quarta-feira, outubro 20, 2010

Barão de Itararé

Rapaz, eu ia falar hoje sobre o ciclo do oxigênio, mas resolvi prender minha respiração, porque alguém usou o banheiro em algum lugar aqui perto e a relação das borboletas que voam em Carapicuíba e provocam chuva em Teiping (existe uma cidade com esse nome?) me deixaram confuso. Outra coisa me deixou confuso: existem borboletas em Carapicuíba? Confuso estou, confuso deixei os meus milhões de leitores. Poderia eu fazer algo, mas sou um artista consagrado e, artistas consagrados querem mais é que os outros se virem. Eu não vou me coçar e ainda serei tachado de gênio por algum francês idiota.
É, hoje não sai nada mesmo, nem a porrada, estou com uma prisão de ventre daquelas, então, deixemos a merda pra amanhã, que será um novo dia após os dois quilos de ameixa que mandarei pra dentro. Lembrei-me, num momento de desespero, de um texto do Barão de Itararé do qual gosto muito. Conheci esse texto de uma forma muito apropriada: o Maurão, quando dono do bar "Espaço Paulista" (que saudade daquele botequim), gravou esse pérola do Barão de Itararé nos jogos americanos que ficavam às mesas. Segue o texto, é melhor que ouvir um idiota que não sabe nada delirar sobre o ciclo do oxigênio e sobre as borboletas de Salesópolis (lá elas existem, sim, aos montes):
Uísque e mulher ranzinza - Barão de Itararé

"Eu tinha doze garrafas de uísque na minha adega e minha mulher me disse para despejar todas na pia, porque se não...
- Assim seja! Seja feita a vossa vontade, disse eu, humildemente. E comecei a desempenhar, com religiosa obediência, a minha ingrata tarefa.
Tirei a rolha da primeira garrafa è despejei o seu conteúdo na pia, com exceção de um copo, que bebi.
Extraí a rolha da segunda garrafa e procedi da mesma maneira, com exceção de um copo, que virei.
Arranquei a rolha da terceira garrafa e despejei o uísque na pia, com exceção de um copo, que empinei.
Puxei a pia da quarta rolha e despejei o copo na garrafa, que bebi.
Apanhei a quinta rolha da pia, despejei o copo no resto e bebi a garrafa, por exceção.
Agarrei o copo da sexta pia, puxei o uísque e bebi a garrafa, com exceção da rolha.
Tirei a rolha seguinte, despejei a pia dentro da gar­rafa, arrolhei o copo e bebi por exceção.
Quando esvaziei todas as garrafas, menos duas, que escondi atrás do banheiro, para lavar a boca amanhã cedo, resolvi conferir o serviço que tinha feito, de acordo com as ordens da minha mulher, a quem não gosto de contrariar, pelo mau gênio que tem.
Segurei então a casa com uma mão e com a outra contei direitinho as garrafas, rolhas, copos e pias, que eram exatamente trinta e nove. Quando a casa passou mais uma vez pela minha frente, aproveitei para recontar tudo e deu noventa e três, o que confere, já que todas as coisas no momento estão ao contrário.
Para maior segurança, vou conferir tudo mais uma vez, contando todas as pias, rolhas, banheiros, copos, casas e garrafas, menos aquelas duas que escondi e acho que não vão chegar até amanhã, porque estou com uma sede louca ..."
É poesia pura. E eu também estou com uma sede louca. Alguém se habilita?