Abaixo à espontaneidade
Não sei o que é mais espantoso: Corinthians (ou Coríntiãs, segundo o Dicionário Aurélio) e Palmeiras liderando o Campeonato Brasileiro após duas longas rodadas, ou aquela foto do Serra apontando um fuzil em direção ao fotógrafo. Ao longo dessas minhas três décadas de existência, não posso dizer que eu tenha visto tantos fantasmas assim, mas esse Serra é mesmo de assustar qualquer um. Até meu blógui-fantasma ameaçou debandar geral quando eu ameacei tocar nesse assunto. O Esfeluntis teve que fechar as portas às pressas e pedir calma a todos.
Não pude, porém, resistir. Não virei com esse papo de que a atitude do chefe máximo do Executivo estadual é um mau exemplo para as criancinhas. Isso eu deixarei pros caras do PT. Afinal, só a cara do nosso governador já é um mau exemplo, seja para quem for. Cara de urubu gripado, como diz o José Simão, é pouco. Pior só era na época em que ele usava um rabinho de cavalo, mas isso já faz um bom tempo. Eu tenho legitimidade pra dizer, porque sofro de ECA (Estágio de Calvície Avançada): não existe nada mais ridículo que um careca com rabinho de cavalo.
Tudo bem, esbravejarão os tucanos. O que importa se o político é bonito ou feio? Isso não tem a menor importância. Caso contrário, não realizaríamos eleições e, sim, concursos de beleza. Calma. Eu concordo. Mas quem disse que estou falando de política? Se eu falasse de política, eu teria que dizer que o Serra nos abandonou nas mãos do Kassab e, até agora, tem se saído muito bem como um tremendo de um governador autoritário. Um ex-presidente da UNE, à época do Golpe Militar, que teve que fugir do país pra não ser preso, jamais poderia cogitar a hipótese de mandar a PM invadir a Cidade Universitária.
Mas deixa pra lá. O que eu quero saber é: o que passa pela cabeça de um político quando ele resolve posar para uma foto com um fuzil na mão? Não existe um assessor um pouquinho inteligente pra dizer: "Governador, talvez isso não seja apropriado"? É isso que me espanta. Alguém também poderia dizer que foi um ato espontâneo do Serra. Ora, há quantos anos ele está na política? Ainda não aprendeu que os atos espontâneos devem ser evitados ao máximo (ainda mais por ele)? Espontaneamente, o político profissional jamais abraçaria tantas criancinhas e famílias pobres; espontaneamente, o político profissional jamais comeria buchada de bode; espontaneamente, o político profissional não chegaria perto do povo.
A espontaneidade, realmente, é um perigo. Por isso, estou escrevendo um livro com o qual pretendo ficar rico: "Abaixo à espontaneidade", a nova bíblia dos marqueteiros de plantão. Como eu sou bonzinho, meu caro governador, enviarei a Vossa Excelência, di grátis, a lição número 1: "Aprenda e diferença entre ser espontâneo e parecer espontâneo".
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