Fim da Linha
Dei uma olhada em volta e todos pareciam indiferentes. Estávamos no mundo dos mortos. Aquela seria a nossa casa até sempre. Uma casa aconchegante, é verdade, porque cada vez mais gente chegava por ali. Teríamos que aprendera dividir o espaço, coisa que nunca aprenderíamos em vida, nem que vivêssemos milhares de anos.
Ali, não adiantaria nada matar alguém, ou sacanear, ou tentar obter vantagens. Eu tentei, assim como todos os filhos da puta que chegavam aos montes todos os dias, molhar a mão de um daqueles credenciados. Mas, molhar a mão com quê? Já dizia Vinicius de Moraes, a quem ainda não tive o imenso prazer de conhecer, que do nosso mundo só levamos o nosso paletó. O resto fica por lá, para parentes que travarão brigas horríveis para ver quem vai ficar com a sua obturação de ouro, seu autógrafo do Fittipaldi e sua jaqueta surrada de couro.
Não havia muito a ser feito. Nada , praticamente. Esperaríamos pelo fim de uma história sem fim. Intrigou-me, até, o fato de haver um relógio na parede escura daquela sala de espera. Um relógio que funcionava e tudo. Mostrava as horas de acordo com o fuso de Atenas. Nunca pensei que teria saudade de um daqueles consultórios médicos com a revista Istoé de três meses atrás e os últimos duzentos números da revista Caras.
Depois de três horas e catorze minutos, chamaram pelo meu nome. Fui atendido, exatamente, às 2h27 do horário de Atenas. Fiquei um tanto desapontado com o tal Hades. Um sujeito baixinho, atarracado, careca e, o mais estranho, simpático. Respondeu a todas as minhas perguntas cretinas com muito bom humor e não perdeu a paciência nem quando eu pedi pela oitava vez para que ele antecipasse a chegada da Camila Pitanga ao nosso mundo. Não que eu desejasse a morte da moça, mas, afinal, mesmo depois de mortos nós seres humanos continuamos a ser um tanto egoístas.
Terminado o meu tempo, ganhei um número de identificação. Agora eu era o 17.432.112.776.104.466.399.614.548-10. Teria eu que decorar aquele número? “Apenas se você quiser assinar a revista ‘Helles e Hellas’”.
(to be continued in 2013)
Ali, não adiantaria nada matar alguém, ou sacanear, ou tentar obter vantagens. Eu tentei, assim como todos os filhos da puta que chegavam aos montes todos os dias, molhar a mão de um daqueles credenciados. Mas, molhar a mão com quê? Já dizia Vinicius de Moraes, a quem ainda não tive o imenso prazer de conhecer, que do nosso mundo só levamos o nosso paletó. O resto fica por lá, para parentes que travarão brigas horríveis para ver quem vai ficar com a sua obturação de ouro, seu autógrafo do Fittipaldi e sua jaqueta surrada de couro.
Não havia muito a ser feito. Nada , praticamente. Esperaríamos pelo fim de uma história sem fim. Intrigou-me, até, o fato de haver um relógio na parede escura daquela sala de espera. Um relógio que funcionava e tudo. Mostrava as horas de acordo com o fuso de Atenas. Nunca pensei que teria saudade de um daqueles consultórios médicos com a revista Istoé de três meses atrás e os últimos duzentos números da revista Caras.
Depois de três horas e catorze minutos, chamaram pelo meu nome. Fui atendido, exatamente, às 2h27 do horário de Atenas. Fiquei um tanto desapontado com o tal Hades. Um sujeito baixinho, atarracado, careca e, o mais estranho, simpático. Respondeu a todas as minhas perguntas cretinas com muito bom humor e não perdeu a paciência nem quando eu pedi pela oitava vez para que ele antecipasse a chegada da Camila Pitanga ao nosso mundo. Não que eu desejasse a morte da moça, mas, afinal, mesmo depois de mortos nós seres humanos continuamos a ser um tanto egoístas.
Terminado o meu tempo, ganhei um número de identificação. Agora eu era o 17.432.112.776.104.466.399.614.548-10. Teria eu que decorar aquele número? “Apenas se você quiser assinar a revista ‘Helles e Hellas’”.
(to be continued in 2013)
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