Milagre Questionável
Meus colegas de trabalho querem me excomungar. Só porque eu fiz um comentário inocente. É o seguinte: eu sei que ninguém aqui acompanha Fórmula 1, muito menos eu. Puta troço chato e, ainda por cima, passa domingo de manhã. Mas acho que todo mundo viu, mesmo sem querer, um acidente que rolou com um piloto há cerca de um mês. Se não viram, eu descrevo. O sujeito levou um totozinho na curva e saiu voando. Basicamente isso. Um acidente, eu diria, impactante.
O tal piloto, que calha de ser polonês, saiu do hospital no dia seguinte, caminhando tranqüilamente e querendo participar da corrida seguinte. Milagre? Pois é. Como eu disse, o piloto é polonês e fã de Sua Santidade o Papa João Paulo II, cuja santidade a Igreja quer atestar o mais rápido possível. O piloto, dizem, estava com uma foto de João Paulo II dentro do capacete. Custo a crer nisso, mas é o que dizem.
Agora a Igreja quer atribuir o fato - de o piloto ter ficado inteiro depois do acidente - a um primeiro milagre de Sua Santidade o Papa João Paulo II, a fim de apressar o processo de canonização do mesmo. Ora, eu disse apenas o seguinte: os engenheiros se matam pra projetar um carro capaz de correr a 350km/h e, ao mesmo tempo, proteger o piloto em caso de acidente (não é à toa que o carro se despedaça inteiro, menos o cockpit, que é onde o piloto fica), aí vai um infeliz de um piloto, enfia a foto de um Papa na orelha e é o Papa que fica com a fama? Desculpem, mas eu não acho lá muito justo.
Não é preciso ser expert em física pra saber que, se um carro levar uma trombada a 300 por hora, a tendência é que o estrago seja feio. Aí está toda a dificuldade dos engenheiros. Como fazer pro carro voar e, se der uma merda, o piloto não ir pro saco, como iria em um acidente com um carro comum? Vocês vão me desculpar, mas eu continuo não achando justo. Só que eu tive a idéia de expressar este meu pensamento em voz alta e provoquei uma reação estranha: primeiro, os meus colegas de trabalho riram; depois, disseram: você vai ser excomungado.
Mas eu só quero impedir uma injustiça. Que a Igreja, pelo menos, pague uma porcentagem dos royalties pelo milagre aos engenheiros da BMW que, tenho certeza, vararam noites e noites na tentativa de projetar um belo carro com o qual o piloto polonês poderia voar à vontade, e sem o perigo de ter um encontro prematuro com Sua Santidade o Papa João Paulo II. Foi essa a minha inocente intenção.
PS: Não vem que não tem, Ratzinger. Eu nem fui batizado e, muito menos, fiz primeira comunhão. Portanto, quem nunca comungou não pode ser excomungado. Já que eu estou condenado a viver a eternidade no purgatório, que se foda toda essa merda.
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