque ninguém entende a sinceridade. E fez cara de quem não entende português. Então o pedinte disse: “Minha vida é uma merda, eu não tenho família, não tenho dinheiro e não tenho onde morar; portanto, nada me resta além de encher a cara, concorda?” Concordou. Fez cara de quem entende português e pagou uma garrafa inteira de pinga ao pedinte. E o pedinte cantou: “Se acaso me quiseres…”, enquanto se afastava.
Afastou-se e tudo foi se afastando. Não dava mais para ouvir nem os gritos rocambolescos, e nem o pau, ou a pedra. Nada. A repartição fechou as portas, porque deu a hora. E ninguém quer fazer hora extra assim, a seco. Nada feito. Pode ir embora porque nada funciona. Se funcionasse, o fogo teria sido debelado. Debelado, cidadão. Ou, encha a cara com esse suco, essa pinga, essa pirraça, essa festa de mulheres fáceis que, no dia seguinte, não contam até vinte. Por favor. Vinte, não. Já deu a hora e não podemos mais ficar. E mande o mocinho trocar o galão de água em lugar de ficar no cafezinho. Todos sabem qual é o tipo de cafezinho que aquele descarado gosta. Ele e a secretária gorda, todas as noites, ouvindo música no radinho e fazendo festa debaixo dos lençóis.
Afastaram-se. Afastaram-se todos. Tudo, que já estava ininteligível, ficou imperceptível. Tudo se foi, tudo se apagou e sim, você está perdido nas ruas do centro de São Paulo. Não faça a besteira de entrar em qualquer lugar fétido, porque lá as lasanhas são intragáveis. Fuja enquanto é tempo. Fuja enquanto os outros estão preocupados com a própria fuga. E, se acaso me quiseres, sugeriu a moça. Nem conte até vinte e suma pelas ruas tristes da capital paulista. Em suma, suma. Suma. A oportunidade é essa. Não haverá outra. Um bombom pelo preço de um quarto de bombom. Abra o livro e se perca nas palavras, sem se preocupar com a coerência. Ria da coesão. Ria da coerção. Não sei, gordotas e velhuscas. Não sei mesmo. Só sei que não é hora de esperar a fila. Eu já fui e não ficarei mais nem vinte segundos.

terça-feira, julho 31, 2007

Toquinho e Paulinho Nogueira

Conheço muita gente que tem o gosto musical parecido com o meu e que não gosta do Toquinho. Alguns dizem que ele é meio chato, outros não agüentam mais ouvir "Aquarela", ou a música do caderno, e terceiros afirmam que passar a tarde em Itapuã, atualmente, é uma merda. Lembro-me, até, de ter ouvido, há muito tempo, alguém dizer: o Toquinho formou dez anos de parceria com o Vinicius, participou de turnês com o Tom Jobim e com o Chico Buarque e, ainda assim, não aprendeu a ser um bom compositor. Seria, portanto, um caso perdido.
Bom, eu não acho o Toquinho genial. E concordo que ele não está no mesmo nível, nem do Vinicius e, muito menos, de Tom e Chico que, na minha opinião, são os maiores compositores que a MPB já produziu. Se o Tom não chegava a ser tão bom letrista quanto o Chico, compensou largamente com o fato de ter sido um músico genial - sem dúvida, um dos maiores do mundo contemporâneo. Portanto, nem o Toquinho e nem ninguém está no mesmo nível desses dois

Se o Toquinho não é um músico genial, acredito que ele merece respeito. Primeiro, porque ele sempre foi respeitado pelos maiores músicos do Brasil, e isso não pode ser à toa; segundo, porque ele é um violonista maravilhoso que, na minha opinião, deixa qualquer Yamandú no chinelo. O que ele faz com o violão é impressionante. O Toquinho é um verdadeiro apaixonado pelo violão, que estuda até hoje, durante horas, todos os dias. É emocionante vê-lo tocar ao vivo.

Eu tive esse prazer no sábado passado, quando fui com a Vivi e os pais dela ao show do Toquinho com o MPB4 em comemoração aos 40 anos de carreira. O MPB4 faz parte da minha infância, com as várias interpretações que eles fizeram de músicas infantis. Enfim, lá fomos nós ao Tom Brasil, enfrentar aquele aperto, porque eles colocam mais mesas do que o espaço comporta - aposto que isso não está de acordo com as normas internacionais de segurança, como eles anunciam através de uma ridícula apresentação gravada pelo panaca do Miele.

O show foi ótimo. Foi uma viagem no tempo mesmo e terminou com a interpretação antológica que o MPB4 fez da música "Roda Viva". E o Toquinho, mais uma vez, apavorou no violão. As conversas com o público renderam boas risadas, por exemplo, quando ele contou da temporada de shows no Canecão ao lado do Vinicius, da Miucha e do Tom Jobim, que durou quase um ano. O Toquinho conta que o Tom, que já morava em Nova York, estava em dúvida se participaria ou não dessa temporada, o que deixou o Vinicius puto da vida. Uma hora o Vinicius se encheu e disse: se você quiser fazer o show, faça; e se você quiser voltar pra Nova York, volte; aproveite e fique por lá. Depois de um silêncio meio tenso, o Tom disse: "Eu estou em dúvida porque Nova York é bom, mas é uma merda; e o Rio é uma merda, mas é bom".

A Vivi aproveitou pra comprar um CD do Toquinho com o mestre Paulinho Nogueira, que foi professor de violão do Toquinho. O Júlio já havia me falado desse CD, que é simplesmente maravilhoso. Portanto, se você acha as músicas do Toquinho meio chatas, eu recomendo que você procure conhecer o violonista Toquinho. Como diria uma lenda do Jornalismo da PUC, o Toquinho é um moooooooooooonstro com o violão nas mãos.

segunda-feira, julho 30, 2007

Migalhas de Ouro

Ufa, acabou esse tal dePan. Eu não agüentava mais esse clima ridículo que se formou em torno de uma competição paradoxalmente falida e superfaturada. A imprensa encheu o saco até torrar com o discurso da busca pelo ouro. Vamos lá, Brasil! Vamos ultrapassar os cubanos! E dá-lhe nego torcendo desesperadamente para um alemão com cara de alemão e nome de alemão ganhar as provas de iatismo. Lá vai o outro se emocionar com o hipismo, em que cavalos de nomes ridículos, como Rufus, Chup Chup ou sei lá o quê, valem milhões de dólares e se alimentam com ração holandesa. E o tal do Balobê de Ruê (me recuso a aprender como se escreve o nome desse cavalo que custou U$ 5 milhões)? Deve estar aposentado, pastando nos gramados de Monte Carlo e namorando as éguas mais famosas de Hollywood. Se bem que, de acordo com as informações de um animal meio fofoqueiro, parece que o tal do Balobê não é muito chegado.
Aos que me acusam de ser antipatriótico, eu respondo: foda-se. Se pra ser patriota eu tenho que me emocionar com boliche e soltar rojões a cada vitória do Robert Scheidt, o garoto-propaganda da Abrabin, eu sinto muitíssimo. Em bom português: Include me out.
O pior é que eu gosto dessas competições. Não tanto do Pan, e menos ainda desse no Rio de Janeiro, porque o patriotismo de araque acaba me tirando do sério, já que o Brasil acaba ganhando uma porrada de medalhas que jamais ganharia se fosse numa Olimpíada, quando competem os principais atletas do mundo inteiro. Numa Olimpíada, a mídia também alimenta o patriotismo picareta, mas como o Brasil acaba levando ferro em quase tudo, substitui-se a euforia dourada pelo velho discurso de que o importante é competir. Na Olimpíada, faz-se o maior alarde para cada nadador brasileiro que consegue chegar a uma final olímpica, mesmo que depois ele chegue em último e, mesmo quebrando o recorde sul-americano da prova, vários segundos atrás do primeiro colocado.
Atletas que por ventura lessem essas minhas palavras poderiam ficar putos comigo. Mas eles deveriam estar do meu lado (afinal, eu estou do lado deles), porque no Brasil não existe uma política voltada para o esporte. Não existe incentivo de ordem alguma, o que significa dizer que, toda medalha que eles conseguem é fruto de uma superação desgraçada (tirando os bem nascidos que podem praticar iatismo e hipismo, e parabéns para eles também). O pior é que o atleta se mata, treina nas horas vagas, se alimenta mal, faz uma porrada de esforços hercúleos para chegar a uma Olimpíada.
Aí o brasuca ainda vai lá, enfrentar um monte de holandeses, australianos, americanos, todos muito bem alimentados, treinando nas melhores condições possíveis, recebendo dinheiro dos patrocinadores e bolsa pra estudar nas melhores universidades.
Aí o brasuca se supera que nem um desgraçado e volta pra casa com uma medalha. Êêêêêê! Faz-se a maior festa; o Galvão Bueno se emociona e diz que já sabia; o político abre o sorrisão; chovem empresários convidando o cara pra fazer propaganda na televisão.
E depois que passa a empolgação, que todos já se aproveitaram ao máximo desse Ulisses de Pindorama? Depois nada. O sujeito cai no esquecimento, nada se faz pra desenvolver o esporte e vamos que vamos atrás de outro ex-vendedor de picolé e ex-servente de pedreiro que, sabe-se lá como, conseguiu virar um atleta de ponta. Aliás, sabe-se sim. Simplesmente, através de um esforço individual gigantesco, somado a um talento que, esse, não se sabe direito de onde vem.
Enfim, eu gosto de Olimpíada. Gosto porque é uma oportunidade de assistir a vários esportes que, em condições normais de pressão e temperatura, nós nunca vemos na televisão. E gosto porque é uma festa bonita, e uma chance para que vários atletas desconhecidos consigam alguma notoriedade que lhes permita praticar seu esporte com um pouco mais de estrutura. Também é uma chance única para vermos em ação os melhores atletas do mundo, competindo entre si nas mais diferentes modalidades.
Seria bom se os Estados Unidos e o Canadá enviassem seus melhores atletas aos Jogos Pan-americanos? A maioria diria que não, porque isso implicaria em muito menos medalhas para o Brasil. Eu diria que sim. Eu gostaria de ver os melhores competindo, mas os norte-americanos estão certíssimos. Pra que mandar pra cá o que eles têm de melhor se isso em nada acrescentaria à carreira deles? Melhor mandar os juvenis, para que eles ganhem experiência internacional. Além do mais, eles dão conta do recado muito bem.
Por isso eu dei graças aos céus que o Pan acabou. Porque quem merecia faturar - os próprios atletas - é quem menos se beneficia com essa situação. A elite oportunista, através da nossa lamentável mídia, faz de tudo pra que nós, os bobos, acreditemos que o Brasil é uma potência olímpica. Enquanto isso, tira-se leite de pedra, porque, como eu já disse antes, desenvolver o esporte pra valer dá muito trabalho e demora muito. O problema é que a elite quer faturar o mais rápido possível em cima do esforço desses pobres atletas.
Agora eu estou aliviado, porque o meu mau humor passou. E que ninguém pense que essa merda toda me impede de me emocionar. Ontem, na Maratona, a vitória do Franck Caldeira foi muito bonita. Ele foi buscar o guatemalteco, que estava uns trezentos metros à frente dele (pra quem não tem idéia, essa distância é bem complicada de tirar) e assumiu a liderança da prova a menos de dois quilômetros do final. O Franck passou o gutemalteco como se fosse um carro de Fórmula 1 passando um carro de passeio. Deve ter feito até ventinho no cabelo do adversário. Essa foi na raça.
Mas não me peçam pra comemorar o ouro do vôlei, pois nas Américas o Brasil não tem adversários à altura. E por que será? Será que é porque o vôlei é um dos poucos esportes levados a sério por aqui? Que pena, porque nós poderíamos ser bons em qualquer esporte. E que pena, porque eu acho vôlei um pé no saco.