terça-feira, novembro 20, 2007

Confissões de um escrevinhadeiro ridículo

A Vivi me falou:
- Amorzinho, primeiro você diz que vai desistir do blógui e depois você volta a escrever? Assim você espanta os seus leitores.
Acho que esse é o meu lado João Gilberto. De acordo com o professor Walter Garcia, João Gilberto é um obcecado pela perfeição. Por isso, ele diz que ar condicionado forte demais desafina os instrumentos; ele quer tapete persa no palco porque essa tapeçaria não "rebate" o som; ele canta a mesma música oito vezes no mesmo show; e ele "dribla" as pessoas que tentam cantar com ele.
O que eu tenho a ver com essa história? É óbvio que eu não tenho obsessão nenhuma pela perfeição. É só ver essas merdas que eu escrevo de qualquer jeito. Também não me dou bem com ar condicionado, mas por outra razão - respiratória. Tapete persa? Que eu saiba, só pisei sobre um desses em visita ao Palácio do Itamaraty (e foi sem querer, eu juro).
Meu lado João Gilberto está em "driblar" os meus poucos (e amáveis) leitores.
Acho que eu tenho um pouco de vergonha das coisas que escrevo. É meu lado vira-lata. O grande escritor uruguaio Horacio Quiroga já dizia, em suas regras para se escrever um bom conto, que jamais devemos incorrer no erro de escrever para alguém. O escritor só tem chance de escrever algo bom, de acordo com Quiroga, se não ficar imaginando "o que fulano vai pensar quando ler isto".
Eu acabo sempre imaginando o que meu grande parceiro Thiago Iacocca vai achar de um conto tosco que eu escrevo; acabo pensando se minha mãe vai ficar preocupada com as sandices que o filho dela escreve (ou com as possibilidades de eu ser assaltado aqui em Brasília); acabo me preocupando com os zilhões de erros de português que eu cometo. Acabo travando.
Esta é a verdade: eu não consigo me desprender dos meus poucos leitores. E eu sou um menino mimado (mãe, não é sua culpa) que fica sentido quando as pessoas não gostam de algo que eu digo. Enfim, sou um escrevinhadeiro ridículo. Fazer o quê?
Terapia? É, terapia seria aconselhável, sem dúvida. Porque eu também odeio quando as pessoas ficam me elogiando, por achar que elas só estão fazendo as vontades de um farsante de quem elas gostam muito - não pelos textos, mas por razões outras que só a vida explica.
Ridículo e chato? Mais chato que o João Gilberto? Pode ser. Está aí a confissão. Agora, que eu já estou me sentindo patético o suficiente, prometo que tentarei parar com essa viadagem toda e me limitar a escrever. Quando a Carol citou Drummond, que dizia escrever "para se livrar", foi inevitável que eu me perguntasse: por que caralho eu escrevo? Sei lá, porra. Para os outros é que não é, porque se fosse, eu tava fodido.
Enfim, aproveito para citar aqui minha sogra Inês, que muito sabiamente, costuma dizer: "Devemos nos preocupar com o que interessa". É verdade. Eu me preocupo tanto com idiotices, com idiossincrasias menores, queimo a mufa (como a Vivi gosta de dizer) com detalhes tão pequenos que, na verdade, não são nada difíceis de esquecer. E aí eu acabo metendo os pés pelas mãos.
Fazer o quê? Certezas eu tenho poucas, mas uma delas é: ainda farei (e escreverei) muita merda na vida. E para aqueles que estão indignados com a minha citação a Roberto Carlos, respondo com as palavras de Tom Jobim: "Roberto Carlos é o melhor compositor de música ruim do Brasil".