segunda-feira, dezembro 25, 2006

Zagueiro Grosso

No último sábado, 23 de dezembro, lá pelas 10 da manhã, nós fomos jogar uma bolinha como parte da comemoração do aniversário do meu irmão Tiago. Fazia, digamos, um ano que eu não jogava bola. E fazia, digamos, quatro meses que meu único exercício físico tinha sido subir e descer as escadas da Câmara Municipal. Era, realmente, a crônica da morte anunciada.
Logo nos primeiros lances da partida, quando havia um pouco de gás, eu tentava compensar a minha falta de tempo de bola, a minha falta de noção de posicionamento, a minha falta de intimidade com a redonda, enfim, a minha falta de tudo, com muita disposição na marcação (é claro que essa disposição durou bem uns três minutos). E foi mesmo logo nos primeiros lances que eu levei uma bola no meio das pernas que, normalmente, teria me deixado uns três dias sem conseguir dormir direito. É, na verdade, eu estava tão mal que nem uma ponta de humilhação eu senti. Acho que eu incorporei o espírito do zagueiro grosso que está consciente de que não é ator principal do espetáculo.
Lá estava eu, um zagueiro desajeitado, tentando ser útil ao time dentro das minhas limitações. Nos poucos lances em que tentei fugir desse papel que me cabia, fiz feio. Muito feio. Saí do jogo pensando: a coisa tá feia pro seu lado, escrevinhadeiro. Se você continuar assim, até pra escrever sobre futebol vai ficar cansado. Eu estou meio sem fôlego mesmo, em pleno terceiro parágrafo.
O resto do dia foi mais fácil. Roda de samba com churrasco, roda de samba com feijoada e roda de conversa com meus camaradas até meia-noite e pouco. Pra muita gente eu falei: tentei jogar bola hoje e foi lastimável. Pelo menos serviu pros amigos rirem. E acho que também serviu pra nascer em mim uma vergonha na cara: porra, você vai continuar sedentário desse jeito? O Fábio já me convidou pra bater uma bola com a galera do trabalho dele toda segunda e, como meu passe anda bem desvalorizado e a multa rescisória com o glorioso Megsuep é de três centavos (pensando bem, pode levar de graça), acho que vou aceitar a proposta. Quem sabe no próximo aniversário do Ti eu consigo, pelo menos, representar bem o papel de zagueiro grosso.