terça-feira, outubro 31, 2006

Ágora Particular

Outro dia eu tive uma conversa muito franca com um editor, a quem preservarei aqui a identidade (sei lá por quê). Eu falei pra ele sobre um calhamaço de 162 páginas que eu escrevi e que eu estava pensando em mandar pras editoras. Ele falou, com todas as letras: esse canal não existe. Eu já tinha essa idéia, mas foi bom ouvir de um editor (o que não vai me impedir de incinerar algumas cópias por aí). Ele me disse que todos os escritores de ficção para o público adulto só conseguiram emplacar sua obra depois de perambular pela Vila Madalena com 200 cópias debaixo do braço; depois de freqüentar o meio intelectual; de ficar amigo das pessoas certas; de encher o saco do cara que trabalha na Ilustrada etc.

As editoras, mais do que avaliar a qualidade da obra, estão interessadas na ficha do autor. Quem é esse Tomaz Gouvêa? Sei lá. Então manda pro forno que eu não vou perder meu tempo. É basicamente isso. Em conversa com a Vivi, eu já falei que não tenho nenhuma tara especial em ver meu livro publicado. É claro que eu gostaria, porque eu acredito naquilo que escrevo. Mas eu não vou partir pra edição paga e nem vou bajular pessoas. Eu não vou tentar ficar amigo da intelectualidade da Vila Madalena, não vou puxar o saco de nenhum jornalista da Folha e nem vou tentar virar um cactus da Praça Roosevelt só pra conseguir espaço pras minhas histórias.

Não sou nada contra quem faz isso e não estou acusando os escritores de serem interesseiros. Cada um faz o que acha que deve, do jeito que acha que deve. O fato é que eu gostaria que mais gente lesse o que eu escrevo, além dos meus queridos amigos, dos familiares e da Vivi. Mas pra isso eu não vou sair por aí fazendo novas amizades. Eu concordo com o Seinfeld quando ele diz que, quando chegamos aos 30, não temos mais saco pra fazer novos amigos. É isso aí. Meus amigos são vocês. Está decidido e definido. Nada contra conhecer novas pessoas, mas eu já tenho as pessoas que eu gosto por perto e estou feliz com elas. Se for só pra elas que eu vou escrever, continuarei fazendo isso sem problema.

Dessa conversa, surgiu uma sugestão: que eu virasse escritor de histórias juvenis. De acordo com esse editor, o comportamento das editoras em relação aos escritores de livros infanto-juvenis é completamente diferente. Elas não querem saber porra nenhuma de quem seja o fulano que escreveu As aventuras da tartaruguinha serelepe. Se a história for boa, eles publicam e pronto. Talvez porque os próprios leitores mirins sejam mais honestos. Afinal, os leitores adultos também regulam a leitura de acordo com a fama do escritor, ou da escritora. Se o sujeito ganhou o Big Brother, lá vai um bando de imbecis ler um livro que ele escreveu.

Junto com a sugestão, o editor me deu um livro de uma escritora chamada Índigo, é o pseudônimo da Ana (esqueci o sobrenome). E me disse: escolha um tema, escreva um conto voltado pro público juvenil e me manda. Eu li o livro de contos da Índigo: Histórias da mexerica. Eu gostei da maioria dos contos. De outros nem tanto. Mas cheguei à conclusão de que não sirvo pra isso. Nada contra escrever pros adolescentes, ou pros "jovens leitores" (como gostam de dizer os velhos). O problema é que a minha motivação não é essa. Eu quero escrever as coisas que eu escrevo e do jeito que eu escrevo.

O advogado do diabo poderia me perguntar: o que você quer, porra? Você quer ser lido por mais gente sem cavar esse público? Você quer ser escritor sem se preocupar com as necessidades do mercado? Você pensa que está na Grécia Antiga? Vai procurar uma ágora e pára de encher o saco. Certo, mas eu não preciso procurar uma ágora. A minha ágora são vocês. E vou continuar escrevendo o que eu escrevo, do jeito que eu escrevo. Pelo menos por amizade, eu sei que os meus leitores não me abandonam. Sobre a sugestão do Tiago Vedovello de colocar partes do meu livro aqui: pensarei nessa idéia com carinho, meu irmão. Mas ainda não sei se quero fazer isso. Minha idéia pra esse blog é só falar das merdas que me derem na (pouca)telha e, de vez em quando (quando não me ocorrer nada), jogar um conto, ou uma crônica que eu escrevi.

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Porra, porque não escrever sobre as histórias equipanas ? Isso dariam bons contos ou relatos. Só do Xiletol, do Japonês e do Kabeção já daria espaço para qualquer editora: infantil, juvenil ou sênil publicar coisas interessantes.

Em tempo, apoio e reintero a idéia de colocar trechos de seu livro aqui nesse espaço. Seria democrático. Quem sabe não atrai algum editor ou interessado. Abs

5:51 PM  
Anonymous Anônimo said...

Por que não publicar seu livro pra nóis?
Ínteressante a idéia do Fábio: histórias equipanas - como inspiração, eu espero. Assim não corre o risco de ser proibido para menores.
E tem também o Poço do Visconde, a começar pelo nome.
Um beijo,
Miriam

10:54 PM  
Anonymous Anônimo said...

É isso aí Miriam ! Vamos começar uma revolução literária digital.
Saem os editores (ou censuradores), os papéis, as livrarias (nada contra) e entram as publicações nesse blog.

Se esses editores estão ficando cada vez mais comerciais e, com pedidos que desagradam nosso autor, vamos tirar essa barreira de sua (nossa frente). Tomaz, estamos esperando o primeiro capítulo !

Abs e bom feriado.

9:39 AM  

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