terça-feira, novembro 07, 2006

Sapato Assassino

Eu já falei aqui que, em tempos imemoriais, sofri de uma paixão insuportável por futebol. Eu era daqueles que assistiam a qualquer pelada, até ao glorioso e inesquecível jogo do Time A (amigos do Viola) contra o Time C (amigos de outro aí que eu não me lembro). Quando meu irmão (que também adora ver um joguinho) chegou em casa e me pegou vendo aquilo, a indignação estampada em seus olhos quase me assustou. Eu ainda tentei me defender, dizendo que o jogo estava emocionante, mas não colou e até hoje ele se utiliza desse podre do meu passado para me espicaçar.

Durante a minha trajetória futebolística, essa não foi a pior porcaria que eu já encarei. Fui testemunha in loco de partidas terríveis. Eu me lembro, particularmente, de um zero a zero entre Corinthians e Santos no Pacaembu que deve ter envergonhado aquele gramado que fora palco para tantos bailes que o Pelé aplicava no meu pobre time (ainda bem que eu não havia nascido). Foi um jogo tenebroso, em que o empate era bom pros dois, e não aconteceu absolutamente nada durante os 90 minutos. Deu vontade de reclamar no Procon.

Esses jogos terríveis, geralmente, proporcionam cenas dantescas, trombadas cômicas e chutões que nos colocam a questionar: esse cara é profissional? Sem falar nas entradas maldosas cometidas pelos cabeças-de-bagre de plantão. Eu lembrei essa merda toda (objetividade não é o meu forte) porque, durante esse feriado, aconteceu uma cena que me lembrou um desses jogos memoráveis: estava eu deitado na cama, ao lado da Vivi, quando ela decidiu ir até o banheiro. Eis que, no meio do caminho, havia um sapato. Do ângulo que eu estava, não deu pra ver detalhes, mas eu teria dado pênalti e expulsado aquele pisante, porque a Vivi foi, o pé ficou e foi a primeira vez que eu vi minha companheira sair do sério. Ela pegou o sapato e, com o rosto desfigurado pelo ódio, atirou-o com raiva para longe. Acho que ela ainda disse: "Sapato filha da puta!" - mas eu não anotei na súmula.

Infelizmente, a Vivi teria sido expulsa junto com o sapato, por ter revidado, mas eu jamais expulsaria a minha própria mulher. Esse negócio de que juiz de futebol é imparcial não existe. Resultado: a Vivi ficou com a região do dedinho completamente roxa e lá fomos nós ao pronto socorro do Santa Catarina.

Como eu não pude ver detalhes da cena do sapato, aqui vai a narração feita pela Vivi, que estava descalça: "Eu estava andando calmamente em direção ao banheiro, quando no meio do quarto havia esse maldito sapato. Isso é lugar de deixar o sapato? Eu tropecei no maldito e meu dedinho prendeu no laço do cadarço (veja só que sordidez). Assim sendo (ela adora usar essa expressão), meu corpo foi pra frente e meu dedinho ficou, fazendo créqui".

Não adiantou eu ter levado a Vivi pra passear de cadeira de rodas pelo corredor do hospital. Também de nada valeu eu ter ficado assistindo ao filme da Barbie na sala de espera enquanto ela tirava radiografia. E tampouco amenizou a minha culpa eu ter comprado um picolé de Diamante Negro: fui condenado sem direito a apelação por ter largado o meu sapato no meio do quarto. Não queiram saber qual foi a pena.

7 Comments:

Anonymous Anônimo said...

HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA... Desculpe Vivi sei que deve ter doido pacas mas este texto ficou MUITO engraçado, sei que é feio rir da desgraça dos outros mas estou aqui sem conseguir parar de rir imaginando a cena e ainda mais imaginando vc nervosa... Achei que isso não aconteceria jamais.
Tô ainda não sei qual o mais engraçado este ou o "Brisas do Mar".
Excelente..

7:08 PM  
Anonymous Anônimo said...

Minha total sola, ops, solidariedade a Vivi.
Miriam

10:02 PM  
Anonymous Anônimo said...

Adorei, adorei...Rsrs...Só as risadas que dei ao ler o seu texto quase valeram pelo dedinho. Talvez haja até apelação para o seu caso. Um beijo, lindo!

1:33 AM  
Anonymous Anônimo said...

O Arnaldo Cesar diria: Penalti claro, bem marrrrcado. O sapato entrou por tráix do dedinho da Vivi que não pôde sairrr da falta. Mas não justifica a violência contra o agressor. A Vivi deveria ter sido expulsa junto com o sapato, errou o juiz.

O Godói diria: Nada Luciano, nada nada, foi um banana esse juiz. Ir ao banheiro é coisa pra macho, qualquer tropecinho tem que dar penalti ? Nada disso !!! E tem mais. Não é a primeira vez que a Vivi é agressiva, ela faz isso e ninguém vê. Tem que expulsar e dar um gancho de seis meses pra aprender a respeitar quem tem que ser respeitado.

Abs e bela narrativa

10:36 AM  
Blogger Ygor Valerio said...

Ora, ora! O dedo maldito da Vivi voltou a atacar então. Se eu bem me lembro, não faz muito tempo que ela esbagaçou o dedinho em algum outro lugar (será que foi parede? não lembro muito bem)! Dei umas boas risadas...:). o Brisas do mar é bem engraçado mesmo, mas o campeão pra mim é o escrevinhadeiro-anão.

2:04 PM  
Blogger Tomaz Gouvea said...

Foi a terceira vez que a Vivi estourou o dedinho. Tá 2 a 1 pro pé esquerdo.

Abraço a todos.

4:43 PM  
Anonymous Anônimo said...

O mais importante ninguém comentou! Como pode se esperar sensatez em relação a onde colocar objetos pessoais de alguém que acompanhou Time A contra Time C? Hahahahahahaha!!! :-)

FI_rmão

7:21 PM  

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