quinta-feira, agosto 23, 2007

Solucionática?

Bom dia. Agora são 10h33, horário de Brasília. Quinta-feira ensolarada. Umidade do ar: baixa. No momento, o advogado de Valdemar Costa Neto está diante dos ministros do Supremo. Não sei o que ele está dizendo, porque não tenho TV Justiça e não estou conseguindo acessar o canal pela Internet. Enfim, não sei o que o sujeito está dizendo, apenas me lembro do deputado, em sua campanha, dizer em rede nacional que cometeu um erro, estava arrependido e merecia uma nova chance, por tudo que ele já havia feito pelos mais necessitados. A ladainha colou e ele foi reeleito, mas desconfio que não vai colar com o pessoal do STF. Vai ter que inventar outra história, meu chapa.
A imprensa está de butuca, feito urubus famintos por carniça. E acredito que o João Doria Jr deve estar preparando um belo discurso para o movimento mais elitista da história da nossa República: o "Cansei de ganhar dinheiro; de promover desfiles de cãezinhos; de andar de carruagem; de não precisar fazer força nem pra limpar o rabo" e outras coisas. O D'Urso também está afiando as garras. Não vai pegar bem, mas que não deve lhe faltar vontade para se lançar como vice do Alckmin para prefeito de São Paulo no ano que vem... Pois é, a corja está pedindo justiça, na maior cara-de-pau.
Isso me faz lembrar que estamos entre a cruz e a caldeirinha. De um lado, uma pseudo-esquerda falida, covarde, mesquinha, que dança conforme a música, com muitos projetos para se perpetuar no poder e nenhum projeto para o País, sem pulso e nem vontade política para enfrentar os poderosos que lucram bilhões com a nossa miséria; do outro, a elite mais nojenta e asquerosa que poderia se formar em algum pedaço de terra: mais conservadora que o George Soros, mais autoritária que o Pinochet, mais vendida que o Zeca Pagodinho, mais filha da puta que vilão de bangue-bangue, mais egoísta que uma criança naquela fase do: é meu, é meu, é meu.
Essa elite nojenta domina a imprensa, domina o Ministério Público, domina os tribunais de justiça, domina todas as instituições que deveriam defender, acima de tudo, a democracia - entre elas a OAB do supracitado D'Urso. Estamos entre a cruz e a caldeirinha. PT e PSDB se transformaram em dois pólos de liderança, ao estilo bipartidarista norte-americano; em volta desses dois partidos, giram bandos e mais bandos de parasitas que querem garantir o seu quinhão na partilha dos espólios de guerra; eles querem cargos, vantagens, mesada, o que for, em troca de votos e subserviência política.
Por isso, eu digo que esse julgamento do mensalão no STF é uma puta de uma farsa. Não porque não exista mensalão, mensalinho, semanada, ou o caralho a quatro e, sim, porque isso sempre existiu e sempre vai existir. É assim que a nossa política "funciona", desde os tempos em que Cabral aqui chegou (e não ficou nem pra tomar um cafezinho). Esperto o tal do Cabral. Levou a fama de descobridor sem nem sujar a ponta da botinha. Mas isso é uma outra história dessa nossa maravilhosa história.
Enfim, esse julgamento vai servir para, ao mesmo tempo, desgastar a já citada, desgastada e desbotada pseudo-esquerda, e para que a reputação das instituições democráticas ganhe uns pontinhos. Vejam vocês: criminoso do colarinho branco é, sim, punido aqui no Brasil. Bonitinho, vão acertar dois coelhos com uma paulada.
Seguindo a diante, ainda existem aqueles que se posicionam como independentes, acima do bem e do mal, dos quais o exemplo mais óbvio é o deputado Fernando Gabeira, fundador de um partido de aluguel descarado, que em cada canto do Brasil toma uma posição diferente, conforme as conveniências, e sustenta um ideal ecológico fajuto, apresentando-se como alternativa para não sei o quê. O PV, e o seu Gabeira, ora profere um discurso vazio de significado, ora se aproveita de algum dos dados alarmantes sobre o futuro do nosso planeta que os cientistas já se cansaram de apresentar nos últimos anos. A única coisa que eu vi o Gabeira defender com um pingo de seriedade foi a legalização da maconha, brincadeira esta da qual ele também já se cansou. De resto, é pedalar pelas ruas do Leblon em busca de votos de uma elite que faz algum esforço para parecer preocupada com a situação constrangedora em que vive a maioria da nossa população - essa mesma elite que doa R$ 10,00 para o Criança Esperança e, no próximo sábado, irá ao Mc Donald's comer um Big Mac em prol das criancinhas com câncer.
Os independentes da vez, também de pseudo-esquerda, são a turma do Psol, que nada de novo tem a propor. Heloísa Helena e companhia, ressentidos e saudosistas com o velho projeto do PT, perdido no meio do caminho que leva ao poder, propõem a volta da moralidade e da ética na política, o que eu acho louvável, logicamente. Mas o que eles propõem para transformar o Brasil em um lugar minimamente habitável? Nada. Apenas, eles defendem diretrizes de atuação que eles mesmos sabem serem inviáveis. Mas é fácil propalar os ideiais da esquerda marxista quando não se está no poder, o PT que o diga. Provavelmente, caso o Psol chegue ao poder, também jogará a ética na lata do lixo - e dele sairão dissidentes para formar o Partido da Verdadeira Esquerda.
Não sejamos tão injustos assim. Ainda existem figuras que tentam fugir da cruz e da caldeirinha por puro idealismo, sem se utilizar do discurso de independentes e castos como maneira de promoção pessoal. Mas essas pessoas andam meio desanimadas, sem saber o que fazer. Atualmente, eu as vejo tomando seu cafeznho em silêncio, num balcão de padaria, na esperança de ver a luz. Pois é, vivemos um apagón que já dura mais de quinhentos anos. Outro dia, um grande amigo meu, que tem dedicado a vida profissional à melhoria da qualidade da administração pública, me confessou por e-mail que, em suas peregrinações pelo país, tem visto cada vez menos saída. O niilismo bate à porta das poucas pessoas verdadeiramente honestas e éticas que andam por aí.
Infelizmente, eu me vejo obrigado a inverter a célebre frase de Dadá Maravilha e dizer: "Não me venham com a solucionática, porque eu tenho a problemática".