quinta-feira, janeiro 17, 2008

A Patada

Dr. Y me chamou na chincha. Cá estou. Não tem jeito, todo início de ano eu sou acometido por uma preguiça desgraçada. Fazer o quê? Sou um escrevinhadeiro sem caráter. Já engatando a primeira, devo descrever a patada negra que levei em um restaurante espanhol sábado passado?
Pois é, dr. Y, pata negra é um presunto espanhol muitíssimo especial, e aqui está a Carol que não me deixa mentir, feito de um porco sortudo que só é alimentado com nozes e outras iguarias; só toma água mineral; só usa sapatinhos de veludo e jaquetas almofadadas do Hard Rock Cafe; etc. Como a sorte não dura pra sempre, depois o porco é transformado em pata negra, esse refinado petisco, mais ou menos como as trufas brancas italianas, que, digamos, custa caro. Ainda mais em um restaurante espanhol do plano piloto.
Fomos até lá, eu, Vivi, Carlão e um casal de amigos do Carlão, João e Marli, acompanhados do filhinho Júlio, de quatro anos, encontrar o Chico e a Karime para uma confraternização de ano novo. Chegamos mais cedo e, quando o Chico e a Karime chegaram, já estávamos mandando ver na comilança. Confesso que eu estava empolgado com o ambiente agradável, com as companhias mais agradáveis ainda e com a paella de frutos do mar em promoção.
No meio da euforia, e do alto da minha ignorância, fui atrás do tal presunto no cardápio - na parte de petiscos. Não encontrei nada, mas resolvi pedir o presunto mesmo assim. Até então, eu sabia que o presunto era especial, mas ninguém havia me falado sobre a alimentação do bicho e as outras bajulações. Dr. Y, não é que eu pedi a pata negra sem saber o quanto custava?
Veja você o sacrilégio: comi pata negra até não agüentar mais, a ponto de sobrar na cumbuca de barro, e até ofereci ao Julinho, que disse solenemente: "Não gostei!" É, ele prefere a batatinha do palhaço. Quando chegou a conta, o Chico me perguntou, com uma calma contida: o que é esse negócio de oitenta e seis reais? Era a pata negra, dr. Y.
Virei motivo de chacota, obviamente. E com todas as razões para tal. Como eu acho que não foi suficiente, porque a minha ignorância foi tamanha, estou publicando esta história aqui, para que eu seja motivo de chacota de mais gente. Eu fiquei tão traumatizado que passei uns três dias sem ir ao banheiro, só pra aproveitar a pata negra por mais tempo. Eu cheguei a pensar em não escovar os dentes também, mas a Vivi não ia gostar disso.
Agora, dr. Y, se você me dá licença, vou engatar a quinta, direto para a cama. Me perdoe a pressa, é a alma dos nossos negócios.

4 Comments:

Blogger Ygor Valerio said...

Adorei!!! Finalmente!!

A propósito, voltei no www.ip-stuff.blogspot.com!

11:58 AM  
Anonymous Anônimo said...

que é caro, é, mas é uma iguaria dos deuses enlouquecidos...
Mas por 86 reais dava p vc ligar lá no Pirineus e comprar de kilo com o Angel.
Jamón pata negra é minha comida favorita no mundo. Qdo eu era pequena, chegava na Espanha e só queria comer isso. A vontade era tanta que meu avô, produtor de pata negra, amarrava um naco de jamón numa corda e colocava no meu pescoço p eu comer o dia todo. Depois tinha que tomar uns 12 litros de água...

1:39 PM  
Anonymous Anônimo said...

tomaz, meu querido,

essa estória da pata negra já virou história!

devo dizer que recomendo o restaurante e tal, sempre com um adendo "mas olha, cuidado com a tal de pata negra, porque um amigo meu..." e dá-lhe relatar o ocorrido.

de qualquer forma, obrigado por suavizar a minha reação, definida como "calma contida" - ah!, os poetas.

eu vou te dar uma lista com uns 10 ou 15 restaurantes aqui em brasília onde vc deve SEMPRE olhar a coluna da direita no cardápio, antes de pedir qualquer coisa de beber, comer ou apenas beliscar...

amanhã nos encontramos!

abraços,
chico

11:52 PM  
Blogger Carlão H. Habe said...

Fala Tomás!
Queria agradecer a hospitalidade, a atenção, o sofá-cama, o carinho do casal e o presunto pata negra.
Assim que possível eu volto para mais uma fatiazinha.

Abraços.

12:55 AM  

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