Salvem as Tremas
Toda vez que se fala em reforma das normas da língua portuguesa, sobra para a pobre trema. Novamente, fala-se em extirpá-la da língua, como a Folha de S. Paulo já havia feito por conta própria, um tempo atrás, para, recentemente (acho que faz uns dois anos), voltar a adotá-la. A pobre trema, pelo jeito, não tem muito lobby. Não tem quem interceda por esses simpáticos dois pontinhos que dão voz ao "u" em quatro simples casos: qüe, qüi, güe e güi. Essa simples regra da fonética, mais uma vez, corre o risco de ser extinta nos próximos dias, quando as autoridades lingüísticas (que em breve podem ser linguísticas) discutirão a próxima reforma do vernáculo.
Parece-me que, o que motivou a Folha de S. Paulo a deixar de adotar a trema, foi uma comodidade na digitação. É mais simples escrever frequência, sem precisar apertar a tecla "shift" antes do "u". À época da máquina de escrever, o uso da trema também exigia uma carimbada a mais no papel. Um atraso de vida para os datilógrafos, digitadores, taquígrafos e o cazzo a quatro.
Bom, que eu gosto de escrevinhar todos já sabem. Se eu sei, não interessa, mas eu sinto um prazer estranho em colocar em forma de letrinhas as porcarias que me passam pela cabeça. Sou, apesar de escrevinhadeiro, um péssimo digitador. Eu cato milho mesmo e aperto as teclas erradas o tempo todo. Apesar disso, eu jamais pensaria em abolir as simpáticas tremas por causa dessa minha deficiência. Se assim fosse, muitas alterações haveriam de ser feitas na nossa língua. Quero dizer, então, que eu não me importo em apertar o shift antes do "u" e que eu simpatizo muito com as tremas.
Por isso, lanço aqui uma campanha: salvem as tremas. Não deixem que esses olhos sorridentes se apaguem, meu povo. Já aviso de antemão, que na contramão da resolução da Folha de S. Paulo, este espaço não deixará de usar a trema, mesmo que assim decidirem as nossas autoridades lingüísticas - sejam elas quais forem.
Uma boa semana pra vocês.
PS: O uso de tremas não machuca e não deixa seqüelas; eu não agüentaria uma vida sem tremas; os eqüinos são todos a favor das tremas, que dão um sabor especial às lingüiças (a crase que se cuide, já que ninguém sabe usá-la).
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