sexta-feira, outubro 26, 2007

Servidor

Eu diria que Brasília é praticamente um monumento em homenagem ao funcionalismo. Afinal, construíram tudo isso aqui para abrigar, além de chefes dos três poderes, os servidores que movem a máquina do Estado. Por isso, é comum que as pessoas cheguem por aqui e comecem a ter idéias estranhas. A minha foi iniciar um curso de contabilidade - etapa número 1 para me transformar em um servidor. Fazer o quê se eu não sirvo para a iniciativa privada? Não que eu tenha aquela idéia antiga do servidor burocrata que não faz nada além de reclamar e carimbar papéis. Mas é fato que quem trabalha no serviço público tem uma vida menos estressante - tirando a tia da Vivi, que trabalha horrores no Tribunal Regional Eleitoral.
Não que eu tenha experimentado essa vida estressante do mundo das corporações capitalistas. Longe de mim, saravá meu pai. Esse negócio de trabalhar muito me dá uma urticária e tanto. Mas eu decidi que, se é pra fazer algo inútil todos os dias, e se nós todos precisamos ganhar dinheiro como condição primeira de sobrevivência, que seja fazendo algo sob a ridícula ilusão de que estou ajudando a mover a insustentável leveza da máquina administrativa.
É, e eu não posso reclamar. Estou tendo aula de contabilidade com ninguém menos do que Loberto Sasaki. Vocês acreditam? Logo eu, tendo aula de contabilidade com o professor Loberto. Eu sei, ninguém aqui faz idéia de quem seja esse japa. Eu também não sabia, até conversar com meu cunhado Deme, um mestre dos concursos que passou em primeiro lugar no concurso de Auditor Fiscal da Receita Federal e, depois, em segundo no de Auditor Fiscal do ICMS de São Paulo, onde ele trabalha hoje. Passou em segundo, pouquíssimo atrás do primeiro colocado, porque seu avô falecera na noite anterior, e isso acabou prejudicando seu desempenho.
Foi mestre Deme quem me falou de Loberto Sasaki. "Aproveita que você está em Brasília e faça aula com ele". E lá fui eu. Bom, até agora eu fiz quatro aulas com o Loberto e ainda não pensei em suicídio. É um bom sinal, não? Estão dizendo por aí que eu enlouqueci de vez. Porra, o cara parou de beber, começou a prestar uns concursos de ensino médio e agora vem com esse papo de estudar contabilidade? Internem o escrevinhadeiro! Daqui a pouco ele vai querer entrar pra Igreja Universal do Reino de Deus! Ou vai se enfiar num templo budista no meio do Tibete! Ou vai entrar para alguma seita perigosíssima que imola criancinhas! Ou pior: vai se filiar ao partido dos Demos!!!!!!!! Calma, meu povo. Deme não tem nada a ver com Demo. Não confundam.
E nada disso vai acontecer. Por mais que a oposição não acredite, eu continuo o mesmo vagabundo de outrora. Confiem em mim, meus caros correligionários. No final, de uma maneira ou de outra, tudo vai dar certo. Se não der, eu pago uma cerveja procês e fica tudo certo. E eu já falei: aos oitenta, eu volto com a cana (Ai, meu Deus. Faltam praticamente 49 anos).

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

caçamba, Tô! Vc deve estar "precisado" de uns tarjas pretas: morando em BSB, sem beber, praticamente casado com uma mulher moderna e bem sucedida que um dia vai te trocar por um rabbit, prestes a entrar na IURD e, pasmem, fazendo curso de contabilidade!!!Agora só falta vc querer aprender bordado.
Tá certo que com a mudança p Rio tb me vi interessada por coisas exóticas: dança de salão, academia só para mulheres, combinações esdrúxulas de sabores de sucos naturias (kiwi com goiaba fica bom), mas o único curso que fiz foi um de iniciação ao movimento afroreggae.

5:26 PM  
Anonymous Anônimo said...

O que seria um "rabbit", além de um coelho? E a IURD? E o que ensinam em aulas de iniciação ao movimento afroreggae??!! Rsrs... Essa me surpreendeu...Beijinhos, Vivi

9:42 AM  

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