Dois em um
Aconteceu algo de inusitado comigo e com a Vivi na segunda-feira.
Lá fomos nós assistir ao filme do Woody Allen, "Vicky Cristina Barcelona". É esse aí que dizem que é plágio, com direito a Scarlett Johansson, Javier Bardem e Penélope Cruz.
Gostamos muito do filme. É bem diferente do estilo dos últimos que vimos, o "Match Point" e o "Sonho de Cassandra". Bem mais light, por assim dizer. Mas não tem nada a ver com os últimos pastelões que o Woody Allen andou fazendo. E dá uma vontade de dar um belo rolê pela España...
Enfim, ir a um filme do Woody Allen e gostar não é nada inusitado. Sou fã de carteirinha desse grande neurótico. Mesmo os pastelões valem a pena por algumas piadas que só ele sabe fazer.
Inusitado foi sair do filme e ser abordado por uma mulher que nos ofereceu dois ingressos para assistir ao filme nacional "Romance", esse com o Wagner Moura e a Letícia Sabatella. Primeiro veio a incredulidade de quem nunca vê alguém dando algo sem querer nada em troca, mesmo que sejam dois ingressos para essa tragédia anunciada. Tanto que a reação da Vivi foi perguntar, de maneira gentil, algo como: "O que precisamos fazer?" Seria mais um daqueles brindes em que você tem que dar o número do seu cartão e receber algo "totalmente" de graça?
A mulher logo explicou: tinha recebido quatro ingressos de cortesia do "Correio Braziliense" e, como tinha ido ao cinema apenas com o marido, ficou com dois ingressos extras, que ela resolveu dar (totalmente de graça) para duas pessoas quaisquer (que calharam de ser nosostros ).
Ainda surpresos, aceitamos. E a mulher falou: se desistíssimos, teríamos a missão de passar aqueles dois ingressos pra frente. Bom, não era necessário ser um gênio para saber que aquele filme seria mais um do estilo "não vi e não gostei". Mas, vamos lá, afinal, "de graça, até ônibus errado", como dizem por aí.
De fato, nossas expectativas se confirmaram. O filme é uma merda. Mas nós não poderíamos deixar de aproveitar a oportunidade de, nesse mundo dominado por golpistas e estelionatários, receber algo de algum estranho que não quer nada em troca. Devido a esse fato, nem reclamei muito da atuação do José Wilker (que mais uma vez faz o papel dele mesmo) e dos outros atores globais (como o tal de quem eu não sei o nome, mas que faz um taxista chamado Osvaldir depois do Fantástico, todos os domingos - haja paciência!).
Também não reclamei muito do roteiro, assinado por Guel Arraes e Jorge Furtado (a quem eu já respeitei mais). E só falei umas catorze vezes (coitada da Vivi) que o Wagner Moura, a quem eu considero um bom ator, deveria ter mais critério para selecionar os papéis que faz, senão, vai acabar chamuscado.
E não reclamei tanto do pastelzinho de palmito que comprei no barzinho do cinema - muita massa e pouco recheio.
Foi uma noite muito agradável.
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