Greve
Hoje não saiu nada. Por mais que eu me esforçasse, e não tem nada a ver com o superego, que está com mais sono que eu, não saiu nada. É como aquelas vezes em que sentamos na latrina, de calça arriada, logicamente, acompanhados pelo jornalzão de domingo... e nada. Sujeito abre o caderno Mais, lê um artigo assinado pelo Chomsky, e nada acontece. Então ele resolve partir pros quadrinhos, pra ver se as risadas estimulam os movimentos peristálticos do intestino. Mas o Níquel Náusea não está engraçado, o Angeli colocou um desenho louco do caderno de esboços, Glauco atacou de Nojinski e tampouco coloaboraram os outros cartunistas.
Caderno de esportes. Muito favorável. Ainda mais em época de Jogos Pan-americanos. Vejamos, o Brasil levou uma medalha inédita no single skiff de remo. Puxa. E aquela modalidade: dois sem? Sem remo? Sem rumo? Sem nada mesmo. Nada acontecia. Sujeito continua lendo e descobre que "ganhamos" mais não sei quantas medalhas. Ganhamos? Só se for medalha de coçada de saco na modalidade um sem unha - senão machuca, pô. Nós torcedores somos uns puta de uns folgados. Ficamos lá, no sofazão, mandando ver no salaminho com cerveja e dizendo: esse cara que lançou o dardo falhou na hora do empuxo.
Última coisa, depois eu prometo que não falo mais de esporte e parto logo pra outro caderno: alguém já viu um jogo de pólo aquático? Que putaria é aquela, seu? Eu não vi nesse pan, mas na Olimpíada os cabras colocavam um monte de câmera debaixo d'água e aquilo é uma indecência só. Eu já vi peito de fora, baleia-branca e, juro, deu até pra ver a perseguida de uma jogadora. Tudo isso porque o pólo aquático é uma selvageria só. Eu tenho um amigo, o Daniel Macarrão, que praticou esse esporte na adolescência e ele comentava que o que mais acontece é nego sair da piscina com a sunga estourada, porque o adversário puxa mesmo e ainda solta com vontade pra dar aquela estilingada. Por favor, pelo bem da família cristã: tirem essas câmeras que mostram o que rola debaixo d'água.
Enfim, sujeito passou também pelo caderno de esportes, está por dentro de tudo e nada do intestino funcionar. Pois é, tem dia que nem o editorial do Estadão resolve. Hoje eu estou, ou melhor, estava assim, então, tive que apelar. Eu tive que descarregar um monte de merda aqui neste espaço democrático de direito. Democrático o cacete. Eu sou o ditador soberano e censuro mesmo. Manda um comentário me xingando pra ver se eu publico. Sou trouxa? Eu não. Sou que nem Veja, que publica aquelas cartinhas de leitores puxando o saco da revista: "Eu gostaria de dar os parabéns a Veja pela brilhante reportagem sobre a mulher-maravilha do governador Serra. Impressionante como ela é inteligente e séria, tão diferente de uma certa primeira-dama que adora se vestir de caipira em festa junina". E por aí vai.
Hoje não saiu nada. Amanhã eu como umas ameixas e problema de quem estiver perto.
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