Baú Paraguaio
Ducaralho essa mente humana. Hoje eu estava voltando do almoço, quando vi expostas numa banquinha (a mesma que vendia o livro do Stanislaw Ponte Preta por 10 reais) umas Playboys antigas. E lá estava a Playboy da Xuxa, à venda por 150 reais. Não eram 15, meus senhores. Eram 150 mesmo. Cheguei bem perto para não haver nenhuma dúvida.
De volta ao trabalho, aproveitei o resto do meu horário de almoço pra ler uma peça do Arthur Miller, Morte dum caixeiro viajante, que a Vivi me emprestou faz um tempão. Nessa peça, o autor abusa de um recurso interessante: Willy Loman, o personagem central, muitas vezes conversa com figuras do presente e do passado ao mesmo tempo. Como o próprio Miller faz questão de enfatizar, não se trata de um flashback, porque, no caso, o passado e o presente se misturam completamente.
Não sei se foi por causa do recurso do Miller, mas no meio da leitura da peça eu comecei a me lembrar do quarto do meu tio-primo Afrânio, que morava no Paraguai. Explico: meu tio-primo era um grande colecionador de Playboy e tinha, inclusive, essa da Xuxa. Eu devia ter uns dez anos e ele uns dezesseis, quando fui visitá-los em Pedro Juan Cabalero (cidade paraguaia que faz fronteira com Pontaporã, no Mato Grosso do Sul). O Afrânio me levou ao quarto dele e eu fiquei maravilhado ao ver aquelas paredes forradas de mulheres peladas. Acho que tinha até no teto. Ao lado da cama, tinha uma pilha respeitável de Playboys, da qual ele sacou a da Xuxa que, àquela época, devia estar no início do reinado na Rede Globo. Pois é, àquela época, a Playboy da Xuxa já era um mito. Quando eu contei na escola que havia visto a foto da Xuxa com o bundão arrebitado, meus amigos quase me bateram. Hoje, então, acredito que essa porra virou relíquia (vocês podem dizer que com a Internet ficou moleza ver essas fotos, mas não é a mesma coisa). Mas daí a pagar 150 reais vai uma distância. Enfim, tem louco pra tudo neste mundo.
Tio-primo? Também explico. Meu avô, depois que a minha avó morreu, casou com uma paraguaia uns quarenta anos mais nova que ele. Eles tiveram dois filhos: o Afrânio e o Chico. De acordo com as tradições familiares da nossa sociedade, eles são meus tios, mas, de acordo com o bom senso, são meus primos, já que o Afrânio é uns cinco ou seis anos mais velho do que eu e o Chico tem praticamente a minha idade (acho que um ano a mais).
A última vez que eu vi o Afrânio foi quando eu tinha 17 anos e fui pra Dourados pra me livrar do Exército. Pra quem não sabe, minha família exerce uma certa influência por aquelas bandas. Portanto, cuidado comigo. Quanto ao Chico, nem me lembro qual foi a última vez que o vi. Eu digo que a nossa mente é mesmo muito louca porque devia fazer muitos anos que eu nem me lembrava da existência deles. Eles, provavelmente, também não sabem mais que têm dois sobrinhos em São Paulo. De repente, foi ver a Xuxa de cartola, maiô e meia-calça pretos, com um sorriso de piranha e agarrada num cara vestido com uma máscara de coelho, pra eu voar em direção àquela casa no Paraguai. Porra, eles tinham um macaco de estimação e uma capela no quintal. E nós aproveitávamos a visita pra comprar besteiras - basicamente umas bolas de chiclete e um tênis horrível que a gente adorava, chamado chinesinho. Por lá eu também fiquei conhecido como Tomaz Obea, hombres y mujeres.
De volta ao trabalho, aproveitei o resto do meu horário de almoço pra ler uma peça do Arthur Miller, Morte dum caixeiro viajante, que a Vivi me emprestou faz um tempão. Nessa peça, o autor abusa de um recurso interessante: Willy Loman, o personagem central, muitas vezes conversa com figuras do presente e do passado ao mesmo tempo. Como o próprio Miller faz questão de enfatizar, não se trata de um flashback, porque, no caso, o passado e o presente se misturam completamente.
Não sei se foi por causa do recurso do Miller, mas no meio da leitura da peça eu comecei a me lembrar do quarto do meu tio-primo Afrânio, que morava no Paraguai. Explico: meu tio-primo era um grande colecionador de Playboy e tinha, inclusive, essa da Xuxa. Eu devia ter uns dez anos e ele uns dezesseis, quando fui visitá-los em Pedro Juan Cabalero (cidade paraguaia que faz fronteira com Pontaporã, no Mato Grosso do Sul). O Afrânio me levou ao quarto dele e eu fiquei maravilhado ao ver aquelas paredes forradas de mulheres peladas. Acho que tinha até no teto. Ao lado da cama, tinha uma pilha respeitável de Playboys, da qual ele sacou a da Xuxa que, àquela época, devia estar no início do reinado na Rede Globo. Pois é, àquela época, a Playboy da Xuxa já era um mito. Quando eu contei na escola que havia visto a foto da Xuxa com o bundão arrebitado, meus amigos quase me bateram. Hoje, então, acredito que essa porra virou relíquia (vocês podem dizer que com a Internet ficou moleza ver essas fotos, mas não é a mesma coisa). Mas daí a pagar 150 reais vai uma distância. Enfim, tem louco pra tudo neste mundo.
Tio-primo? Também explico. Meu avô, depois que a minha avó morreu, casou com uma paraguaia uns quarenta anos mais nova que ele. Eles tiveram dois filhos: o Afrânio e o Chico. De acordo com as tradições familiares da nossa sociedade, eles são meus tios, mas, de acordo com o bom senso, são meus primos, já que o Afrânio é uns cinco ou seis anos mais velho do que eu e o Chico tem praticamente a minha idade (acho que um ano a mais).
A última vez que eu vi o Afrânio foi quando eu tinha 17 anos e fui pra Dourados pra me livrar do Exército. Pra quem não sabe, minha família exerce uma certa influência por aquelas bandas. Portanto, cuidado comigo. Quanto ao Chico, nem me lembro qual foi a última vez que o vi. Eu digo que a nossa mente é mesmo muito louca porque devia fazer muitos anos que eu nem me lembrava da existência deles. Eles, provavelmente, também não sabem mais que têm dois sobrinhos em São Paulo. De repente, foi ver a Xuxa de cartola, maiô e meia-calça pretos, com um sorriso de piranha e agarrada num cara vestido com uma máscara de coelho, pra eu voar em direção àquela casa no Paraguai. Porra, eles tinham um macaco de estimação e uma capela no quintal. E nós aproveitávamos a visita pra comprar besteiras - basicamente umas bolas de chiclete e um tênis horrível que a gente adorava, chamado chinesinho. Por lá eu também fiquei conhecido como Tomaz Obea, hombres y mujeres.
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