Pobre Crasso. Ao lado de Júlio César e Pompeu, Crasso compôs o triunvirato que governou Roma antes de César resolver tomar conta de tudo. Parece que Crasso cometeu um erro gravíssimo que o deixou de fora da parada, mas eu não sei qual foi. Os livros de História que eu andei bisbilhotando um tempo atrás apenas mencionam a existência de Crasso. Até que a Vivi comprou um livro chamado História de Roma, do Rostovtzef (mais ou menos isso) e, estou certo de que lá se fala com um pouco mais de cuidado sobre Crasso e seu erro, que eternizou seu nome para todo o sempre, assim como a Praça de Grèves, na França, originou o termo "greve" e o jogador de futebol português Gandula, que era péssimo jogador, mas muito solícito ao buscar as bolas que iam parar fora do campo, eternizou o termo "gandula".
Falei do antigo imperador romano porque ontem, ao ligar a televisão antes de me deitar, lembrei-me dele. Lembrei-me dele pelo simples motivo de que não se deve, jamais, em hipótese alguma, dar aquela ligadinha na televisão antes de deitar. Pra minha sorte, estava passando "Anaconda sei lá que número" na Tela Quente e aquilo me assustou - não no sentido que queriam os criadores dessa obra-prima. Acabei desligando a televisão depois de uma cobra gigante, visivelmente computadorizada, devorar um tal de Ben (aquele engraçadinho que faz piada com o perigo enquanto os outros estão apavorados e, nos filmes de terror, é o primeiro a dançar. Sabe aquela cena clássica? O cara finge mil vezes que está sendo atacado e a mocinha fica: "Pára, Ben!"; até que o Ben some e a mocinha fica: "Ben, isso não tem graça. Ben! Ben? Ben...". Finalmente, o Ben aparece na boca de uma anaconda).
Valeu, Ben. Por sua causa eu não sofri as conseqüências desse erro crasso, que é ligar a TV antes de ir deitar. Quando eu faço isso, normalmente vou dormir lá pelas duas da manhã depois de ter assistido a um monte de lixo. Mas essas aventuras da anaconda no Bornéu (quem jogou War sabe onde fica) me trouxeram à mente uma série de merdas que eu já perdi tempo assistindo, e isso me estimulou a selecionar os piores, em diferentes categorias.
Na categoria "Cena mais ridícula", eu daria o troféu a Independence Day. O filme todo é tremendamente ridículo, mas o sujeito que inventou essa merda se superou naquela cena em que o presidente dos Estados Unidos, pessoalmente, resolve pilotar um caça e salvar o planeta dos alienígenas. Nem o próprio Bush, no banheiro presidencial, sofrendo as conseqüências por ter devorado um quilo de costelinha e um pedaço sangrento de bisteca, teria uma idéia dessas. Parabéns, quem quer que seja o inventor dessa merda: você acabou de ser premiado pelo blógui do escrevinhadeiro.
Categoria "Final mais Americano", aquele fim de filme que, quando o autor olha pra própria obra, diz: "Agora eu levo o Oscar". Fico na dúvida entre o final de "A vida é bela" e o final de "Em busca do soldado Ryan". Acho uma parada dura de decidir, mas como tem que haver um vencedor (os americanos não toleram o empate), eu entrego a taça ao soldado Ryan.
Troféu Regina Duarte, para aqueles atores que sempre fazem o mesmo papel. Invariavelmente. Eu entregaria, sem dúvida, ao Bill Murray, que sempre faz o papel daquele sujeito meio blasé, que dá uma de insensível, mas, no fundo, é uma boa pessoa. Menção honrosa ao Tommy Lee Jones, o policial gélido e implacável que, também no fundo, tem coração.
"Filme mais Insuportável". Sim, aquele que, pra chegar ao final, é preciso ser um herói da categoria de um Ulisses, ou de um Aquiles, ou de um Hércules. Esse, pra mim, é fácil: Nove semanas e meia de amor. Mesmo no auge da minha puberdade, eu acho que não sobrevivi às primeiras duas semanas. Puta filme chato! Chato pra caralho, insuportável, tenebroso. Só serviu pra ser sacaneado numa daquelas comédias pastelão, acho que "Top Gang". Claro, a cena clássica de Nove semanas e meia de amor é aquela em que o sujeito faz um piqienique no corpo da Kim Bassinger. Pois é, nem com a Kim Bassinger no ponto o filme é assistível (desculpa, Vivi, mas a Kim Bassinger foi uma das fontes inspiradoras da minha geração).
O troféu "Cara-de-pau", para o plágio mais descarado, eu entregaria ao filme brasileiro "Pequeno dicionário amoroso", com a Andréa Beltrão e o Daniel Dantas fazendo um casal lamentável que devia ter parado na letra "A", de: "Ai, caralho. O que eu estou fazendo nesta sala de cinema?" Porra, se a pessoa quer copiar, por favor, copie alguma coisa que preste. Tem um filme americano, uma dessas merdas enlatadas (vou tentar descobrir o nome pra ninguém assistir por engano) que é exatamente isso: o relacionamento de um casal, contado por uma amiga dela e um amigo dele (quem faz esse papel na versão brasileira é o lamentável do Toni Ramos), que segue a ordem de um dicionário: letra A: Amor; letra B: Babaquice; letra C: Caralho, vou embora do cinema agora.
Já que falamos em filme nacional, eu não podia deixar de fora a categoria "Pior Filme Nacional". Não vou nem contar essas coisas arrepiantes que o Daniel Filho ou sei lá quem da Rede Globo costuma fazer. Eu entregaria o prêmio, com uma satisfação imensa, ao Bruno Barreto e seu "O que é isso, companheiro?" O que é isso, companheiro, digo eu. Puta filme maniqueísta. Uma merda, com direito a torturador tendo crise de consciência e a difamação de personagens que existiram de verdade. Fora o Pedro Cardoso fazendo o papel do babaca do Gabeira, mais babaca do que nunca. E a Fernando Montenegro à janela, avistando uma "cena suspeita" e chamando a polícia? Claro, se a polícia tivesse dado bola pro palpite da velhinha, o seqüestro teria sido evitado, assim como o filme do Bruno Barreto. É bom que se diga que o livro do babaca do Gabeira, apesar de ter sido escrito pelo babaca do Gabeira, é um bom livro e não tem nada a ver com essa merda que o Bruno Barreto fez o favor de despejar.
Depois dessa feroz disputa, saúdo a todos os vencedores e até o ano que vem, quando, por culpa da televisão, eu terei novas idéias para um novo concurso do blogueiro infeliz.