Protesto Bruneiesco

Negara Brunei Darussalam, ou Brunei para os íntimos, é um país que fica pertinho da ilha de Bornéu (quem jogava War já localizou). O Brunei é membro do poderoso IPEC, bloco econômico da Ásia, do qual também são membros os bicões Canadá e Estados Unidos, e vem a ser o maior exportador de gás licuado do mundo (não sei que merda é essa). Antes que alguém pergunte, lá eles falam malaio, inglês, chinês e tâmil, e são loucos por carambolas (informações e ilustração retiradas da Wikipedia).

O escrevinhadeiro enlouqueceu de vez, todos devem estar a dizer. Quem quer saber do Brunei? Alguém sabia da existência do Brunei? Pois é, um país onde a principal cidade tem 46 mil habitantes. É a capital, chamada Bandar Seri Begawan. Porra, no jogo entre Corinthians e América de Rio Preto, estréia do Tevez, no Paulistão de 2005, certamente havia mais gente no Morumbi do que isso.

É verdade. Mas ontem, em Brasília, houve uma manifestação bruneiesca contra esse absurdo aumento de salário que os deputados e senadores quiseram dar a si mesmos, sem nem passar por votação. Além de absurdo, inconstitucional, vergonhoso, e o que mais queiramos chamar esse aumento de 91%, foi uma manobra covarde, que não precisou nem fazer com que os nossos parlamentares tivessem que passar o constrangimento de dizer "sim" em plenário e, com isso, esbofetear mais uma vez o rosto da nossa querida e apática nação.

Se essa merda tivesse acontecido na Argentina, seria motivo de greve geral e de um panelaço pelas ruas de Buenos Aires que deixaria o país inteiro surdo, até que voltassem atrás com uma coisa dessas. No Brasil, meus amigos, me desculpem, mas eu digo cheio de vergonha, somos um bando de acomodados, desarticulados, paus-mandados, pelegos, bebês-chorões que, no máximo, ficam a resmungar pelos botecos: que sacanagem esse aumento dos deputados!

Não fosse essa aberração sócio-político-jurídico-econômica ter sido barrada no STF, e eu aconselho que vocês leiam o voto de uma das ministras no site da Conjur, todo mundo continuaria reclamando por mais uns dias e aconteceria como aconteceu com o abusivo aumento das passagens de ônibus aqui em São Paulo: depois do protesto de uns poucos corajosos (e não baderneiros, como disse o imbecil do Agnaldo Timóteo em plenário), tudo voltaria à calmaria de sempre.

Que todos me desculpem, mas eu ando meio irritadiço, e meio com vontade de ir ao Brunei comer carambolas, de tanta vergonha que eu estou sentindo de mim mesmo. Acho que vergonha foi a única coisa que me restou. Não venham me dizer que quem tem que ter vergonha são os nossos legisladores, porque eles já perderam essa capacidade faz tempo. Eu tenho vergonha de não ter feito nada, de não ter dito nada, de não ter saído às ruas batendo panela. Iam me chamar de louco e iam me internar no hospício, mas agora eu não estaria me sentindo cúmplice dessa corja que domina o Congresso. É isso o que todos nós somos.