Férias
Eu estive ocupasíssimo esta manhã. Mil coisas pra fazer ao mesmo tempo, tantas reponsabilidades, tantos milhões de dólares dependendo das minhas escolhas, tantos milhões de futuros que dependem do meu desempenho. Apenas um deslize meu e parceiros quebram na Holanda, acionistas ficam pobres na Austrália e bordéis fecham as portas no Japão.
Neste exato momento, enquanto eu como uma mexerica e derrubo sementes sobre o teclado, meus telefones pulsam em busca de uma atitude capaz de mudar a direção de correntes marítimas, a velocidade das andorinhas, a...caralho, chega desta merda. Chega, estou estafado. Quem quiser, que consulte meu fiel escudeiro Esfeluntis. Não adianta chorar, meu povo. Não adianta chorar. Eu irei para a praia amanhã e só retornarei segunda-feira, se é que o mundo resistirá à minha ausência até lá.
Poxa, eu também sou um ser humano, por increça que parível. Sou sim. Não sou uma máquina sem sentimentos. Eu sou como os personagens do já citado Tommy Lee Jones. Por trás dessa minha carcaça impassível, existe um garoto alegre que gosta de cavalgar, pescar tilápias, jogar pedrinhas nas águas cristalinas do Rio Parnabantubaquara.
Portanto, meus caros: virem-se sem mim, pelo menos até segunda. Eu sei que vocês serão capazes e, se não forem, sinto muito. Amanhã irei à praia, aconteça o que acontecer, desligarei meus celulares e meus nextéis, deixarei meu notebook em casa e não apertarei nenhum botão até segunda-feira. Certo, eu abro uma exceção para a descarga do banheiro. Já peguei um livro que há muito quero ler, mas minhas obrigações infinitas me impedem: "Os demônios", do Dostoiévski.
Está feita a justificativa: este maravilhoso espaço que todos aprenderam a amar ficará inalterado, inabalável, incólume, impassível, até o dia 11 de junho, segunda-feira. Não se assustem, eu prometo que não mais os abandonarei por quatro meses. Apenas por quatro dias.
Bom feriado a todas e a todos. Eu voltarei (isso é uma ameaça, Aldo).
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