quarta-feira, dezembro 12, 2007

Por que escrevo tanta merda

É engraçado dizerem que eu sou contra a Igreja. Primeiro, porque eu ser contra a Igreja seria o mesmo que um pequinês, daqueles bem chatos e sem noção, resolvesse latir para um rinoceronte enfurecido.
Em segundo lugar, não sou contra a Igreja. Ela é que é contra qualquer idéia que difira de seus dogmas. Não sei se minhas idéias diferem das idéias da Igreja e... opa, acabei de demonstrar que sim, nós - eu e a Igreja - pensamos diferente. "Não sei se..." Pronto. Isso já é suficiente para a Igreja me classificar como uma ovelha desgarrada.
No mundo da Igreja, não há lugar para dúvidas. As dúvidas são armas das quais o demônio se serve a fim de desviar o Homem do caminho do bem. O caminho do bem é rígido, não permite desvios. E a dúvida provoca desvios, tanto concretos como semânticos.
Dúvidas são o que eu mais tenho. A respeito de tudo. De Deus? Não, eu não duvido de Deus. Duvido é de nós, homens e mulheres. Se nós, homens e mulheres, inventamos Deus para depois matá-lo, como sugeriu Nietzsche, minha dúvida ainda não decidiu, pois tem se soterrado cada vez mais com questões - como não poderia ser mais óbvio e redundante - terrenas.
A Igreja foi vítima da língua ferina de Nietzsche, esse pequinês bigodudo e doente que passou a vida a disparar dinamites em forma de aforismos para os quais, segundo ele mesmo, a humanidade não estava preparada (e talvez nunca esteja). Engraçado como, de maneiras tão diferentes, parece-me que tanto Nietzsche quanto a Igreja acabaram dizendo a mesma coisa: somos um bando de cretinos.
Ainda no século XIX, Nietzsche afirmou que o mundo era feito para os medíocres. Fico imaginando o que ele diria se tivesse vivido os tempos da comunicação de massa. Enfim, também disse o pensador alemão que seu antecessor Kant havia colocado um claro (e tardio) ponto final na Filosofia. Ali estava o ponto final, mas como nós humanos somos medíocres, Nietzsche resolveu sublinhá-lo, assim como às vezes é necessário fazer a muitas platéias daqueles filmes franceses sem final: "Ei, acabou! Podem ir para casa!"
Pobres de nós da platéia. Não percebemos quando o filme acaba e aplaudimos as orquestras nas horas erradas. Pois é, Nietzsche disse que os "filósofos" podiam todos ir para casa. Sabemos que eles não foram. Mas a história da humanidade é esta: uma eterna redundância. Caso contrário, estaríamos em maus lençóis (e não estamos?), pois o "ponto final" colocado por Kant já teria sido acentuado pelos sofistas. Estes já disseram tudo, podem conferir.
Outra coisa que aborreceria a Nietzsche sobremaneira: verificar a existência de tantos nietzschianos. Não há despropósito maior. Semelhante, talvez, à existência dos ateus, que nada fizeram além de transformar a ausência de Deus numa divindade.
Não sei por que comecei a falar essas merdas. Minhas dúvidas procriam com tanta rapidez que eu já não sei a razão das minhas poucas razões. Ah, eu queria dizer, antes de me perder por caminhos tão tortuosos, que tanto me desviaram do "caminho do bem", que não sou contra a Igreja. A Igreja, que eu me lembre, também nunca me tratou mal.
Isso se explicaria pelo fato de vivermos numa era que eu chamo de pós-tiroteio? Acredito que não. Mas, sejamos justos, quem fala em era pós-tiroteio é o Socrático, um bêbado que eu conheci no centro de São Paulo.
(Continua...?)