quarta-feira, outubro 17, 2007

(Longo Suspiro)

Hoje foi mais um desses dias de sair pra fumar um cigarro e não voltar, à moda da vasta literatura de folhetim que, posteriormente, foi vastamente copiada nas telenovelas. Um calor de ensopar a camisa, de grudar na cadeira. Bem disse a secretária: vai chegando essa hora e vai crescendo uma vontade de sair correndo. E completou: "Sai pra lá, isso é vida de gente?" Não sei mais o que é vida de gente. Outro dia, algum personagem de televisão disse: "Nós desperdiçamos a vida ao passo que vivemos". Isso pode ser lá pros lados do hemisfério norte. Aqui, a coisa tá mais feia. Aqui, o povo desperdiça a vida na luta pela sobrevivência. "Isso lá é vida de gente?"
Bandido não é gente, as pessoas dizem por aí. Criança é pinguinho de gente. Sei lá, hoje estou me sentindo meio planta. Meio cactus. Uma planta do serrado, fritando ao sol. A mediocridade ao sol. Que saudade da mediocridade ao sol, quando fazíamos fotossíntese na quadrinha do Colégio Equipe. Um dia o Rubão chegou pro meu irmão, que estava matando aula com uns colegas, e disse: "Vocês são a mediocridade ao sol". Que saudade da mediocridade ao sol. E o pobre Rubão, que acreditava na sapiência dos homossapos que somos, acabou sofrendo um infarto fuminante ao esperar que o sinal ficasse verde, em Ribeirão Preto. Creio que todos os ex-alunos equipanos que passaram pela "Era Rubens", ao saber da notícia, não puderam evitar aquele sentimento tolo de terem (termos) sido um pouquinho responsáveis pela morte do nosso ex-diretor.
Era o papel do Rubão. Alguém tem que fazer o papel de chato, senão a estudantada vira tudo pelo avesso. Lembra quando eu falei da Vingança da Marinês? Era papel do Rubão, que tinha que buscar aluno que preferia comer pastel na feira a freqüentar as aulas de Artes pós-intervalo; era papel do Rubão avisar aos queridos alunos que estavam de recuperação em matemática que, devido a uma pequena suspeita de fraude, teríamos (eu era um dos queridos alunos) que refazer a prova.
Meu amigo Fábio, hoje um sério executivo que dá o sangue dentro de um banco (não de sangue, de dinheiro mesmo) que o diga, porque o Fábio gostava de tirar as autoridades do sério. Tirou o Rubão do sério na nossa viagem de estudos em Volta Redonda - quem mandou nos levar àquele fim de mundo enquanto as turmas anteriores iam a Itatiaia e Cananéia? Volta Redonda, o local do eterno fogaréu que derrete o aço e alumia o céu (súbita inspiração pseudo-poética).
Porra. Tem dia que a coisa não vai. Mas fica tranqüilo que, por bem ou por mal, uma hora a coisa vai. Não tem até marchinha de carnaval sobre o tema? Acabei me lembrando do Rubão. E acabei pensando como a vida é besta. E passa rápido. E o cactus do serrado quer mais é tomar um tereré bem gelado, com limão espremido. Ê, coisa boa. Um dia a coisa vai.
"Fogaréu dos diabos", diz o cabra, antes de afrouxar o nó da gravata e dar um longo suspiro.
PS: Por falar em gravata, alguém podia pedir ao Fábio para me ensinar a dar um nó nessa joça? Tô passando vergonha diariamente aqui em Brasília. Assim não dá, sô.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Oi, Tô! Deve mesmo estar um mega calor aí no Cerrado ( e não serrado).
Aí no balneário é dia de céu cinzento e de um friozinho bom.

11:33 AM  

Postar um comentário

<< Home