quinta-feira, setembro 28, 2006

Sociedade Binária

O escritor João Antônio falou em um de seus ótimos livros que não entendia como certos colegas conseguiam escrever direto na máquina de escrever. Ele achava isso impossível. Para ele, era fundamental escrever primeiro a mão e, só depois, passar para a máquina. Devo dizer, escrevendo diretamente nessa máquina computadorizada, que o João Antônio tem razão. O texto fica muito melhor se escrito primeiro no papel e depois passado a limpo. Primeiro, porque essa passagem garante uma eficiente revisão. Segundo, e isso serve para os dias de hoje, porque as facilidades do mundo informatizado acabaram por deixar a nossa escrita meio preguiçosa. Todas essas ferramentas de manipulação e correção automática, muitas vezes, fazem com que o texto não seja suficientemente trabalhado em suas entranhas.

Antes que alguém diga que eu sou retrógrado, eu quero dizer que adoro as facilidades do mundo informatizado. Aqui estou, me usufruindo dele. Não quero destruir as máquinas. Se bem que ontem eu despedacei um teclado e foi muito divertido. O que eu quero dizer é que as máquinas devem ser utilizadas como ferramentas que nos facilitem a vida, mas tem muita gente por aí que quer que elas nos substituam o cérebro. Sinto muito, mas elas não pensam por conta própria, a não ser quando recebem um vírus maluco e começam a abrir planilhas de Excel feito doidas, ou a disparar pra todos os seus contatos um e-mail que você escreveu em 1998 e armazenou não sei por quê.

As máquinas são cópias do funcionamento da mente humana, e não o contrário. Podem ser muito úteis e muito inúteis, dependendo do uso que fazemos dela. E, na minha humilde opinião, devem ser usadas com critério. Confesso que me assusta ver a formação de uma geração que está substituindo o pincel e a canetinha pelo mouse. Me assusta ver a quantidade de alunos da faculdade de jornalismo que entregam trabalhos copiados da Internet. O pior é que os imbecis não são capazes nem de avaliar o que estão copiando. É só no Ctrl+C Ctrl+V. Eu sei que os estudantes sempre copiaram trabalhos, mas antes o cara ainda tinha que ler o que estava copiando. Ele tinha o trabalho braçal de transcrever e, acho eu, tinha uma preocupação maior em disfarçar.

Agora a sociedade parece ter assumido de vez que não quer mais pensar. Quer sim, que alguém, ou alguma coisa, faça isso por ela. É, acho que tudo está perdido, e esse programa executou uma operação ilegal e será fechado. Se alguém precisar de mim, estou no meu quarto lendo um conto do João Antônio.

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

TÔ! Meu amigo TÔ!
Você tem toda a razão! Entramos num processo de escravidão perante a informática! Assim como fizemos com o tempo! Vamos ficando cada vez mais dependentes!
Agora fui... (tô sem tempo!)
abração e saudades, Butantã

10:18 PM  
Blogger Tomaz Gouvea said...

Pois é, eu também terminei o texto de forma abrupta por falta de tempo.

Abraço.

9:45 AM  
Anonymous Anônimo said...

Para a nossa falta de tempo, inventaram um negócio chamado agenda, eltrônica no mundo atual, mais uma máquina !! Saudade docêis.

11:29 AM  

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