Ética?
De volta à programação normal. Primeiramente, quero dizer que nem abri o livro do Dostoiévski, mas apertei muita descarga ao longo do feriado. Dormi umas três vezes por dia e, só pra poder descansar mais, dei umas corridinhas na Praia da Baleia. Hoje cedo (na verdade, às 9h) a Vivi me mostrou uma reportagem no Folhateen, que falava sobre os blogueadores que se cansaram de bloguear. Eles se cansaram, deixaram recados amargurados e mataram o espaço. Fizeram bem, porque bloguear é uma atividade sem sentido. Só se dedicam a isso os desocupados, os chatos de galocha (nunca entendi essa expressão) e aqueles que têm alguma obrigação profissional de fazê-lo. Igualmente, só lêem blóguis os desocupados, os chatos de galocha e aqueles que têm alguma obrigação profissional de fazê-lo - além, é claro, dos amigos e familiares dos blogueadores.
No entanto, um blógui não deixa de ser um espaço perfeito para masturbações mentais. E é exatamente por isso que eu estou aqui, além de estar aqui por ser um chato e um desocupado. Estou aqui para escrever as bobagens que me cabem. Se tanta gente por aí escreve tanta bobagem e ainda ganha bem pra isso, por que eu não posso fazer isso de graça? Faço, e com o maior prazer. Veja, por exemplo, a revista Veja, que há muito virou um antro de escrevinhadeiros. Um ótimo lugar para se escrever bobagens, aquele. Sim, meu sonho é ter uma coluna em Veja. Veja, pessoal de Veja, eu aprendi que não se coloca artigo antes de Veja. Não é "a Veja". É apenas "Veja". Estou ou não estou apto para trabalhar em Veja?
Sempre dou uma sapeada em Veja, confesso, quando estou em casa de Vivi. Confesso, portanto, que li a entrevista exclusiva com a biscate do momento. Digo "biscate do momento", antes que o movimento feminista me xingue, porque é isso que acontece sempre que aparece algum escândalo desse tipo por aqui. Sempre, o foco da questão é desviado. E as pessoas passam a discutir se a fulana é ou não uma biscate, é ou não uma pistoleira, é ou não uma lobista. Eu mesmo fiquei me perguntando, confesso, quanto será que Veja pagou para Mônica por essa exclusiva. Sim, porque, se a moça queria se defender, poderia ter convocado uma coletiva. Ou não? Antes dessa entrevista, ela já tinha atendido a Folha de S. Paulo só pra preparar o terreno. Disse, apenas, que tinha muito a dizer. Nas entrelinhas, eu entendo: "Tenho muito a dizer, mas já me comprometi com Veja. Sinto muito, mas eles chegaram antes e eu acho que a minha foto ficará linda na capa daquela revista, para que todo mundo veja que eu não sou uma oportunista".
É, lá vai o escrevinhadeiro desviar o foco. Mais ou menos, meus caros. Mais ou menos. Porque eu acho engraçado como a grande imprensa adora dizer por aí que não paga ninguém para realizar matérias, tudo em nome da ética. Em nome da ética, porém, a grande imprensa não vê problemas em viajar pelo mundo a convite das empresas. Lembra daquela capa de Veja sobre um produto eletrônico (acho que era o cruzamento de um celular com um aipódi) que só chegará ao Brasil daqui a mais de um ano? Qual é a relevância dessa notícia para justificá-la como capa da revista mais lida do Brasil? Bom, eu tenho o direito de suspeitar. Por isso, devo dizer que suspeito que Mônica Veloso tenha levado algum para dar essa exclusiva a Veja. Suspeito bastante. E lá se vai a tal da ética mais uma vez.
Quando se desvia o verdadeiro foco da questão, também lá se vai a tal da ética, porque a grande imprensa sabe que todos adoram uma fofoca e a grande imprensa sabe que o nosso país é muito machista. Falemos, então, da biscate do momento. Falemos da psitoleira que seduziu um senador, engravidou e agora está chupinhando grana do sujeito. Isso sim, vende jornal, vende revista, dá audiência e o caralho. Político corrupto, desonesto, canalha? Porra, muda de canal porque esse programa eu já vi mil vezes. Também não é muito bom pegar demais no pé de um Renan Calheiros. Com ele, certamente, cairia muita gente, e isso não é conveniente pra ninguém, certo Veja? - ou todos já se esqueceram que foi Veja quem criou o "caçador de marajás"?
É, meus caros, a biscate do momento, na verdade, é a própria imprensa. A grande imprensa não passa de um enorme bordel e, nós jornalistas, fazemos o trabalho sujo. Fazemos o trabalho sujo e ainda posamos por aí de paladinos da moralidade, de defensores da democracia, de implacáveis investigadores, olhos do povo, para que o dinheiro público não seja desviado de suas funções sagradas. E que veículo da grande imprensa não tem como uma das principais fontes de renda dinheiro que vem do próprio Estado? Como evitar que essa promiscuidade comprometa a prórpia cobertura jornalística?
Eu li em algum lugar que o Estado, em geral, é fruto de uma disputa social. Ou seja, a dinâmica da sociedade e seus diversos choques de poder, acabam por definir a estrutura do Estado. No Brasil, deu-se o contrário: o Estado chegou primeiro e, a fim de se expandir, inventou a sociedade. Essa inversão fez com que se criassem relações umbilicais entre estruturas que não deveriam se misturar. Imprensa X Estado, certamente, é uma delas. É claro que eu não serei estúpido de dizer que, pelo mundo a fora, a imprensa é livre. Todos têm que aceitar as regras do jogo capitalista e, sem dúvida, o governo é sempre um forte jogador. Mas no Brasil, nem o mínimo de autonomia é possível, porque, na verdade, essa autonomia não é buscada, nem por nós jornalistas e nem por ninguém.
Estamos todos envolvidos numa teia bem amarrada entre pessoas físicas e jurídicas que enlaçou a ética de todos os lados, transformando-a numa palavra bonitinha que serve de slogan para vender produtos. Nada mais. Portanto, Mônica nenhuma deveria ser o foco das discussões e das investigações. É claro que ela deve ser investigada, no mínimo, porque recebeu uma porrada de dinheiro vivo e, provavelmente, esqueceu de declará-lo ao IR. E, como assim, receber oito mil reais por mês, apenas, para se adapatar à incômoda situação de estar grávida de um senador casado? Muito precisa ser investigado, mas o buraco, certamente, é muito mais embaixo.
Infelizmente, meus caros, quem dorme dentro de um buraco muito profundo é a própria ética.
PS1: Eu sei que esse texto ficou muito confuso, mas eu não estou a fim de transformar este espaço para masturbações mentais num depósito para reflexões elaboradas. Elaborar é muito chato e, se eu fizesse isso, perderia meus três leitores - pois é, eu também não sei o que é ética.
PS2: Inicio aqui uma campanha pelo fim da tecla "Insert". Eu sei que ela deve servir para alguma coisa, mas para todo mundo que eu conheço só serve pra ser apertada por engano e para acabar apagando trechos dos textos. Essa merda de tecla é útil? OK. Pelo menos, mudem-na de lugar, porra! Precisa ficar ao lado da "tecla-borracha" e acima do "Delete"? Isso é sacanagem pura.
1 Comments:
Psitoleira?! Ato falho ou falha no ato?
Miriam
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